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Arritmias são disfunções que causam anormalidades na formação e condução do impulso miocárdico. A origem depende de alterações eletrofisiológicas a nível celular, tecidual e cardíaco global.
Quando surge nos átrios, no nó sinoatrial (SA) ou nó atrioventricular (AV) é chamada de arritmia supraventricular. Quando surge nos ventrículos, arritmia ventricular.
Fisiopatologia das arritmias
As arritmias ocorrem devido a alterações no distúrbio da formação do impulso, distúrbio da condução do impulso ou a combinação de ambos.
O coração possui um sistema elétrico intrínseco que coordena as contrações das câmaras cardíacas. A despolarização (movimento de íons) e repolarização (restabelecimento do potencial elétrico) ocorrem de maneira ordenada para garantir a contração eficaz das câmaras. Distúrbios nesse processo podem levar a ritmos anormais.
O nódulo sinusal é o marcapasso natural do coração, emitindo impulsos elétricos regulares que iniciam as contrações. Quando esse nódulo não funciona corretamente, outros pontos do coração podem assumir o papel de marcapasso, resultando em ritmos anormais.
Além disso, distúrbios nos canais iônicos que regulam a entrada e saída de íons nas células cardíacas podem causar alterações nos potenciais de membrana e no fluxo elétrico. Isso pode resultar em condução lenta, reentrada ou outros tipos de arritmias.
A fisiopatologia das arritmias é ampla e diversificada, variando de acordo com o tipo específico de arritmia e as condições individuais do paciente. Os avanços na compreensão desses mecanismos são essenciais para desenvolver estratégias de diagnóstico, tratamento e prevenção mais eficazes.
Qual a etiologia das arritmias?
As arritmias cardíacas podem ter várias causas subjacentes, e a etiologia pode variar de acordo com o tipo específico de arritmia.
- Doenças Cardíacas: condições como doença coronariana, hipertensão arterial, insuficiência cardíaca, miocardiopatias (doenças do músculo cardíaco) e doenças valvulares podem aumentar o risco de arritmias. A isquemia cardíaca (falta de suprimento sanguíneo) e o dano ao músculo cardíaco também podem causar arritmias.
- Desequilíbrios eletrolíticos: níveis anormais de íons no sangue, como potássio, sódio, cálcio e magnésio, podem afetar a condução elétrica no coração e levar ao desenvolvimento de arritmias.
- Problemas no sistema de condução: distúrbios nos sistemas elétricos do coração, como bloqueios ou atrasos na condução dos impulsos elétricos, podem resultar em arritmias.
- Disfunção do nódulo sinusal: o nódulo sinusal, o marcapasso natural do coração, pode funcionar de forma inadequada devido a alterações degenerativas relacionadas à idade, inflamação ou outras condições.
- Estresse autonômico: estímulos do sistema nervoso autônomo, como aumento da atividade do sistema nervoso simpático (estresse) ou diminuição da atividade do sistema nervoso parassimpático (relaxamento), podem influenciar os ritmos cardíacos.
Taquicardia sinusal
A taquicardia sinusal é um tipo de arritmia caracterizada por uma frequência cardíaca mais rápida do que o normal, mas com origem no nódulo sinusal, o marcapasso natural do coração. Em condições normais, o nódulo sinusal controla o ritmo cardíaco e os batimentos do coração. Quando a frequência cardíaca ultrapassa 100 batimentos por minuto em repouso, isso é geralmente classificado como taquicardia.
A taquicardia sinusal é considerada uma resposta fisiológica a estímulos, como exercício, ansiedade, febre ou estresse.
Sintomas da taquicardia sinusal
Sintomas da taquicardia sinusal podem incluir:
- Palpitações
- Sensação de batimento rápido
- Fadiga
- Dispneia
- Tonturas ou desmaios
- Angina
Características do ECG
Observa-se um intervalo RR regular, indicativo de um ritmo sinusal. As ondas P são positivas nas derivações D1, D2 e AVF, denotando sua origem nos átrios. A frequência cardíaca supera 100 batimentos por minuto.
O enlace atrioventricular está intacto, evidenciado pela sequência ordenada de onda P seguida de complexo QRS e onda T.
Como conduzir um paciente com taquicardia sinusal?
O tratamento da taquicardia sinusal depende da causa subjacente e dos sintomas apresentados.
