O refluxo gastresofágico é uma situação comum em crianças antes dos dois anos e pode ser fisiológico, caso não haja sintomas associados, irritabilidade ou déficit de ganho ponderal. Os refluxos podem ser causados por relaxamento transitório do esfíncter esofágico inferior, hipotonia do esfíncter, hérnia hiatal, aumento da pressão abdominal e esvaziamento gástrico lento.
O refluxo se torna doença quando começa a atrapalhar o crescimento e o desenvolvimento normal da criança ou quando piora a qualidade de vida do lactente. A doença do refluxo gastresofágico só é caracterizada quando temos sintomas típicos que se diferenciam de acordo com a faixa etária. Nos lactentes pode se apresentar com vômitos, recusa alimentar, irritabilidade e déficit ponderal. É importante aqui realizar o diagnóstico com alergia a proteína do leite de vaca, de acordo com a história familiar da criança e teste terapêutico.
Nos pré-escolares as manifestações típicas se caracterizam com vômitos e em escolares e adolescentes com pirose, dor retroesternal, plenitude gástrica. Alguns pacientes podem apresentar manifestações atípicas como tosse crônica, sibilância, apneia, rouquidão, infecções de vias aéreas superiores de repetição, aftas. E ainda podem ocorrer complicações como esofagite, úlcera esofágica, estenose de esôfago e esôfago de Barret. Não há exame complementar padrão ouro para diagnostico e, portanto, o diagnóstico é, na maioria das vezes, clíinico.
Pode ser solicitado PH impedânciometria esofágica ou PHmetria de 24hH. A endoscopia digestiva alta só é indicada quando suspeitados de complicações ou o paciente apresenta comorbidades. O tratamento é, na maioria das vezes, não farmacológico. As orientações para recém-nascidos e lactentes são manter ereta a criança após a mamada por 20 ou 30 minutos, cabeceira elevada em 30 ou 40°º, fracionar as refeições, caso necessário indicar o uso de fórmula antirrefluxo ou uso de espessantes.
É importante também reduzir o tabagismo
passivo. Em crianças maiores e adolescentes é importante modificação da dieta (reduzir café, chocolates ou alimentos associados aos sintomas) e tratar comorbidades. O emprego de antiácidos ou procinéticos deve ser reservado para as situações mais graves após avaliação criteriosa. Nos lactentes com DRGE que recebem fórmulas à base de leite de vaca e que muitos dos quais, não responderam ao uso de fórmulas AR, recomenda-se a
exclusão das proteínas do leite de vaca e introdução ou de fórmulas extensamente hidrolisadas da proteína ou fórmula à base de aminoácidos. A exclusão das proteínas do leite de vaca justifica-se pelo fato de que os sintomas decorrentes de alergia se sobrepõem aos da DRGE comumente, sendo difícil distinguir clinicamente, as duas situações. Alguns autores, afirmam que em 40% desses casos, a causa básica é a alergia.
Dados como dermatite atópica, história de alergia alimentar na família e presença de sangue oculto nas fezes podem reforçar esta hipótese. Igual parte desses lactentes apresenta hipersensibilidade à proteína da soja, que deve ser evitada. Crianças menores de 1 ano de idade – com sintomas e sinais de DRGE que não responderam a medidas conservadoras – podem ser tratadas com ranitidina (10mg/kg/dia, a cada 12 horas) por 2 semanas, mantendo tratamento por 8 semanas se houver melhora significativa.
Atentar para efeitos adversos que podem, erroneamente, induzir aumento da dose. Seu uso deve ser preferido por custo e apresentação farmacológica. Caso não apresentem melhora, devem ser encaminhadas a consulta especializada. Crianças maiores com sinais e sintomas de DRGE devem ser inicialmente tratadas com medidas conservadoras (alimentares e orientações posturais).
Se as manifestações clínicas surgiram depois de 1 ano de idade,
devem ser investigadas para outra etiologia e/ou encaminhadas à consulta especializada imediatamente. Crianças maiores, com sinais e sintomas mais sérios de DRGE que não melhoram com medidas conservadoras, podem fazer teste terapêutico com omeprazol (3mg/kg/dia, pela manhã, em jejum) por 2 semanas. Se houver melhora inequívoca, o uso do medicamento pode ser continuado por 6 a 8 semanas, até nova avaliação.
Crianças com esofagite de leve a moderada, documentada por biópsia endoscópica, devem ser tratadas preferencialmente com omeprazol por 2 semanas; se houver melhora inequívoca, o medicamento pode ser continuado por três a seis meses, até nova avaliação. E as com esofagite grave, documentada por biópsia endoscópica, devem ser tratadas com IBP, preferencialmente omeprazol, por três a seis meses, em conjunto com as mudanças de estilo de vida.
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Autor: Milena Santana Profissão, Estudante de Medicina