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Resumo ressuscitação cardiopulmonar (RCP) | Ligas

Índice

Na década de 1960, a combinação de técnicas de ventilação com manobras de circulação artificiais permitiu a criação das manobras de reanimação cardiopulmonar (RCP).

Já em 1991, o Consenso Internacional Utstein II classificou a parada cardíaca como a “cessação da atividade mecânica do coração, confirmada pela ausência de pulso detectável, inconsciência e apneia, ritmo ou respiração agônicas (gasping). Dessa forma, a parada cardíaca é uma síndrome clínica que envolve a perda súbita do pulso, seguida por rápida interrupção da respiração espontânea e consequente perda de consciência.

Nesse contexto, existe a cadeia de sobrevivência, a qual possui cinco elos, com o intuito de simbolizar que cada uma das etapas depende do sucesso de sua antecessora e de sua sucessora. Atualmente, há a representação de duas cadeias de sobrevivência, uma que representa o atendimento pré-hospitalar e outra que representa o atendimento hospitalar.

No atendimento pré-hospitalar

  1. Reconhecimento e acionamento do serviço médico de emergência
  2. RCP imediata e de alta qualidade
  3. Rápida desfibrilação
  4. Serviços médicos básicos e avançados
  5. Suporte avançado de vida e cuidados pós-RCP.

A parada cardiorrespiratória (PCR) se apresenta, basicamente, de três formas:

  1. Fibrilação ventricular/ Taquicardia ventricular sem pulso
  2. Atividade elétrica sem pulso
  3. Assistolia

Epidemiologia

Segundo o DATASUS, as doenças do aparelho circulatório são responsáveis por 32% dos óbitos no Brasil, e a doença isquêmica coronariana responde por aproximadamente 80% dos casos de morte súbita. Nessa vertente, presume-se que, a cada minuto, uma pessoa morra vítima de morte súbita e, destas, aproximadamente, 20% não apresentam qualquer tipo de sintoma antes da ocorrência do evento.

Além disso, indivíduos adultos apresentam PCR de origem cardíaca em 80% a 90% dos casos, e o ritmo predominante é a fibrilação ventricular/taquicardia ventricular sem pulso.

Ainda, em menores de 10 anos, com frequência, ocorre deterioração progressiva das funções respiratórias e/ou circulatórias, que origina quadros de PCR em atividade elétrica sem pulso e assistolia. Isso justifica a baixa sobrevida das crianças pós-PCR com estes dois ritmos, além de eventuais sequelas neurológicas graves.

Diretrizes de atendimento da PCR

Estabelecidas pelo International Liaison Comittee on Resuscitation, sendo mundialmente reconhecidas pelo mnemônico CAB.

CAB básico

O CAB representa, na ordem, a realização de compressões torácicas, abordagem da via aérea e desfibrilação.

Confirmação da PCR: tocar, com firmeza, os ombros da vítima e perguntar se está tudo bem. Quando não há nenhum tipo de resposta, presume-se que a vítima se encontra inconsciente, cabendo ao socorrista solicitar ajuda. Também cabe ao socorrista a rápida verificação da presença ou ausência de respiração.

Solicitação de ajuda: pedir ajuda imediatamente, solicitando por um desfibrilador automático. É fundamental manter a calma e fornecer ao atendente todos os dados solicitados, desligando o telefone apenas após a liberação do atendente. Em casos em que o socorrista se encontra sozinho e sem telefone celular, deve-se deixar a vítima momentaneamente para solicitar ajuda. Quando mais pessoas se encontram presentes, deve-se iniciar, imediatamente, o atendimento enquanto um dos demais presentes chama o serviço de atendimento de urgência.

Posicionamento da vítima e do socorrista: para maximizar o desemprenho na massagem cardíaca, a vítima deve ser mantida em decúbito dorsal horizontal sobre uma superfície rígida. O socorrista deve ficar ajoelhado na altura dos ombros da vítima, pois essa posição permite acesso fácil ao tórax da vítima.

Verificação do pulso: para profissionais da saúde, é obrigatório a verificação da presença ou não de pulso. Para leigos, esse procedimento é desestimulado por conta de dificuldades de ordem técnica, que acarretam perda de tempo no atendimento.

O pulso a ser checado deve sempre ser central e, por convenção, o carotídeo é o escolhido. A duração dessa checagem não deve exceder dez segundos. A pulsação deverá ser checada a cada 2 minutos.

Na ausência de pulsação, a massagem cardíaca deve ser imediatamente iniciada.

Abertura das vias aéreas: realiza-se uma manobra de inclinação da cabeça e elevação do mento ou manobra de tração da mandíbula.

Essas manobras são necessárias, pois, quando a vítima se encontra inconsciente, a musculatura da base da língua relaxa, provocando uma obstrução imediata da via área.

