Como fazer a melhor utilização do carvão ativado?
O carvão ativado, na apresentação em
pó, é uma substância indicada na abordagem do paciente com quadro agudo de
intoxicação exógena via gastrointestinal como medida de descontaminação, que
consiste na etapa a fim de diminuir a absorção, contato e superfície de
exposição a um agente tóxico, e as consequências de sua overdose.
Quando usá-lo?
Seu uso deve ser considerado diante de um quadro agudo com menos de 1h desde a ingestão da substância, podendo estender-se por mais tempo em caso de substâncias que retardem o esvaziamento gástrico.
Esse tempo pode variar de acordo com o local e protocolo ao qual está inserido; por exemplo, em serviços como o Centro de Informações e Assistência Toxicológica do Espírito Santo (CIATox-ES), seu uso é preconizado em até 30min após ingestão para substâncias liquidas e 2h para as sólidas.
A administração do carvão ativado é
feita via oral em pacientes conscientes, ou via sonda nasogástrica em pacientes
inconscientes, podendo ser em dose única ou seriada.
O carvão ativado em doses múltiplas seriadas, também conhecida como diálise gastrointestinal, além de uma medida de descontaminação, é, também, uma medida de excreção.
Consiste em administrar doses múltiplas e é indicada quando a substância em questão faz recirculação enterro-hepática, enterro-gástrica ou em casos de drogas que retardam o esvaziamento gástrico.
Exemplos de drogas em que se faz uso de doses múltiplas seriadas:
Chumbinho (raticida clandestino), Fenitoína, Fenobarbital, Carbamazepina, Antidepressivos tricíclicos, hormônio tireoiodiano, Organofosforados, Digoxina, Lamotrigina, antidepressivos tricíclicos, barbitúricos, salicilatos, cianeto, opióides, bloqueadores do canal de cálcio, meprobramato e agentes anticolinérgicos, entre outros.
Quais as contraindicações do uso do carvão ativado?
As principais contraindicações são o tempo de ingestão da substância (que varia, de acordo com o protocolo que está sendo aplicado), vias aéreas não intactas ou protegidas, obstrução intestinal (além de cáusticos), pacientes com histórico de cirurgia abdominal recente e agentes não adsorvidos pelo carvão ativado.
Principais substâncias não adsorvidas pelo carvão ativado:
Ferro, Lítio, Ácido bórico, Etanol, Metanol, Cianeto, Etilenoglicol, Malation, Potássio, Fluoreto, derivados de petróleo, ácidos e bases fortes, entre outros.
Como deve ser feito o manejo do paciente intoxicado candidato ao uso do carvão ativado em pó?
Ao constatar a intoxicação exógena, que se beneficia do uso do carvão ativado em pó, é fundamental que seja garantida a estabilidade do paciente e que seja avaliado tanto o nível de consciência quanto a proteção de suas vias aéreas.
Se o paciente estiver inconsciente, deve-se avaliar a administração via sonda nasogástrica. Em seguida, deve-se verificar se a substância demanda dose única ou doses múltiplas seriadas.
– Dose única: Em a adultos a dose é de 50g diluídos em água ou suco. Para pacientes pediátricos é de 1g/kg, também diluídos em água ou suco, assim como em adultos.
Em pacientes com dificuldade de ingestão ou com queixas de náuseas, pode-se considerar a administração de antieméticos ou uso de sonda nasogástrica.
– Doses seriadas: Para adultos, cada dose consiste em 50g de carvão ativado de 4 em 4 horas, sendo, no máximo, quatro doses administradas, ou seja, 200g de carvão ativado no total.
Para melhor tolerância em pacientes com queixa de náuseas e vômitos, pode-se administrar 12,5g a cada 1 hora ou 25g a cada 2h. Pacientes pediátricos, assim como na dose única, calcula-se a dose com base no peso: 1g/kg de peso a cada 4 horas, sendo no máximo 4 doses.
Quais são os efeitos adversos do uso do carvão ativado em pó?
Um dos mais conhecidos efeitos adversos é a constipação e obstrução intestinal. Em alguns serviços, é preconizado o uso de catártico após múltiplas doses de carvão ativado como forma de remoção de medicamentos de liberação lenta ou com alto grau de toxicidade.
Como exemplo, o CIATox-ES recomenda o uso de catártico salino para aumento de peristalse, além do aumento da passagem do agente toxico, também reduzindo sua absorção.
Nesse serviço, recomenda-se o sulfato de magnésio a 10% ou 50%, ou Manitol a 20%, sendo esses administrados 20 minutos após a última dose de carvão ativado em múltiplas doses.
Outros efeitos adversos são náuseas e
vômitos, com indicação de uso de antieméticos, como ondasetrona 4-8mg via
intravenosa em infusão lenta ou ciclizina 50mg via intravenosa.
A proteção de vias aéreas a fim de
evitar broncoaspiração e complicações como pneumonia aspirativas também é
crucial na abordagem do paciente.
Considerações finais:
No Brasil, existem serviços como os Centros de Informações e Assistência Toxicológica (CIATox), que estão inseridos na Rede de Atenção às Urgências e Emergências do Sistema Único de Saúde (SUS).
Esses serviços oferecem atendimento em regime de plantão permanente, sendo presencial e/ou através de teleconsultas, com intuito de compartilhar informações toxicológicas para auxiliar no manejo dos pacientes intoxicados ou apenas expostos à substâncias tóxicas.
Logo, a recomendação final é que tenha sempre salvo o contato do CIATox mais próximo do hospital ou cidade na qual se encontra – eles auxiliarão na assistência ao seu paciente.
Autora: Amanda Bassani Pagotto
Acadêmica
do 9º período de medicina na Faculdade Brasileira (Multivix), Vitória – ES.
Atualmente
estagiária no CiaTox-ES.
Instagram:
@amandabpagotto



