Tétano, o que é preciso saber! | Colunistas

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Mas, o que é o tétano?

O tétano é uma doença infecciosa e não contagiosa, grave, causada por uma bactéria neurotóxica, o Clostridium tetani. Essa bactéria encontra-se no ambiente, na forma de esporos (resistência), identificados principalmente no solo, poeira, nas fezes de animais e em objetos (principalmente aqueles enferrujados por garantirem um ambiente anaeróbio), sendo capazes de sobreviverem e permanecerem viáveis durante décadas. Esses esporos adentram o corpo por entradas na pele, como furtos, arranhões, cortes, úlceras, picadas de inseto, queimaduras e tecidos necrosados. A doença classifica-se comumente em acidental ou neonatal.

Fonte: Óleo sobre tela, Opistótono, 1809; Charles Bell; Colégio de Cirurgiões de Edimburgo (Escócia).

Como ocorre a contaminação?

O tétano é uma doença não transmissível, logo a contaminação não ocorre de forma direta entre as pessoas. Para que um indivíduo venha a se contaminar, ele precisa entrar em contato direto com a neurotoxina, normalmente por meio de feridas abertas na pele, no caso do tétano acidental, ou por meio do cordão umbilical, no caso do tétano neonatal. Quando esses esporos adentram ao ferimento, eles encontram então o ambiente ideal para germinar, uma vez que são seres anaeróbicos, o microambiente da ferida garante essas condições, eles então germinam para a forma Clostridium tetani que, por conseguinte, começa a sua multiplicação e a produção de toxinas como a tetanospasmina e tetanolisina que auxiliam na disseminação da bactéria pelos sistemas sanguíneo e linfático.

Fonte:  Tetanus – by Nicholas Sullivan [Infographic]

Tétano, acidental e neonatal?

O tétano acidental como foi falado anteriormente, é aquele mais comum adquirido durante um acidente onde o paciente é exposto aos esporos do bacilo por meio de ferimentos, cortes e  arranhões no ambiente. Essa bactéria, em condições favoráveis, vai dar prosseguimento ao seu processo de infecção e causa o surgimento do quadro clínico no paciente. Por sua vez, o tétano neonatal, ou também chamado de mal dos sete dias, ocorre quando o cordão umbilical do recém-nascido é contaminado com esporos do Clostridium tetani, essa contaminação pode ocorrer tanto no momento do corte por ato iatrogênico como no uso de objetos contaminado e/ou enferrujados, ou na pós-remoção do cordão durante o processo de cicatrização do coto umbilical (com uso de substâncias contraindicadas, como pó de café, terra, barro, gaze contaminada, panos e lenços). É válido ressaltar que as mães vacinadas conseguem garantir uma proteção razoável para o bebê a partir da passagem de anticorpos protetores para o filho, seja pelo cordão umbilical, seja pelo aleitamento materno.

Fonte: Tétano neonatal – Casos anuais reportados em todo o mundo e cobertura para duas doses ou mais da vacina antitetânica, 1980-2016. WHO/IVB database 2017.
Fonte: Tétano – Casos anuais reportados em todo o mundo e cobertura para as três doses da vacina tríplice bacteriana (difteria, tétano e coqueluche), 1980-2017. WHO/IVB database 2017.

E quais são os sintomas?

O tétano é uma doença que, acima de tudo, precisa-se de uma anamnese e uma história clínica bem feita, pois pode ter uma manifestação rápida (primeiros 5 dias), moderada (do 6º ao 20º dia) ou lenta (do 21º ao 50º dia), já o tempo de manifestação do tétano neonatal, como sugere o nome “mal dos sete dias”, é de cerca de 7 dias (podendo variar entre 4 a 14 dias).

Fonte: Tua saúde. Sinais e sintomas do tétano.

