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Os métodos contraceptivos são utilizados com o intuito de impedir a gravidez. Em 1996, um projeto de lei que regulamenta o planejamento familiar foi aprovado pelo Congresso Nacional e sancionado pela Presidência da República. O planejamento familiar corresponde ao recurso que permite ao casal a decisão do número de filhos e intervalo entre as gestações que desejam, de maneira programada e consciente. Acredita-se que, no Brasil, cerca de 55% das gestações não são planejadas. Na atualidade, existe uma variedade de métodos contraceptivos disponíveis, possibilitando ao casal escolher o que mais atende as suas necessidades. A maioria desses métodos são oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), difundindo, assim, o emprego do planejamento familiar.
Os métodos anticoncepcionais podem ser classificados em dois grupos:
- Os reversíveis, que são: comportamentais, de barreira, dispositivos intrauterinos, hormonais e os de emergências;
- Os definitivos, que são os cirúrgicos: esterilização cirúrgica feminina e esterilização cirúrgica masculina.
1. Métodos anticoncepcional comportamentais
Busca verificar o período fértil através da observação de sinais e sintomas para que as relações sexuais sejam evitadas durante esse período. Esses métodos possuem alguns benefícios por serem baratos, naturais, sem efeitos adversos. Porém, possuem altas taxas de falhas, pois requerem longos períodos de abstinência sexual e estão susceptíveis à irregularidade menstrual. Além disso, esses métodos não protegem contra infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). O período fértil da mulher pode ser identificado por meio da observação da curva de temperatura corporal, das características do muco cervical e duração e fisiologia do ciclo menstrual.
Os principais métodos comportamentais são tabelinha (método de Ogino-Knaus), temperatura basal, muco cervical (método de Billings), sintotérmico, coito interrompido e lactação.
A tabelinha ou método de Ogino-Knaus
Para ser usado, a mulher deve registrar o número de dias de cada ciclo menstrual começando pelo primeiro dia da menstruação. O ideal é observar esses ciclos por pelo menos seis meses. Esse método não pode ser usado em casos que a mulher tenha ciclos menstruais irregulares com diferença maior que 10 dias entre os ciclos. Para calcular o período em que se deve adotar a abstinência sexual, basta subtrair 18 da duração do seu ciclo mais curto para saber o primeiro dia de seu período fértil e subtrair 11 dias do ciclo mais longo, que corresponde ao último dia de seu período fértil.
Por exemplo:
A paciente que teve o seu ciclo mais curto de 25 dias e o mais longo de 30 dias deverá ficar em abstinência sexual no 7° ao 19° dias do ciclo.
Imagem 1. Tabelinha

No método da curva de temperatura basal
Neste método, avalia-se a temperatura corporal basal, buscando identificar o provável dia de ovulação. Isso ocorre porque, depois da ovulação, há um aumento da progesterona liberada pelo corpo lúteo, a qual atinge o centro termorregulador do hipotálamo, levando ao aumento da temperatura corporal em 0,2 a 0,5 graus. A mulher precisa verificar sua temperatura diariamente, de preferência com o mesmo termômetro, no mesmo local do corpo e no mesmo horário, de preferência pela manhã antes de sair da cama. O período de abstinência deve ser desde o primeiro dia do ciclo menstrual até três dias após a elevação da temperatura basal.
O problema desse método é que necessita de grande disciplina da mulher, além de ter um longo período de abstinência. Outra questão que limita o seu uso é que nem todas as pacientes possuem esse efeito termorregulador com a liberação da progesterona.
Método do muco cervical ou de Billings
Tem como objetivo analisar as características do muco cervical sob ação estrogênica, durante período ovulatório. Nesse período, o muco cervical torna-se filante, como clara de ovo, permitindo ao espermatozoide a sobrevivência e locomoção. Depois da ovulação, sob ação progesterona o muco fica espesso e escasso. Para o uso deste método, a mulher precisa observar as características do muco, examinando diariamente sua secreção. O período de abstinência vai do primeiro dia de percepção do muco até o quarto dia de percepção máxima da umidade. Vale ressaltar que o sêmen e produtos vaginais, como lubrificantes e pomadas, prejudicam a observação do muco.
Imagem 2. Muco cervical.

Método sintotérmico
Combina o método da temperatura basal com o método do muco cervical, associado a sinais e sintomas que podem ocorrer durante a ovulação, como sensibilidade mamária, dor pélvica e mudanças de humor. Nesse caso, o período de abstinência sexual vai desde o primeiro dia do ciclo até o quarto dia após o pico das secreções cervicais ou o terceiro dia após a elevação da temperatura. Sendo que, na ocorrência do primeiro fator, deve-se usar o segundo para ter relação sexual.
Coito interrompido
Ocorre com a retirada do pênis da vagina antes da ejaculação. Para isso, requer grande atenção do homem durante o ato sexual. Além disso, apesar de incomum, o fluido seminal que precede a ejaculação pode conter espermatozoides, causando uma possível gestação indesejada. Logo, esse método possui altas taxas de falhas, cerca de 25% ao ano.
Lactação
Durante o aleitamento materno ocorre alterações hormonais no eixo hipotálamo-hipófise-ovário, levando à anovulação. Esse método, além de não ter custos, promove inúmeros benefícios para a mulher e para o bebê. Esse método não tem contraindicações, desde que a amamentação seja exclusiva. Porém, algumas mulheres ovulam em torno do terceiro mês de pós-parto, mesmo amamentando. Isso pode levar ao risco de gravidez não planejada.
Imagem 3. Lactação

