Ginecologia

Síndrome Alcoólica Fetal | Colunistas

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A ingestão alcoólica durante a gravidez pode provocar abortamentos espontâneos, natimortalidades e distúrbios no feto que são conhecidos como Transtornos do espectro do álcool fetal (TEAF), visto que o álcool age como teratógeno podendo afetar todos os órgãos do feto em formação, principalmente o sistema nervoso central. Dentre os transtornos decorrentes da exposição de álcool na gestação, tem-se a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) que se caracteriza pela tríade microcefalia, dismorfias faciais e déficit neurocognitivo,

Os primeiros estudos sobre a interação do álcool e a gestação são datados a partir de 1968. Em que foi realizado uma pesquisa com 127 casos de filhos de pais alcoólatras e que apresentavam malformações e características distintas. Os achados demostraram a dependência da alcoolemia materna e dos seus metabólitos, agindo nos seus períodos críticos de desenvolvimento, entre a terceira e oitava semana, podendo ter casos de abortos espontâneos.

 A SAF ainda não é tão discutida no Brasil, o que afeta a prevalência e incidência real da síndrome, uma vez que há a hipótese de que ela seja subdiagnosticada, pela falta de comunicação entre a gestante e o seu médico, além da falta de novos estudos e serviços médicos especializados. Suspeita-se uma incidência de 3 para cada 1000 nascidos vivos.   Caso seja confirmada, estima-se que possam surgir 3.000 a 9.000 casos novos de SAF por ano.

Existem casos em que a gestante fez uso de álcool e que os filhos não manifestaram sequelas. Não foi estabelecido uma dosagem mínima de álcool necessária para proporcionar alterações no desenvolvimento do feto, impossibilitando definir a quantidade segura para consumo durante a gestação. Entretanto, é comprovado que tal substância tem a capacidade de atravessar a placenta e agir sobre o crescimento intrauterino. Assim, recomenda-se a abstinência.

Após a ingestão do álcool, ele penetra livremente na placenta, provocando uma exposição ao feto das mesmas proporções da substância que a gestante. Todavia, por não apresentar uma maturação enzimática para metabolização do etanol, sua duração no organismo é prolongada, intensificando a exposição. O etanol absorvido age sobre as estruturas embrionárias ou fetais, ocasionando diversos efeitos nocivos, como: prejudica o deslocamento ativo de aminoácidos; produz aumento de ácidos graxos; gera hipóxia provocando vasoconstricção; a hipóxia também compromete a circulação de aminoácidos e carboidratos pela placenta; aumenta a oferta de prostaglandinas em diversos tecidos; aumenta o estresse oxidativo; altera a produção de ácido retinóico e neurotransmissores; afeta a circulação de folato; inibe o metabolismo da vitamina A; provoca a morte celular, e entre outros. Portanto, prejudica a organogênese e o desenvolvimento fetal em diversas esferas.

Aspectos clínicos 

  • Baixo peso ao nascer (BPN), prematuridade;
  • DI (em geral moderada); 
  • Hiperatividade, agressividade e outras alterações de comportamento;
  • Distúrbios do processamento auditivo central, perda auditiva;
  • Microcefalia 
  • Dismorfismos faciais – fendas palpebrais encurtadas, pregas epicânticas internas, hipoplasia malar, lábio superior fino, filtro longo e plano, nariz curto, ponte nasal baixa;
  • Estrabismo;
  • Hipoplasia de falanges distais, prega palmar anômala (em “taco de hóquei”), limitação articular, clinodactilia;
  • Orelhas sem paralelismo e parte superior da orelha subdesenvolvida;
  • Anomalias cardíacas (defeitos do septo cardíaco).
Figura – Dismorfologias da SAF
Fonte: Fortinash e Worret (2008)

Diagnóstico

O diagnóstico clínico se baseia primeiramente no histórico de exposição pré-natal ao álcool, se confirmado, encaminha para uma avaliação completa. Se o consumo for desconhecido deve ser avaliado somente quando a criança apresentar manifestações faciais característicos de SAF, ou quando tiver um relato de parentes afirmando a exposição alcoólica, seguindo para a análise de alterações faciais dismórficas, análise de peso e a altura em pré e pós-natal, e as anormalidades do sistema nervoso central.

Os procedimentos de avaliação diagnóstica da SAF envolvem:

  • Ultrassom (US) – Podem ser identificadas restrição do crescimento intrauterino simétrico, defeitos no coração e rins, anormalidades ósseas e vasculares.
  • Ressonância Magnética (RM) – detecta assimetrias morfológicas e grandes diferenças nos cérebros dos indivíduos afetados, principalmente, alterações nos gânglios da base, corpo caloso, cerebelo e hipocampo.
  • Eletroencefalografia (EEG) – expõe a atividade elétrica do cérebro, onde 50% das crianças e adolescentes com SAF, tem redução da intensidade da frequência das ondas.
  • Tomografia por emissão de pósitron (PET) – exibe a redução da atividade do núcleo caudado em adolescentes e adultos com a síndrome.
  • Biomarcadores – volume corpuscular médio (VCM), aspartato amino transferase (AST) e alanina amino transferase (ALT); transferrina deficiente de carboidrato (CDT) e gama-glutamil transferase (GGT).

O diagnóstico é de extrema importância, entretanto, muitas vezes é complexo e de difícil confirmação. A síndrome é grave, com prevenção simples, uma vez que é decorrente unicamente do consumo alcoólico durante a gravidez. É totalmente previsível e evitável. 

Com a confirmação do diagnóstico, a criança afetada passa a ser o foco para minimização das dismorfologias físicas e comportamentais. É necessário proporcionar o suporte familiar, direcionando a diferentes programas especializados que propiciam o auxílio, conhecimento e prevenção, tendo por base o esclarecimento da síndrome.

Autora: Fávilla Pinto

Instagram: @favillav_

Referência:

Conselho Federal de Medicina (CFM). Genética médica para não especialistas: o reconhecimento de sinais e sintomas. Brasília: ISBN 978-85-87077-61-5, 2018.

Fortinash Km, Worret Pah. Psychiatric Mental Health Nursing. 5ª ed. San Diego (Califórnia): Ed. Elsevier, 2008; 205.

Freitas, Paloma Alves. Síndrome Alcoólica Fetal: Uma Revisão Integrativa. Centro Universitário Doutor Leão Sampaio. Juazeiro Do Norte – CE, 2019

Mota, I. C. S. et al. Fetal Alcohol Syndrome – Diagnosis and consequences. EVS | Pontifícia Universidade Católica de Goiás. v. 48, p. 1-10, 2022. 

Queiroz, Rosas Marise. A Síndrome Alcoólica Fetal: Revisão Sistemática. Universidade Federal Da Bahia – Faculdade De Medicina Da Bahia. Salvador, 2016. 30 f

Silva, Maria Estrela Carvalho. Síndrome Alcoólica Fetal: conhecimentos e perceções dos professores do ensino regular. Escola Superior de Educação Paula Frassinetti. Pós Graduação em Educação Especial – Domínio Cognitivo Motor. 2016.

O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.