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Definição
É uma infecção caracterizada por inflamação aguda, edema e necrose do epitélio das pequenas vias aéreas, aumento da produção de muco e broncoespasmo, como consequência da obstrução inflamatória das pequenas vias aeríferas.
Epidemiologia e etiologia da BVA
O Vírus sincicial respiratório (VSR) é um dos principais agentes etiológicos das infecções que acometem o trato respiratório inferior em crianças menores de 2 anos, sendo responsável por até 75% das bronquiolites e 40% das pneumonias durante os períodos de sazonalidade, constituindo a causa mais frequente de internações hospitalares de lactentes, tendo como sinais iniciais febre, coriza e tosse.
É importante ressaltar que outros agentes causais da BVA também estão bem determinados, como vírus influenza, rinovírus, parainfluenza e adenovírus.
Essa patologia ocorre durante os primeiros 2 anos de idade, com maior incidência em bebês menores de 6 meses, sendo que, por volta dos 2 anos de idade, quase todas as crianças já foram infectadas por um dos agentes etiológicos da BVA, desenvolvendo ou não a enfermidade, sendo que as apresentações graves ocorrem em bebês de baixa idade, entre 1 e 3 meses de vida.
A incidência da BVA no 1º ano de vida situa-se por volta de 11%, caindo para a metade durante o 2º ano de vida. O pico de incidência ocorre entre 2 e 5 meses de idade. Nas crianças menores de 1 ano, o risco de hospitalização pela doença é de aproximadamente 2%.
Fisiopatologia
A resposta imunológica primária consiste de infiltração tecidual produzida pela migração de leucócitos polimorfonucleares e macrófagos depois da liberação de mediadores químicos procedentes das células epiteliais agredidas. Essas células liberam mais mediadores que alteram a permeabilidade endotelial, a camada epitelial e o transporte de íons, gerando inflamação com migração celular adicional e edema. O conteúdo luminal preenchido por secreções e detritos é, em parte, o mecanismo responsável pela obstrução das vias aeríferas, produzindo limitações ao fluxo de ar, assim como atelectasias e consequente desequilíbrio da relação ventilação-perfusão. A contração do músculo liso é outro mecanismo potencial da obstrução das vias aeríferas. Além disso, as anormalidades dos sistemas adrenérgico e colinérgico, comuns nas viroses respiratórias, e o sistema não-adrenérgico/não-colinérgico (Nanc) também podem induzir broncoconstrição devido ao dano epitelial.
Transmissão
Ocorre normalmente por contato direto ou próximo com secreções contaminadas, que podem envolver gotículas ou fômites. A infecção ocorre quando o material infectado atinge a membrana mucosa dos olhos, boca e nariz, ou pela inalação de gotículas derivadas de tosse ou espirro.
Observação: As infecções pelo VSR não conferem imunidade completa, sendo comuns as reinfecções durante a vida!
Quadro clínico
Inicia-se com um quadro leve de infecção de vias aéreas superiores, com coriza hialina e tosse, semelhante a um resfriado comum. Febre usualmente é baixa e nem sempre está presente. (Quando a BVA é causada por adenovírus, a febre tende a ser mais elevada).
Os sintomas evoluem em 1 a 2 dias, com surgimento de taquipneia, tiragem intercostal e sibilância.
Ao exame físico do paciente, pode-se observar:
- aumento da frequência respiratória e sinais de esforço respiratório (retrações esternais, intercostais e diafragmáticas, batimento de aletas nasais e gemidos expiratórios).
- A ausculta pode ser normal, apenas com fase expiratória prolongada, mas sibilos expiratórios e crepitações difusas geralmente estão presentes.
- Cianose e aumento do diâmetro AP podem estar presentes em casos mais graves.
ATENÇÃO AOS SINAIS RELACIONADOS À GRAVIDADE DO QUADRO:
- oximetria menor que 95% em repouso;
- frequência respiratória maior que 70 por minuto;
- radiografia de tórax com atelectasias;
- idade menor que 3 meses.
É válido ressaltar que as características do aparelho respiratório do lactente são determinantes no quadro clínico apresentado da BVA, uma vez que a superfície de troca gasosa nos pulmões ainda não está plenamente desenvolvida, e a resistência aérea é alta nos primeiros meses de vida, determinando uma frequência respiratória elevada. Além disso, os anticorpos adquiridos passivamente da mãe durante a vida intra-uterina, que protegem contra uma variedade de patógenos, caem bruscamente nos primeiros meses após o nascimento, expondo o bebê a diversas doenças. O pulmão da criança de baixa idade é relativamente mal adaptado a suportar agressões e desenvolve enfermidades mais facilmente
GRUPOS DE RISCO PARA DOENÇAS MAIS GRAVES: Lactentes com menos de seis meses de idade, principalmente prematuros, crianças com doença pulmonar crônica da prematuridade e cardiopatas.
Diagnóstico
Principalmente clínico, baseado nos sinais e sintomas da doença, não havendo indicação rotineira do uso de testes específicos de detecção viral.
Tratamento
Medidas gerais:
- A cabeceira do leito deve ser mantida preferencialmente elevada;
- Obstrução nasal e rinorréia, quando presentes, devem ser aliviadas com higiene e aspiração;
- As mãos devem ser cuidadosamente lavadas, antes e após o contato com o doente; Medidas de isolamento são obrigatoriamente requeridas;
- Evitar tabagismo passivo.
IMPORTANTE: Corticoesteroides não estão indicados na BVA moderada ou leve!
Indicações de internação:
- Comprometimento do estado geral – desidratação
- cianose
- episódios de apneia
- Indicações sociais: dificuldade de reavaliação
- idade menor que 6 semanas
- SO2< 92%
Autora: Julia Florenzano
Instagram: @juflorenzano // @juf.med
O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.
Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.
Referências:
- LEÃO, E. et al. Pediatria Ambulatorial. 5 ed. Belo Horizonte: Coopmed, 2013.
- NELSON. Tratado de Pediatria – Richard E. Behrman, Hal B. Jenson, Robert Kliegman. 18ª Edição. Elsevier. 2011.
- AMANTÉA; SILVA. bronquiolite viral aguda: um tema ainda controvertido. Jornal de Pediatria. Disponível em: http://www.jped.com.br/conteudo/98-74-S37/port.pdf