Ao abrir a via aérea, deve-se verificar rapidamente a presença de corpo estranho e proceder à manobra de olhar, sentir e ver a respiração. Deve-se atentar a importância da estabilização da coluna vertebral durante a realização destas manobras.

Estabilização da coluna vertebral: etapa que exige atenção especial a fim de evitar uma lesão da coluna cervical. O movimento excessivo pode causar ou agravar eventuais lesões neurológicas por compressão óssea na presença de coluna fraturada. Deve-se manter uma posição neutra durante a abertura da via aérea e a realização das ventilações boca a boca.

Boca a boca: indicações restritas de realização. Se não houver respiração espontânea, o socorrista deverá realizar duas respirações de resgate. Pode-se utilizar técnicas de boca a boca, boca nariz ou máscaras próprias.

Devem ser feitas duas ventilações durante 2 a 4 segundos, permitindo a expiração. As ventilações devem ser feitas de forma lenta, a fim de evitar distensão gástrica e eventual aspiração de conteúdo gástrico.

Compressões torácicas: para os profissionais de saúde, recomenda-se localizar o gradeado costal e, a seguir, o apêndice xifoide, colocando dois dedos acima deste e o calcanhar de uma das mãos acima dos dedos, na linha do esterno.

O socorrista deve manter os braços estendidos e os ombros alinhados com o esterno da vítima. Devem ser feitas compressões torácicas rápidas e intensas, que deprimam o tórax entre 5 e 6 cm e permitam seu retorno à posição normal, sem que as mãos sejam retiradas do tórax.

A proporção a ser mantida entre massagem cardíaca e as ventilações é de 30/2, realizando de 100 a 120 compressões por minuto.

Aos leigos, orienta-se colocar as mãos sobre o peito, entre os mamilos, para realizar as compressões.

Desfibrilação automática: é o uso terapêutico de uma corrente elétrica administrada em grande intensidade e por um período muito breve. O desfibrilador externo automático (DEA) interpreta o ritmo cardíaco e informa o socorrista sobre a necessidade ou não do uso de choques. É um aparelho desenvolvido para que qualquer pessoa posso utilizá-lo durante uma situação de PCR, pois não necessita de interpretação do traçado eletrocardiográfico para decidir se é ou não necessário o uso terapêutico da corrente elétrica.

O choque despolariza temporariamente o coração, que pulsa de forma irregular em caso de fibrilação ventricular e taquicardia ventricular sem pulso, fazendo que a atividade de contração cardíaca volte a funcionar de forma normal e ordenada.

Em geral, o DEA tem dois botões, (um liga o aparelho e o outro libera o choque), um único encaixe para a colocação das pás adesivas e um gravador que orienta cada um dos passos a serem realizados.

A vítima não deve ser tocada durante a interpretação do ritmo cardíaco e a liberação dos choques.

Quando não há recomendação para liberação do choque, como nos casos de atividade elétrica sem pulso e assistolia, o aparelho emite um aviso.

Trabalhos clínicos indicam que a utilização de DEA nos primeiros 3 a 4 minutos após o evento da PCR permite a reversão em até 70% dos casos.

Recomenda-se que uma vítima que não tenha sido atendida imediatamente receba compressões cardíacas e ventilações por 2 minutos, antes de proceder-se ao choque com o DEA. Após a liberação do choque, deve-se manter as manobras de RCP por 2 minutos, quando o aparelho reavaliará se outro choque é ou não necessário, até que o serviço especializado chegue.

Caso a vítima volte a apresentar pulsações, o suporte ventilatório deverá ser mantido até a chegada da equipe de resgate; caso respire e apresente sinais de circulação, deverá permanecer em posição de recuperação.

Posição de recuperação: manter a vítima inconsciente em decúbito lateral permite que ela não apresente nova obstrução das vias aéreas ou aspire conteúdo gástrico ou muco.

É importante proteger a coluna ao girar o paciente. Em caso de suspeita de lesão de coluna, não mobilize a vítima.

Autores, revisores e orientadores

Autores: Higor Cezar Xavier Dias

Revisor(a): Giovana Santin Zufelato

Orientador(a): Rodrigo Dias

Liga: Liga do Trauma da Faculdade São Leopoldo Mandic Araras – LTSLMA

Instagram: @ligadotrauma.slma

Sugestão de leitura complementar

O texto acima é de total responsabilidade do(s) autor(es) e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


Referências:

Euclid, M.M.D.A.C.F.J.A.V.A.F. C. Clínica Médica, Volume 2: Doenças Cardiovasculares, Doenças Respiratórias, Emergências e Terapia Intensiva. Editora Manole, 2016. 9788520447727. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788520447727/.

TODAS AS IMAGENS FORAM RETIRADAS DE:

Euclid, M.M.D.A.C.F.J.A.V.A.F. C. Clínica Médica, Volume 2: Doenças Cardiovasculares, Doenças Respiratórias, Emergências e Terapia Intensiva. Editora Manole, 2016. 9788520447727. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788520447727/.

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