Índice
O Linfoma de Hodgkin é uma doença neoplásica linfoide na qual as células de Hodgkin/Reed-Sternberg são encontradas em meio a uma população de células inflamatórias não-neoplásicas. O Linfoma de Hodgkin soma 7% dos cânceres pediátricos, é raro em crianças mais novas, mas é a neoplasia mais comum no grupo dos 15 aos 19 anos. Em adultos, contribui para 0,2% dos diagnósticos de câncer. O seu tratamento envolve, principalmente, quimioterapia e radioterapia para pacientes selecionados.
O protocolo quimioterápico ABVD é uma escolha de primeira linha de tratamento para o Linfoma de Hodking. O protocolo quimioterápico é composto por quatro drogas: Doxorrubicina, Bleomicina, Vimblastina e Dacarbazina.
Apesar do tratamento quimioterápico ser de prerrogativa de prescrição de hematologistas e oncologistas, você pode se deparar, na sua prática diária, com pacientes que estejam recebendo protocolo quimioterápico. Por isso, é muito importante conhecer esses fármacos e os efeitos adversos mais comuns, e também poder avaliar o uso de outros remédios e terapias concomitantes a esses protocolos na sua vida e condutas médicas. As indicações, doses e tomadas de decisão do uso do Protocolo ABVD não serão discutidas nesse artigo.

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Te_bao_RS.jpg
O Protocolo ABVD
O protocolo é composto pelo uso de quatro drogas diferentes: Doxorrubicina (também conhecida como Adriamicina, que empresta o seu A ao nome do protocolo), Bleomicina, Vimblastina e Dacarbazina.
Cada ciclo dura 28 dias, sendo as infusões de drogas divididas em dois blocos de 1 dia cada, que acontecem no dia 1 e dia 15. A quantidade de ciclos é variável a partir da classificação da doença em cada paciente, mas, usualmente, de 2 a 6 ciclos. Os ciclos são passíveis de infusão ambulatorial, não sendo necessária, usualmente, a internação hospitalar para administração.
Na tabela abaixo podemos ver mais dados sobre as medicações utilizadas.
Medicação | Classe | Precauções / Observações |
Doxorrubicina | Antraciclina | Conhecida como a “quimio vermelha” |
Bleomicina | Antibiótico antitumoral | Medicação vesicante |
Vimblastina | Alcalóide da Vinca | Medicação vesicante. Uso exclusivo IV, administração por outras vias pode ser fatal |
Dacarbazina | Triazeno | Muito sensível à luz – o composto gerado por exposição a luz causa dor na infusão. |

Fonte: https://hlai.blog/2014/03/06/abvd-chemotherapy-march-2014/
Efeitos Adversos
Os médicos prescritores de quimioterapia acompanham seus pacientes de perto, principalmente durante os ciclos de quimioterapia. Porém, devido às proporções do Brasil e às distâncias entre os centros de tratamento e as suas casas, por muitas vezes, esses pacientes são atendidos em emergências e pronto-atendimentos que não são o seu centro de referência. Portanto, você precisa conhecer os efeitos adversos mais comuns a essas medicações.
- Comuns: mielossupressão (moderada), náuseas e vômitos, fadiga e constipação;
- Menos frequentes: rash, reação alérgica, parestesia, toxicidade pulmonar e toxicidade cardíaca.
Pelo seu efeito emetogênico considerável, recomenda-se o uso de ondansetrona por 3 dias, a contar do início de cada bloco.
Algumas noções são necessárias para o médico generalista e para os estudantes de medicina, pois provas de concurso costumam cobrar efeitos colaterais de algumas medicações, e, como os quimioterápicos são medicações amplamente estudadas e, principalmente, vigiadas e controladas, seus efeitos adversos são conhecidos, veja na tabela abaixo os principais efeitos adversos de cada droga.
Medicação | Efeito Adverso |
Doxorrubicina | Cardiotoxidade, coloração vermelha da urina |
Bleomicina | Toxicidade pulmonar (fibrose pulmonar), tremores, pigmentação da pele, alterações ungueais. |
Vimblastina | Neuropatia periférica, constipação, dor mandibular, íleo |
Dacarbazina | Fadiga, rubor facial, rash, síndrome flu-like, fotossensibilidade |
Condutas de educação são extremamente importantes e devem fazer parte da sua prática clínica: orientar os pacientes sobre como manejar os efeitos adversos é de extrema importância. Existem aplicativos que avaliam e ajudam nos efeitos colaterais dos quimioterápicos, como WeCancer e Tummy. Alguns informações e folhetos de orientação para os pacientes podem ser obtidos em sites como do Instituto Oncoguia e da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia – ABRALE.
Situação especial: a falta de Bleomicina no Brasil
Desde 2017, há um desabastecimento periódico de Bleomicina no Brasil, visto que o laboratório responsável pela importação notificou problemas na produção da medicação. Alguns centros optaram pela troca de protocolo, para outros protocolos de tratamento de Linfoma de Hodgking como (R)-CHOP, BEACOPP e Stanford V. Outros centros optaram por manutenção do protocolo como AVD, excluindo a bleomicina do tratamento, pois já existem estudos (que foram feitos para avaliar redução de toxicidade contra sobrevida) que mostram pouca diminuição de sobrevida quando há a supressão da bleomicina no tratamento, e também uma redução na toxicidade.
Conclusão
O Linfoma de Hodgkin é uma neoplasia linfoide com boa taxa de resposta ao tratamento quimioterápico e um dos protocolos mais utilizados mundialmente é o ABVD.
É importante conhecer as reações possíveis a esse protocolo e que elas existem; na dúvida é só voltar para essa página para conferir os dados novamente.
O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.
Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.
Referências:
Clinical presentation and diagnosis of classic Hodgkin lymphoma in adults. Waltham (MA): UpToDate, Inc.; 2020.
Overview of Hodgkin lymphoma in children and adolescents. Waltham (MA): UpToDate, Inc.; 2020.
Hernandez-Ilizaliturri, FJ. (2018, March 26). Hodgkin Lymphoma Treatment Protocols. Medscape.
Instituto Oncoguia – http://www.oncoguia.org.br/
ABRALE – www.abrale.org.br
BC Cancer Protocol Summary LYABVD – http://www.bccancer.bc.ca/