Carreira em Medicina

Plástica é só estética? | Ligas

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O que vem à sua cabeça quando pensa em “cirurgiões plásticos”?

Certamente a maioria das pessoas imaginam um grupo de médicos engomadinhos, de nariz empinado e rosto sem rugas, tirando aquela onda de celebridade no estilo Dr. Rey. Para muitos, a cirurgia plástica se resume em deixar as pessoas bonitas e simétricas, como se o cirurgião fosse um delicado e sensível escultor. Pensa em quantas vezes você se viu analisando o “antes e depois” de um procedimento estético – seja sua tia que fez lipoaspiração, aquela celebridade que se encheu de botox, sua avó que operou as pálpebras, sua amiga que colocou silicone ou até mesmo aquele primo que falou que ia fazer um desvio de septo e voltou com o nariz totalmente diferente. Parece que a rotina desses cirurgiões é só essa incessante busca pela beleza.

Bem, mas como o título desse texto o atraiu, sugiro que esteja preparado para desconstruir (ou melhor, reconstruir) essa imagem da sua mente. Duvida? Então vamos por partes:

HÁ ALGO FORA DA ESTÉTICA?

Historica e cronologicamente, a Cirurgia Plástica antecede em muito a Cirurgia Geral. Parece impossível de se imaginar, visto que atualmente a Cirurgia Geral é um pré-requisito para a formação do cirurgião plástico. Mas acontece que o desenvolvimento desta especialidade se dá desde a Antiguidade, em que já se executavam reconstruções nasais (Índia e Itália) e se corrigiam deformidades traumáticas de diferentes origens. Então tenha em mente que a ideia da cirurgia plástica é reconstruir algo, seja funcionalmente, seja esteticamente. Dessa forma, desde o século XIX, havia o desenvolvimento das duas grandes vertentes da Plástica: a cirurgia Reconstrutora/Reparadora e a cirurgia Estética.

Agora quero que você pense na primeira coisa que vem à mente quando falo em: Microcirurgia, cirurgia de mão e cirurgia crânio-maxilo-facial. Pensou? Algo como neurocirurgiões, ortopedistas e dentistas talvez, né? Na verdade, essas são as 3 grandes áreas de especialização da Cirurgia Plástica – ou seja, após os 6 anos de Medicina, 3 anos de Cirurgia Geral e 3 anos de Cirurgia Plástica, o médico pode optar por passar mais 1 ou 2 anos de residência em uma dessas áreas.

Porém, não sejamos hipócritas, o cirurgião plástico realiza sim “lipos”, implantes de silicone, rinoplastias e outras áreas cirúrgico-estéticas. No entanto, vale salientar que essa é a menor porcentagem de atuação na plástica, sendo que a maior é a cirurgia plástica reparadora ou reconstrutora. Mas o que é a cirurgia plástica reparadora?

CIRURGIA REPARADORA OU RECONSTRUTORA

Segundo o Ministério da Saúde (MS), esta área tem por finalidade “corrigir deformidades congênitas e/ou adquiridas (traumas, alterações do desenvolvimento, pós cirurgia oncológica, acidentes e outros) …” “sendo considerada tão necessária como qualquer outra intervenção cirúrgica”. Interessante conceito! Mas, resumindo, a cirurgia plástica reconstrutora tem a função de reaver a estética, função e qualidade de vida do indivíduo.

Nesse sentido, um dos principais traumas em que se exigem cirurgia reconstrutora são as queimaduras. O tratamento para pacientes queimados pode vir a partir do uso de antibióticos ou até, se necessário, a aplicação de enxertos de pele por um cirurgião plástico.

Essa área cirúrgica ainda tem a função de resolver muitos problemas congênitos que deformam os indivíduos e atrapalham seu desenvolvimento, como a fissura labiopalatina. Tal deformidade consiste na descontinuidade entre o lábio e o palato e tem como tratamento a multidisciplinaridade entre o cirurgião, o dentista e o fonoaudiólogo para uma melhora no desenvolvimento, na estética e no futuro bem-estar do paciente (figura 1). Além disso, dentre outras utilidades, essas técnicas cirúrgicas podem ser utilizadas para excisão de alguns tumores cutâneos e para restaurar a mobilidade de membros que tinham sua função limitada por conta de cicatrizes.

Figura 1 – Fissura labiopalatina antes, durante e após o procedimento cirúrgico reparador.

Por fim, algo que não se deve faltar ao citarmos de cirurgia plástica reconstrutora é a microcirurgia. Essa técnica necessita que o cirurgião utilize um microscópio binocular cirúrgico para tratar de estruturas delicadas, como vasos e nervos. Ela é muito utilizada em mamoplastias reconstrutoras, reconstruções de mandíbula e de outras estruturas após grandes ressecções oncológicas. Portanto, podemos perceber que a cirurgia plástica reconstrutora não se limita e contribui para diversos outros horizontes da medicina, sendo uma ciência que a cada dia se reinventa e traz melhores benefícios aos necessitados.

O PAPEL DA CIRURGIA PLÁSTICA NA AUTOESTIMA.

Caro leitor, ao chegar até aqui, conseguimos, provavelmente, te convencer de que não é só estética! Porém, só comentamos sobre procedimentos reparadores e reconstruções. Então, uma dúvida paira no ar, há algo a mais nos procedimentos funcionais e estéticos da plástica?

Sim! A Autoestima! A tão sonhada aceitação social e pessoal!

O fato é que buscamos uma auto aceitação a partir da inclusão ao meio em que vivemos. Acredito que, devido a vivermos em uma sociedade de consumo que impõe diversos padrões, ao nos encontrarmos inseridos no estilo de vida, moda ou padrão de beleza, conseguimos nos sentir mais seguros. E essa segurança e autossatisfação promovem um bem-estar que auxilia no nosso equilíbrio geral, afastando-nos de problemas relacionados à saúde mental, como a depressão e a fobia social.

Portanto, podemos observar o quão amplo é a capacidade do cirurgião plástico que, a partir de rebuscadas técnicas operatórias e amplos conceitos cirúrgico-estéticos, pode reaver assim a funcionalidade, beleza, vitalidade e alegria de um indivíduo. Dessa forma, espero que você, caro leitor, tenha concordado de que não é só estética!