Medicina da Família e Comunidade

Febre Maculosa: definição, patogenia, quadro clínico e tratamento

Febre Maculosa: definição, patogenia, quadro clínico e tratamento

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Segundo os Descritores em Ciência da Saúde (DeSC), Febre Maculosa é uma doença febril aguda causada pela bactéria Rickettsia rickettsii. A transmissão ocorre, dentre outras espécies, pelo carrapato do gênero Amblyomma

Definição de febre maculosa

A doença é abrupta e apresenta cefaleia, calafrios e febre com duas a três semanas de duração. É normal o surgimento de exantema cutâneo nas extremidades e no tronco.

Segundo Focaccia (2015) o carrapato Amblyomma cajennense é o principal vetor de R. rickettsii no Panamá, Colômbia, Argentina e Brasil.

Fonte: FOCACCIA, Roberto (Ed.). Tratado de Infectologia: 5ª Edição Revista e Atualizada. 5. ed. São Paulo: Atheneu, 2015.

Patogenia

Conforme Focaccia (2015), são necessárias 10 horas desde o início do parasitismo até a inoculação da bactéria. Nesse período, as bactérias presentes na saliva do carrapato serão aquecidas pelo sangue absorvido pelo aracnídeo e, então, tornar-se-ão reativas e patogênicas. 

O que isso significa? Significa que as bactérias só serão transmitas após serem aquecidas por 10 horas. Mas cuidado! Não é obrigatório o indivíduo ficar 10 horas com o carrapato o parasitando, uma vez que se o aracnídeo já tiver se alimentado de outro animal, então, já se iniciou essa “contagem da reatividade bacteriana” e, portanto, a transmissão poderá ser mais rápida, de até 10 minutos.

Assim sendo, após a infecção, estima-se que o período de incubação seja de 2 a 14 dias, sendo a média 7 dias. Após a entrada da bactéria ela será disseminada por meio do sangue e linfa. A bactéria tem afinidade por células endoteliais e ali se multiplicam. 

Principais órgãos-alvo

Os principais órgãos-alvo são: pele, músculos esqueléticos, cérebro, pulmões, coração, rins, baço, fígado e segmentos trato gastrointestinais.

Focaccia (2015) demonstra que a insuficiência renal ocorre em casos mais severos da doença, secundário a hipovolemia, hipotensão e choque.

Além disso, a insuficiência renal provoca necrose tubular aguda, nefrite intersticial e mioglobinúria. 

Febre maculosa: quadro clínico

O quadro clínico é inespecífico e brando nos primeiros dias, porém, há uma rápida progressão para a forma grave e óbito no 6º ou 7º dia de evolução.  

Nos casos sintomáticos, a febre, em geral elevada e de início súbito, quase sempre é a manifestação clínica inicial. Durante o curso da doença, geralmente, logo em seu início, também surge a cefaleia intensa, a mialgia, a artralgia, a astenia, a inapetência, a dor abdominal, a náusea e vômito. 

O exantema aparece no terceiro dia da doença, sendo caracterizado como maculopapular não pruriginoso e de localização inicial em punho e tornozelo, seguindo para os braços e pernas.

Nos quadros clínicos mais graves, observam-se com frequência: insuficiência renal, insuficiência respiratória, manifestações neurológicas, hemorragias, icterícia, hipotensão e choque.

Fonte: FOCACCIA, Roberto (Ed.). Tratado de Infectologia: 5ª Edição Revista e Atualizada. 5. ed. São Paulo: Atheneu, 2015.

Exames indicados para o diagnóstico

Os exames laboratoriais mais indicados para o diagnóstico se dividem em específicos e inespecíficos. Os específicos são: reação de imunoflorescência indireta (RIF) – detectam presença de anticorpos contra bactéria -; imunohistoquímica – detecta a bactéria em amostra de tecidos -; PCR – detecta o material genético da bactéria-; isolamento da bactéria – feito a partir do sangue (coagulo) ou de fragmentos de tecidos ou órgãos. Já os inespecíficos são hemograma (avaliar anemia e plaquetopenia) e enzimas (CK, LDH, ALT/AST e BT). 

Na questão do diagnóstico diferencial, cerca de mais de 24 doenças podem apresentar sintomas semelhantes, dentre elas a Dengue Clássica e Leptospirose.

Tratamento para febre maculosa

“A introdução de tratamento específico, mesmo que empiricamente, é recomendada sempre que houver a suspeita de qualquer riquetsiose.

Comprovadamente, a introdução precoce do antimicrobiano específico, idealmente até o quito dia de evolução, é um dos fatores de maior impacto objetivando a redução da letalidade decorrente da doença.

Até o presente momento, as únicas drogas sabidamente eficazes para o tratamento específico das infecções causadas pela Rickettsia rickettsii são a doxiciclina e o cloranfenicol, sendo a primeira a droga de escolha” (FOCACCIA, 2015).

Dose dos fármacos: o que diz a literatura?

De acordo com o “Guia de Vigilância em Saúde”, publicado pelo Ministério da Saúde, a dose dos fármacos se divergem para adultos e crianças.

  • Adultos: Doxiciclina 100mg de 12 em 12 horas, por via oral ou endovenosa, por 3 dias após o término da febre.
  • Crianças (com peso inferior a 45kg): Doxiciclina 2,2 mg/kg de 12 em 12 horas, por via oral ou endovenosa, por 3 dias após o término da febre.

A segunda opção para ambos os casos é o Cloranfenicol. Conforme o Portal da Saúde, a partir da suspeita, deve-se iniciar o tratamento. Após o começo do tratamento, a Febre Maculosa tende a desaparecer em 24 a 72 horas, mesmo assim, deve-se continuar o tratamento por 7 dias. 

Autor: Edy Alyson Costa Ribeiro

Instagram: @e.alysonribeiro

O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.


REFERÊNCIAS 

FOCACCIA, Roberto (Ed.). Tratado de Infectologia: 5ª Edição Revista e Atualizada. 5. ed. São Paulo: Atheneu, 2015.

BRASIL. Portal da Saúde. Ministério da Saúde. Febre Maculosa Disponível em: < https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/f/febre-maculosa >. Acesso em: 02 nov. 2021.Brasil. Secretaria de Vigilância em Saúde. Coordenação-Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviços. Guia de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2016. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_vigilancia_saude_1ed_atual.pdf. Acesso em: 07 nov. 2021.