Radiologia e diagnóstico por imagem

Quando solicitar um exame de imagem em casos de lombalgia | Colunistas

Quando solicitar um exame de imagem em casos de lombalgia | Colunistas

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Imagem de perfil de Virgínia Costa Marques

Em razão da grande variedade de estruturas presentes na coluna – ossos, músculos, ligamentos, tendões, discos intervertebrais, muitas podem ser as causas das lombalgias: desde infecções sistêmicas que cursam com dor lombar, passando por esforços repetitivos e excesso de peso, até se chegar em traumas e neoplasias envolvendo essa região da coluna. Trata-se de um problema de saúde bastante comum, que envolve pessoas de várias idades em todo o mundo.

Devido à alta prevalência e ao alto custo para se lidar com o problema, seja com sua investigação ou com o tratamento, o American College of Physicians e a American Pain Society estabeleceram diretrizes que enfatizam um tratamento conservador para as lombalgias inespecíficas. Tal tratamento é baseado no exame físico do paciente e consiste em medicamentos para controle da dor inicial, caso seja necessário, e em fisioterapia, sem a necessidade de realização de exames de imagem.

Red flags

Isso porque, realizar exames de imagem em pacientes com dor lombar sem indicações específicas normalmente não leva à melhora dos resultados clínicos. Dessa forma, a recomendação é no sentido de que os exames sejam considerados apenas para os pacientes que não apresentaram sinais de melhora após seis semanas do tratamento conservador e para aqueles pacientes com as chamadas “red flags” (sinais de alerta). Assim, é de fundamental importância que o médico consiga identificar o paciente que precisa ser examinado com mais detalhamento por indicar se tratar de um status mais complicado de lombalgia ou radiculopatia.

Os mencionados sinais de alerta são: síndrome da cauda equina, história de câncer, fraturas e traumas cumulativos, déficit(s) neurológico(s) progressivo(s) ou grave(s), espondilite anquilosante, estenose espinhal  sintomática, infecção, perda de peso inexplicada, imunossupressão, diabetes mellitus, uso de drogas intravenosas, uso prolongado de corticoesteróides, idade maior do que 70 anos, cirurgia prévia.

Radiografias

As radiografias podem ser úteis como método inicial de avaliação das situações mencionadas anteriormente, com a ressalva de que algumas condições irão necessitar de outros exames iniciais, em especial quando houver suspeita de câncer ou de outras infecções.

Algumas concições que podem ser vistas principalmente nas incidências ântero-posterior, perfil e/ou oblíqua são: espondilolistese (deslizamento de uma vértebra sobre a outra quando ocorreu espondilólise), fraturas de compressão, degeneração e infecções de discos intervertebrais.

Ressonância Magnética 

A ressonância magnética, por sua vez, tem se tornado a modalidade de escolha na investigação de lombalgias complicadas, sendo o exame recomendado em casos de lombalgia persistente ao tratamento conservador ou caso haja algum sinal de alerta mencionado anteriormente.

Trata-se de um excelente exame que permite avaliar com um grande detalhamento a medula espinhal, os tecidos moles vizinhos e a presença de possíveis abscessos.

Demais, disso, a ressonância magnética deve ser feita com a utilização de contraste endovenoso quando houver suspeita de neoplasias epidurais ou intraespinhais. nos casos de infecção, imunossupressão e nos casos de avaliação pós operatória, uma vez que através dessa análise é possível diferenciar um disco de uma cicatriz. O uso do contraste, no entanto, depende das circunstâncias clínicas do paciente nos casos de síndrome da cauda equina.

Tomografia Computadorizada

Assim como a RM, a tomografia computadorizada é um excelente exame e que fornece detalhes ósseos superiores, sendo bastante útil para descrever problemas estruturais, tais como espondilólise, fraturas ósseas e escoliose. Contudo, a TC não se trata do exame adequado para identificar patologias extradurais dos tecidos moles, o que é papel da RM.

Diante de todo o exposto, não restam dúvidas de que a ressonância magnética é o melhor exame de imagem para ser realizado quando se pretende investigar lombalgias complicadas. Contudo, vale ressaltar que os exames de imagem da coluna lombo sacra não devem ser realizados rotineiramente e sem indicações evidenciadas, pelos motivos já mencionados anteriormente, ainda que sejam exames mais simples e mais acessíveis, como o raio X.

O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.


Referências bibliográficas

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