Os principais sintomas são: contratura da mandíbula, dificuldade para engolir, rigidez de pescoço e, em seguida, de braços e pernas (ou vice-versa), agitação, irritabilidade, cefaleia, faringite, espasmos, trismo (dificuldade para abrir a boca) e, nos quadros mais agudos, instabilidade autonômica com alterações de temperatura, frequência respiratória, pulsação, reflexo, taquicardia, irritabilidade cardíaca e, por fim, insuficiência respiratória que é a causa mortis mais comum.

Fonte: Riso sardônico. Pedro du Bois.

E como se diagnostica essa doença?

O diagnóstico é basicamente clínico, a partir da anamnese e exame físico do paciente, deve-se fazer observação de rigidez muscular aparente, principalmente no pescoço e na mandíbula, além da dificuldade de engolir, presença de espasmos repetidos e busca por lesões recentes na pele durante a inspeção.

O prognóstico não é bom, logo isso evidencia a necessidade de uma profilaxia bem feita, uma vez que, no mundo, as mortes ocorrem em quase metade dos casos; em adultos que não recebem o tratamento, essas mortes variam em torno de 40% e, em recém nascidos, elas podem chegar a 90% dos casos, mesmo naqueles em tratamento.

Como nos protegemos?

O tétano é uma doença imunoprevenível que pode ser evitada a partir da vacinação (imunização ativa), é uma vacina antiga, que data de 1924, e está disponível em todo país para pessoas em qualquer faixa etária, com mudanças apenas no esquema vacinal. Na infância é feita com a tetravalente em três doses: aos dois, quatro e seis meses de vida, com reforços aos 15 meses e outro aos 6 anos de idade. Naqueles pacientes já adultos que nunca se vacinaram, o esquema é semelhante, contudo, ocorre uma mudança no imunizante, usa-se a dT, que protege da difteria e do tétano no esquema também de 3 doses com intervalo de 2 meses da primeira para segunda dose e da segunda para a terceira dose, o intervalo é de 1 ano, isso garante uma boa quantidade de anticorpos. Por fim, em pacientes já imunizados, o esquema vacinal de reforço ocorre com a aplicação da dT em dose única a cada 10 anos.

E os pacientes que já desenvolveram tétano, como tratar?

O tratamento do tétano é extremamente custoso e prolongado, sendo necessário o paciente ficar internado no hospital de preferência em uma unidade de terapia intensiva, recebendo imunoglobulinas ou soro antitetânico + antibiótico via endovenosa, além de sintomáticos, como miorrelaxantes, analgésicos, antitérmicos, benzodiazepínicos e, podendo ser necessário, a depender da gravidade, o uso de respiradores mecânicos.

Condutas: A indicação de qual profilaxia deve ser seguida depende, principalmente, da história de imunização do paciente e do tipo de ferimento que ele sofreu.

  • Nos casos de vacinação incompleta, o indicado é a realização da vacina + a imunoglobulina ou o soro antitetânico, no caso de um ferimento profundo e sujo. Caso seja um ferimento limpo e superficial, realiza-se apenas a vacinação.
  • Caso o paciente possua o esquema vacinal completo, além da última dose há menos de 05 anos, não realiza-se nenhuma conduta profilática. Caso essa última dose tenha entre 05-10 anos, realiza-se nova vacinação apenas em casos de ferimento profundo e sujo.
  • Por fim, em pacientes com esquema vacinal completo, mas com última dose de reforço há mais de 10 anos, deve-se vacinar independentemente do tipo de ferimento encontrado.

O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


Referências:

  1. Cives Centro de Informação em Saúde para Viajantes Tétano – http://www.cives.ufrj.br/informacao/tetano/tetano-iv.html
  2. MANUAL MSD Versão para Profissionais de Saúde Tetano – https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/bact%C3%A9rias-anaer%C3%B3bias/t%C3%A9tano
  3. Sociedade Brasileira de imunizações (SBIm) Familia, Tetano – https://familia.sbim.org.br/doencas/tetano
  4. Tratado de Infectologia Veronesi 5ª ed – 2015.

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