2. Contracepção hormonal
Os contraceptivos hormonais são métodos extremamente difundidos e eficazes. No entanto, na prática, seu índice de falhas aumenta consideravelmente decorrente do uso incorreto, chegando a taxas de gravidez no primeiro ano de uso entre 3 e 9 por 100 usuárias. Dentre esses contraceptivos, os mais conhecidos são: contraceptivos orais combinados, contraceptivos contendo apenas progestogênio e contraceptivos com estrogênios e/ou progestogênios de uso sistêmico por injeção, adesivo transdérmico ou anel intravaginal.
3. Métodos de barreira
São métodos que formam uma barreira entre os espermatozoides e a cavidade uterina, impedindo a fecundação. O nível de eficiência desses métodos varia entre 2 a 6%, a depender se seu uso é correto. Todos os métodos de barreira, além do efeito contraceptivo, também reduzem a transmissão de ISTs.
Preservativos (camisinha)
Dentre os métodos de barreira, os preservativos são os mais utilizados. Existem preservativos masculinos e femininos. Sua taxa de falha geralmente está ligada ao uso incorreto. Além do efeito contraceptivo, é o método mais eficaz de prevenção de ISTs. Além disso, está associado a redução de neoplasias do colo do útero pela diminuição da transmissão do papilomavírus humano. Sendo, por isso, indicado o seu uso em associação com outros métodos.
Imagem 4. Camisinha

Diafragma
O diafragma é um disco de borracha ou látex introduzido dentro da vagina, recobrindo colo do útero para impedir a entrada de espermatozoides. Tem vários tamanhos e, por isso, antes do início do uso, é necessária uma consulta com o ginecologista para ser indicado o tamanho mais adequado para a paciente. Geralmente é usado em associação aos espermicidas, adquirindo em conjunto um bom índice de efetividade. O espermicida é colocado no centro do dispositivo e mantido em contato com o colo do útero.
Imagem 5. Diafragma

Espermicida
Os espermicidas são substâncias em forma de tabletes de espuma, geleia ou creme que provocam a ruptura da membrana das células dos espermatozoides, matando-os ou retardando sua passagem pelo canal cervical. É recomendado o seu uso apenas em associação com outros métodos contraceptivos, como o diafragma. No entanto, não deve ser usada com preservativos masculinos, pois pode aumentar o risco de contaminação pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV).
Dispositivos intrauterinos (DIUs)
Os DIUs, junto com o implante de etonogestrel são os contraceptivos de longa duração. Consistem em um objeto de formato variável que é inserido na cavidade uterina. Eles são amplamente difundidos como métodos contraceptivos reversível, possuem pequenas taxas de falha e descontinuidade, poucas contraindicações e têm um ótimo custo-benefício. No Brasil, os dois DIUs utilizados são o dispositivo intrauterino de cobre e o sistema intrauterino liberador de levonorgestrel.
Imagem 6. DIUs.

4. Contracepção de emergência
Esse é um método que visa prevenir uma gestação inoportuna após relação sexual. Pode ser indicada no ato sexual desprotegido, falha ou uso inadequado do método contraceptivo em uso ou violência sexual. Os contraceptivos de emergência atuais geralmente são efetivos e seguros, apresentando poucos efeitos adversos. Com isso, reduz a quantidade de abortamentos inseguros e garante o planejamento familiar.
Atualmente, estão disponíveis vários métodos contraceptivos de emergência. Os mais utilizados são o método Yuzpe e o contraceptivo de levonorgestrel isolado, ambos são igualmente eficazes, podendo ser utilizados até 5 dias após o ato sexual desprotegido. Entretanto, sua eficácia é inversamente proporcional ao tempo decorrido desde a atividade sexual, sendo recomendado o uso em até 72 horas após o ato. Pela comodidade posológica e menos efeitos colaterais, o método de levonorgestrel é o mais indicado.
5. Contracepção cirúrgica
A contracepção cirúrgica consiste em método considerado irreversível ou definitivo, podendo ser masculina, com a vasectomia, ou feminina com a ligadura tubária. A Lei 9263 também regulamenta o seu uso no Brasil, sendo indicado somente nas seguintes situações:
- Homens e mulheres com capacidade civil plena e maiores de 25 anos de idade, ou pelo menos com dois filhos, desde que observado o prazo mínimo de 60 dias entre a manifestação da vontade e o ato cirúrgico;
- Risco à vida ou à saúde da mulher ou do futuro concepto, desde que tenha relatório escrito e assinado por dois médicos.
Ademais, é proibida a esterilização cirúrgica durante o parto, aborto ou até 42 dias após o parto (ou aborto), exceto nos casos de comprovada necessidade, como:
- Cesárias sucessivas anteriores (no mínimo 2);
- Doença de base com risco à saúde.
Autora: Suzana
Vasconcelos, estudante de medicina
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