Ciclo Clínico

Pitiríase versicolor: estratégias para o diagnóstico e tratamento | Colunistas

Pitiríase versicolor: estratégias para o diagnóstico e tratamento | Colunistas

Compartilhar
Imagem de perfil de Comunidade Sanar

Definição

A pitiríase versicolor (PV), também conhecida como pano branco, tínea flava ou tínea versicolor, trata-se de uma infecção fúngica superficial causada por um fungo lipofílico e dimórfico da flora normal da pele, nomeado Malassezia furfur. É uma afecção clínica comum, que costuma se apresentar como máculas hipopigmentadas, hiperpigmentadas ou eritematosas no tronco e extremidades superiores proximais, principalmente.

Epidemiologia

Embora tenha distribuição universal, é muito mais prevalente nos trópicos. Afeta principalmente adolescentes e jovens adultos, em virtude da maior atividade das glândulas sebáceas nessa faixa etária. Contudo, pode ocorrer em crianças, com a particularidade de que nessa fase as lesões em face são as mais comuns.

Não possui caráter contagioso e afeta igualmente ambos os sexos.

Patogênese e fatores de risco

            Alguns fatores predispõem à tínea versicolor, podendo ser classificados em fatores endógenos e exógenos.

Os fatores exógenos incluem:

  • Clima quente e úmido (o que ajuda a explicar a maior prevalência da doença nos trópicos);
  • Roupas e cosméticos oclusivos.

Como fatores endógenos, podemos citar:

  • Hiperidrose;
  • Desnutrição;
  • Uso de terapia contraceptiva oral;
  • Imunossupressão induzida por corticoesteroides.

É importante salientar que a manifestação clínica da pitiríase versicolor não está relacionada a falta de higiene.

Nessa patologia, a hipopigmentação das lesões é explicada pela produção de ácidos dicarboxílicos pelo fungo, com destaque ao ácido azelaico, que age inibindo competitivamente a tirosinase e possui efeito tóxico direto sobre os melanócitos. A patogênese da hiperpigmentação, por sua vez, não é completamente entendida.

Quadro Clínico

            O termo “versicolor” refere-se às diferentes possibilidades de alteração da pigmentação cutânea que ocorrem nessa doença.

 As lesões podem ser hiperpigmentadas, hipopigmentadas ou eritematosas, variando entre indivíduos com tons de pele similares e, inclusive, entre diferentes áreas do corpo do mesmo paciente.

Em adolescentes e adultos, distribuem-se preferencialmente no tronco e extremidades superiores proximais, sendo menos comuns na face e regiões intertriginosas. Em crianças, são mais comuns na face.

A maioria dos pacientes é assintomática, porém parte deles relata prurido. O prejuízo estético das lesões costuma ser a maior queixa relacionada à pitiríase versicolor dentro dos consultórios.

Diagnóstico

            O diagnóstico da tínea versicolor tem um forte componente clínico e deve surgir como suspeita diagnóstica sempre que houver um paciente com máculas coalescentes hipo ou hiperpigmentadas, em região de tronco, pescoço, abdome, face e extremidades proximais, podendo ser pruriginosas ou não.

            Nesse contexto, o sinal de Zileri positivo (a presença de descamação fina na superfície das lesões após distensão da pele) ou de Besnier (descamação fina após o raspar da lesão com as unhas) reforçam a suspeita diagnóstica. 

            De toda a forma, devido à considerável quantidade de entidades nosológicas que fazem diagnóstico diferencial com a pitiríase versicolor, é interessante que haja confirmação diagnóstica através do exame micológico com hidróxido de potássio (considerado positivo se houver o encontro de esporos e pseudo-hifas após a clarificação das escamas) ou pelo uso da lâmpada de Wood.

            São alguns dos quadros que fazem diagnóstico diferencial com a tínea versicolor: vitiligo, pitiríase rósea, sífilis secundária, dermatite seborreica e pitiríase alba. Esses diagnósticos devem ser considerados principalmente diante da má resposta ao tratamento clínico.

Tratamento

            Apesar de haver relatos de remissão espontânea, a doença pode persistir se não tratada. O tratamento pode ser feito através de agentes tópicos ou sistêmicos.

A terapia tópica é o tratamento de escolha na maioria das vezes, ficando o tratamento sistêmico reservado aos pacientes com lesões que acometem grandes áreas, doença recidivante ou falha no tratamento tópico. É importante salientar que a persistência da despigmentação não é um bom indicativo de falha do tratamento tópico.

Agentes tópicos

            O tratamento feito com sulfeto de selênio 2,5% na forma de xampu por 1 a 2 semanas,aplicado 1x ao dia, apresenta bons resultados. Assim como o uso de “azóis” tópicos, com destaque ao cetoconazol creme – o mais estudado entre eles. Cetoconazol a 2% deve ser aplicado 1x ao dia, diariamente, por duas semanas.

O uso de terbinafina tópica a 1% também se mostrou efetivo em pequenos ensaios clínicos randomizados.  

Agentes sistêmicos

Para o tratamento sistêmico da PV, lança-se mão dos “azóis” orais, como fluconazol, com dose recomendada de 150 mg/semana por 3 semanas, ou itraconazol.

Diferentemente da terbinafina tópica, a terbinafina oral não é efetiva para o tratamento, assim como a griseofulvina.

Após o tratamento, a área despigmentada pode persistir como uma mácula hipocrômica residual por meses ou anos e a recidiva da doença é frequente, sendo igual a 60% no primeiro ano após o tratamento e 80% no segundo.

Prevenção

Pacientes que sofrem com a reaparecimento frequente da doença, em especial os pacientes imunossupressos, podem se beneficiar do uso de terapia profilática oral ou tópica, principalmente durante as estações mais quentes.

Para esse fim, lança-se mão da profilaxia tópica com sulfeto de selênio 2,5% ou cetoconazol 2% na forma de xampu, aplicados no corpo inteiro por cerca de 10 minutos, uma vez ao mês.

Se essa terapia não for efetiva, uma opção viável é o uso de 400 mg de itraconazol VO, dividido em duas doses, 1x ao mês.

Referências:

  • GOLDESTEIN, Beth G. Tinea versicolor (pityriasis versicolor). UpToDate. 2020. Disponível em: . Acesso em: 4/12/2020.
  • OLIVEIRA, Josenildo Rodrigues de; MAZOCCO, Viviane Tom; STEINER, Denise. Pityriasis versicolor. Anais brasileiros de dermatologia, v. 77, n. 5, p. 611-618, 2002.
  • MIRANDA, Luciana Gadelha do A. et al. Pitiríase Versicolor: abordagem clínica e laboratorial. Revista de Patologia Tropical/Journal of Tropical Pathology, v. 33, n. 3, p. 265-276, 2004.

O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.