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O que todo médico deve saber sobre hipertensão arterial sistêmica| Colunistas

O que todo médico deve saber sobre hipertensão arterial sistêmica| Colunistas

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Já é sabido que a H.A.S. (hipertensão arterial sistêmica) é muito prevalente entre a população brasileira e que saber o manejo de um paciente com essa comorbidade é algo que qualquer médico deve dominar.

Estágios da HAS

É considerada uma P.A. (pressão arterial) ótima e ideal, 120 x 80 mmHg, lembrando que sempre o primeiro número representa a pressão arterial sistólica, e o segundo número, a diastólica.

Uma P.A. vista como normal gira em torno de 130 x 85 mmHg. Uma limítrofe, tem o limite de 140 x 90 mmHg.

A partir do estágio 1 já é considerado hipertenso um paciente que oscila entre 140–159 x 90–99 mmHg, se não houverem comorbidades agravantes, que veremos melhor adiante.

É considerado hipertenso estágio 2 o paciente em que a P.A. varia entre 160-179 x 100-109 mmHg, e aquele em que a P.A. é igual ou acima de 180 x 110 mmHg é considerado estágio 3.

Diagnóstico

O mais importante a ser ressaltado é que somente uma medição da pressão arterial não é suficiente para se diagnosticar hipertensão arterial sistêmica. Sempre é recomendado medir 2 vezes ao dia, por 7 dias, no mesmo horário, e os valores devem ser registrados.

Fisiopatologia

O consumo excessivo de sódio gera retenção de água no corpo, produzindo o famoso inchaço e também diminui a taxa de filtração glomerular nos rins. Com o acúmulo de líquido, o volume plasmático alto faz com que haja tendência de retorno venoso e obriga o coração a aumentar sua frequência e força de contração, aumentando consequentemente o débito cardíaco que tem relação direta com a pressão arterial, já que P.A. é igual a débito cardíaco versus resistência periférica. Com o tempo, se a hipertensão arterial não for tratada, até mesmo a resistência periférica se altera, aumentando e provavelmente não diminuindo mais, graças à grande quantidade de sangue que chega aos tecidos, fazendo-os liberar vasoconstritores.

Queixas comuns

O inchaço é uma queixa comum devido ao acúmulo de sódio que produz retenção de líquidos. A cefaleia e a redução de urina também são fatores encontrados nos suspeitos de H.A.S.

Recomendações ao paciente com H.A.S. ou propenso a adquiri-la

Primeiramente devemos saber sobre o histórico familiar e o grau de informação do paciente sobre a doença em questão, pois ele já terá noções básicas de autocuidado se alguém da família já conviver com a hipertensão.

A recomendação mais importante é a redução de sódio na alimentação do paciente, sugerindo um nível de 6 (seis) gramas de sódio por dia. Alguns pacientes interpretam essa medida como 3 (três) pitadas do saleiro.

A fim de manter o IMC (índice de massa corporal) desse paciente entre 18,5 e 24,9, que são considerados números ideais, devemos recomendar a prática de atividade física e a mudança para uma alimentação mais saudável visando melhoras nos índices da P.A.

Moderar ou cessar o consumo de álcool e tabagismo também são prioridades, pois são fatores agravantes da H.A.S.

Escolhendo o primeiro tratamento para a hipertensão arterial sistêmica

As classes de primeira linha para o tratamento da H.A.S. são os diuréticos, inibidores da enzima conversora de angiotensina I, bloqueadores dos receptores de angiotensina II e bloqueadores dos canais de cálcio.

Anteriormente, os beta bloqueadores eram tidos como primeira opção também para o controle da hipertensão arterial, porém com estudos comparativos, os beta bloqueadores hoje são vistos como vantajosos quando o paciente é cardiopata.

Geralmente os diuréticos usados são hidroclorotiazida ou clortalidona, com a segunda opção sendo apontada em estudos recentes como mais eficaz pela maior meia vida e mais potente efeito. Os diuréticos interrompem a passagem do sódio no lúmen do túbulo renal, e essa parada atrai água, fazendo o paciente desinchar e aumentar sua diurese. O efeito colateral mais comum é a hiponatremia.

Os conhecidos como IECA, que são inibidores da enzima conversora de angiotensina mais usados são enalapril, benazepril e captopril, que impedem a enzima conversora de angiotensina de converter a angiotensina I em angiotensina II, e essa angiotensina I que fica livre acaba se transformando em angiotensina 1–7, que é um vasodilatador e, portanto, acontece uma maior abertura dos vasos, descomprimindo a pressão alta e aliviando a hipertensão arterial sistêmica. Efeitos colaterais mais comuns são tosse e angioedema idiopático.

Os bloqueadores dos receptores de angiotensina II, como losartana, atuam diminuindo a liberação de renina no sistema angiotensina, não permitindo que o angiotensinogênico se transforme em angiotensina I e diminuindo a força de contração e frequência cardíacas. Efeitos colaterais mais comuns são tosse e edema episódico.

Os bloqueadores de canal de cálcio usados para hipertensão são anlodipino e nifedipino, que agem causando vasodilatação e assim diminuem a resistência periférica, agindo diretamente proporcionalmente no valor da P.A. pela fórmula anteriormente mencionada. Efeito colateral mais comum é o edema, porém, administrado juntamente a um inibidor da enzima conversora de angiotensina I, a chance desse é reduzida. Também pode haver edema pulmonar.

Os beta bloqueadores como propanolol e atenolol devem ser usados somente para pacientes em recuperação de cirurgias cardíacas ou alto risco cardíaco.

Dupla Terapia

A dupla é indicada em todos os casos, exceto jovens sem comorbidades prévias, idosos e hipertensos pertencentes ao estágio 1. Por exemplo, anlodipino (bloqueador de canal de cálcio) juntamente com benazepril (inibidor da enzima conversora de angiotensina I) é visto como uma ótima dupla terapia.


O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


Referências

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Malachias, MVB et al. 7° diretriz Brasileira de hipertensão arterial: cap. 7 – tratamento medicamentoso. Arq. Bras. Cardiol., SP, v. 107, n.3, supl. 3, p. 35-43, sept. 2016.

Rang, H.P., Dalle,M., Ritter, J.M. Farmacologia, 8° edição, Elsevier, 2016.

WHALEN, K.; FINKEL,R.; PANAVELIL, T.A.  Farmacologia ilustrada. 6° edição. Porto Alegre, RS: Artmed, 2016.