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É um fármaco da classe dos antidepressivos de ação dual introduzida inicialmente em 1996, é classificada como antidepressivo noradrenérgico e específico serotoninérgico (NaSSA ou antagonista de α2-adrenoreceptores), mas não é um inibidor de recaptação da serotonina.
Em baixas doses tem boa ação ansiolítica e sedativa, e em doses mais altas apresenta boa resposta antidepressiva e analgésica, principalmente no idoso.
É mais indicado no tratamento de episódios de depressão maior, porém também pode ser usado em casos de doença maníaco-depressiva bipolar, depressão reativa, depressão associada com ansiedade e melancolia.
Mecanismo de ação da mirtazapina
Tem um perfil farmacológico único e tem um modo de ação duplo, incluindo potente antagonismo de auto-receptores e heterorreceptores α2-adrenérgicos centrais e antagonismo dos receptores 5-hidroxitriptamina-2 (5-HT2) (responsável pela insônia e disfunção sexual) e 5-HT3 (responsável pela náusea) da serotonina. O antagonismo dos receptores α2-adrenérgicos leva ao bloqueio dos auto-receptores pré-sinápticos e, portanto, aumenta a liberação de norepinefrina, enquanto o bloqueio dos heterorreceptores nos neurônios serotonérgicos aumenta a liberação de serotonina. Com o bloqueio dos receptores 5-HT2 e 5-HT3, a liberação aumentada de serotonina resulta em um aumento líquido na neurotransmissão mediada por 5-HT1, que é considerada relacionada ao efeito antidepressivo da mirtazapina. Aumenta, portanto, a liberação de norepinefrina e transmissão serotonérgica mediada por 5-HT1A. Este duplo modo de ação pode ser responsável pelo rápido início de ação da mirtazapina.
Devido à farmacologia única da mirtazapina, acredita-se que os efeitos anti-histaminérgicos predominem em doses mais baixas (causando sonolência, sedação), enquanto a neurotransmissão noradrenérgica aumenta com o aumento das doses para neutralizar alguns dos efeitos anti-histaminérgicos.
Forma de uso da mirtazapina
Sua forma de apresentação é em comprimidos de 15mg, 30mg e 45mg. A dose diária eficaz geralmente varia entre 15 e 45mg; a dose inicial é de 15 ou 30 mg. A mirtazapina começa a exercer seu efeito, em geral, após 1 a 2 semanas de tratamento. O tratamento com uma dose adequada deve resultar em uma resposta positiva dentro de 2 a 4 semanas.
Com uma resposta insuficiente, a dose pode ser aumentada até a dose máxima. Se não houver resposta dentro das 2 a 4 semanas seguintes, então, o tratamento deve ser interrompido.
A mirtazapina apresenta meia-vida de eliminação de 20 a 40 horas e, portanto, é mais apropriado para administração única diária, preferencialmente em dose única na hora de deitar, porém também pode ser administrada em duas doses (uma pela manhã e outra à noite).
Os comprimidos devem ser administrados por via oral. O comprimido irá desintegrar-se rapidamente sobre a língua, podendo ser engolido sem água.
Como qualquer outro tratamento de episódio depressivo, os pacientes devem ser tratados durante o período suficiente de pelo menos 6 meses para assegurar que fiquem livres de sintomas e evitar recaídas.
Recomenda-se descontinuar gradativamente o tratamento com mirtazapina para evitar sintomas de abstinência.
Contraindicações
– Pacientes com hipersensibilidade à substância ativa ou a quaisquer dos excipientes.
– Em uso concomitante com inibidores da monoaminoxidase (IMAO).
– Paciente diabético: pode alterar o controle glicêmico.
– Pacientes com insuficiência renal e/ou hepática: pelo fato de reduzir a depuração da mirtazapina e consequentemente aumentar seus níveis plasmáticos.
Reações adversas e efeitos colaterais
Devido à atividade antagonista nos receptores histaminérgicos H1 da mirtazapina, esta pode provocar pelo menos um desses eventos adversos em aproximadamente 70% dos indivíduos que a utilizam. As reações adversas mais comuns são aumento de apetite e de peso, sonolência/sedação geralmente durante as primeiras semanas de tratamento (em geral, a diminuição da dose não reduz a sedação, pelo contrário, pode aumentar seu efeito sedativo e além disso, pode comprometer a eficácia antidepressiva), cefaleias, tonturas, sonolência, mal-estar, xerostamia, artralgia, inchaços, hipotensão e visão turva. Raramente podem ocorrer convulsões, edema, mania, tremores, depressão aguda da medula óssea, ginecomastia em homens, icterícia, e exantema. E muito raramente, podem ocorrer ideação e comportamento suicida.
Estes efeitos secundários podem resultar em um abandono precoce dos pacientes tratados com mirtazapina.
Interações farmacológicas da mirtazapina
– A mirtazapina não deve ser administrada concomitantemente com IMAOs ou dentro das duas semanas após a descontinuação do tratamento com um IMAO. Por outro lado, para os pacientes tratados com mirtazapina é suficiente aguardar cerca de duas semanas para que possam ser tratados com inibidores da MAO.
– Sua associação com substâncias serotoninérgicas (lítio, venlafaxina, linezolida, L-triptofanos, triptanos, tramadol etc), mesmo que por vezes usada como medida heróica no tratamento de depressão refratária e que apresente uma boa resposta, pode levar ao aparecimento da síndrome serotoninérgica ou também do “foguete da califórnia” (“California Rocket Fuel”), combinação de venlafaxina e mirtazapina com efeitos colaterais que nem todo jovem adulto suporta.
– A mirtazapina pode aumentar o efeito depressor do álcool sobre o SNC, portanto seu uso deve ser evitado durante o tratamento.
– A mirtazapina pode aumentar as propriedades sedativas dos benzodiazepínicos e outros sedativos (especialmente antipsicóticos, antagonistas H1 histamínicos, opióides).
- Área: Psiquiatria
- Autora: Izabella Padilha Fonseca de Carvalho
- Revisor: Vinicius Uler Lavorato
- Orientadora: Dra. Laír da Silva Gonçalves
- Liga: Liga Acadêmica de Psiquiatria do Distrito Federal – LIPSI/DF