A síndrome de Weil é considerada como um tipo de leptospirose, sendo nomeada como a forma íctero-hemorrágica, que ocorre em aproximadamente 5 a 10% dos casos, sendo os outros 90 a 95% dos casos portadores da forma anictérica, ou seja, não portadores da síndrome de Weil.
É considerada como uma forma grave da patologia, sendo constituída clinicamente por uma tríade muito típica de 3 sintomas, sendo eles: icterícia, insuficiência renal e hemorragias, sendo esta mais comumente pulmonar.
Quadro clínico
A síndrome de Weil conta com a tríade típica de:
- Icterícia: presença de icterícia rubínica, que aparece em torno do 3º ao 7º dia de doença, podendo contribuir para o agravamento da lesão renal pela diminuição da filtração glomerular e redução da capacidade de concentração urinária.
- Hemorragias: ocorrem devido à vasculite cutânea e mucosa, que pioram devido à plaquetopenia.
- Insuficiência renal: os pacientes com síndrome de Weil possuem uma grande variação quanto aos acometimentos do aparelho renal, podendo apresentar desde de somente uma proteinúria, até realmente uma IRA. Esse processo de lesão renal ocorre por reação do parênquima ao leptospira, já que este possui componentes antigênicos, que fazem com que haja ativação do sistema imune, gerando disfunção tubular e resposta inflamatória acentuada, causando a nefrite intersticial aguda.
Os pacientes podem apresentar inicialmente hemorragia alveolar, que normalmente é autolimitada e some em alguns dias, e em casos mais graves podem cursar com hemoptise maciça que gera um prognóstico reservado, já que evolui com insuficiência respiratória, causando asfixia.
Alguns casos podem evoluir para rabdomiólise já que muito comumente os pacientes apresentam uma elevação considerável da creatinofosfoquinase (CPK), que gera mialgia, vindo acompanhada da disfunção renal de base, fazendo com que haja um aumento das chances de desenvolverem rabdomiólise, podendo contribuir para um prognóstico mais reservado.
O quadro ainda pode ser composto por sufusão conjuntival, hipotensão, que ocorre pela redução da resistência vascular sistêmica, febre, desidratação, êmese frequente, diarreia,
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Diagnóstico
O diagnóstico é estabelecido pela clínica associada a exames complementares. Deve ser coletada a anamnese e analisar história de exposição à leptospira, e procurar na anamnese e no exame físico os sintomas típicos graves, já citados, da síndrome de Weil. Para confirmação do caso suspeito deve-se ter:
- Quanto aos testes sorológicos: teste ELISA-IgM reagente, soroconversão na MAT: teste reagente posterior (14 a 21 dias depois, máximo 60 dias depois) a teste negativo com título a partir ou acima de 200, aumento de 4 vezes ou mais na MAT entre 2 amostras sanguíneas coletadas com um intervalo de 14 a 21 dias, ou quando não puder realizar teste comparativo, MAT igual ou acima de 800.
- Isolamento de leptospira ou componentes da bactéria: isolamento do leptospira no sangue, detecção do DNA por PCR no sangue para pacientes que evoluíram à óbito antes do 7º dia
- Presença de bactéria nos tecidos: teste imunohistoquímica, outras análise anatomopatológicas coradas em prata +.
Deve-se, ainda, solicitar hemograma (normalmente vem com neutrofilia com desvio à esquerda), função renal, função hepática, CPK, VHS, bilirrubina, ionograma, para que se possa analisar o estado da doença e termos uma melhor noção do prognóstico.
Tratamento
O tratamento é feito por meio de medidas de suporte e por fármacos para regressão da doença. A primeira medida que deve ser realizada o mais rápido possível é a transferência do paciente para o leite de unidade de terapia intensiva para uma rigorosa monitoração, por se tratar de um paciente potencialmente grave e instável, e ser iniciada hidratação venosa e oral intensas para prevenir maiores danos renais.
A depender da função renal deve ser indicada a diálise, tendo alguns novos estudos que indicam que uma diálise precoce gera ao paciente um melhor prognóstico. Deve-se atentar à hipotensão e à hipovolemia, que agravam a IRA, devendo ser revertidas.
Para aqueles que há suspeita de hemorragia pulmonar deve ser realizada ventilação mecânica com baixos volumes correntes e alta pressão positiva expiratória final (PEEP) após manobras de recrutamento.
Deve-se ainda, fazer esquema com penicilina cristalina 50 a 100.000 UI por kg/dia, administrada em 4 a 6 doses; ou ampicilina 50 a 100 mg/dia, intravenosa, ou ceftriaxona 80 a 100 mg kg/dia em 1 ou 2 doses, devendo ser administrados o quanto antes, já que estudos mostram que o uso desses fármacos possuem bom benefício terapêutico.
Autor : Arthur de Morais e Silva
Instagram: @arthurdemorais_
Referências:
https://www.bjid.org.br/en-pdf-S1413867020306310
https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/leptospirose-manejo-clinico.pdf
https://www.medicinanet.com.br/conteudos/casos/7598/leptospirose.htm
https://www.scielo.br/j/jbn/a/KP6wmBgMfh9tMS75ttwCdHt/?format=pdf&lang=pt
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Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.