Se a taquicardia sinusal for secundária a uma condição como ansiedade, estresse ou febre, o tratamento geralmente se concentra na gestão da causa subjacente. Em muitos casos, a taquicardia sinusal não requer tratamento específico, pois é uma resposta temporária e adaptativa do corpo.
Em casos selecionados, o médico pode prescrever medicamentos para diminuir a frequência cardíaca ou regular o ritmo cardíaco.
Já em situações mais raras, quando a taquicardia sinusal é recorrente e problemática, a ablação cardíaca (um procedimento minimamente invasivo para corrigir problemas de ritmo cardíaco) pode ser considerada.
Taquicardia atrial
A taquicardia atrial é um tipo de arritmia cardíaca que ocorre quando os átrios (as câmaras superiores do coração) têm uma atividade elétrica anormalmente rápida e descoordenada, resultando em uma frequência cardíaca aumentada.
Ela pode ser dividida em diferentes subtipos com base na origem e características das taquicardias atriais.
Taquicardia Atrial Paroxística (TAP)
Nesse tipo de taquicardia, há episódios recorrentes e súbitos de batimentos cardíacos rápidos que se originam nos átrios. Geralmente, esses episódios começam e terminam abruptamente.
Taquicardia atrial multifocal
É caracterizada por múltiplos focos de atividade elétrica nos átrios, resultando em uma série de complexos QRS com diferentes formas e intervalos PR.
Isso pode ocorrer em pessoas com doenças pulmonares crônicas, entre outras condições.
Taquicardia atrial focal
É quando um único foco anormal de atividade elétrica nos átrios causa uma frequência cardíaca elevada.
Pode ser resultado de distúrbios elétricos em uma região específica dos átrios.
Flutter atrial
Embora semelhante à taquicardia atrial, o flutter atrial tem uma característica distintiva de ondas P em forma de “dente de serra” ou “asa de borboleta” no ECG.
Isso ocorre devido à atividade elétrica rápida e regular nos átrios. Note a presença de uma ativação atrial contínua com padrão serrilhado, intervalo RR irregular e FC aumentada.

Fibrilação Atrial
Embora seja uma arritmia com características diferentes da taquicardia tradicional, a fibrilação atrial também envolve atividade elétrica anormalmente rápida e descoordenada nos átrios.
As ondas P não são distintas, e os átrios tremem ou fibrilam em vez de contrair de maneira coordenada. Nota-se nesse ECG a ausência de onde P, substituída pela onda f (tentativa de gerar estímulo), intervalo RR irregular e FC maior que 100 bpm, fechando critérios para FA.

Abordagem das arritmias
O primeiro passo na abordagem de qualquer arritmia é conduzir uma entrevista detalhada com foco, seguida de monitoramento meticuloso do paciente usando o acrônimo MOVE (Monitorização – Oxigenação – Via de acesso intravenoso – ECG de 12 derivações) e, então, classificar a arritmia quanto à presença ou ausência de instabilidade hemodinâmica.
A instabilidade hemodinâmica é reconhecida por meio das características dos 4Ds:
- Dor torácica anginosa típica
- Dispneia
- Problemas com desorientação (ou desmaio)
- Diminuição da pressão arterial (sistólica inferior a 90 mmHg).
Detectar precocemente esses sinais pode auxiliar o médico na seleção da terapia mais adequada para cada situação. Em geral, em situações claras de instabilidade, a cardioversão elétrica sincronizada é o método preferido. Por outro lado, em casos de estabilidade, pode-se considerar o controle do ritmo ou da frequência cardíaca.
Para controlar taquicardias em pacientes estáveis com ritmo regular, opções incluem manobras vagais , administração intravenosa de adenosina (6 mg com flush), uso de betabloqueadores (BB) ou bloqueadores dos canais de cálcio (BCC) como verapamil ou diltiazem.
Em casos de insuficiência cardíaca congestiva (ICC), digoxina ou amiodarona podem ser consideradas. No caso de pacientes estáveis, mas com ritmo irregular, é necessário considerar a fibrilação atrial (FA) ou taquicardia atrial multifocal.
Tratamento de pacientes estáveis
O tratamento para pacientes estáveis envolve o controle da frequência cardíaca por meio de betabloqueadores ou bloqueadores dos canais de cálcio.
Quando a instabilidade está presente, a cardioversão elétrica sincronizada é indicada, usando 50-100 joules em desfibriladores bifásicos e 100-200 joules em desfibriladores monofásicos.
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Referência bibliográfica
- Clínica Médica – HCUSP – Vol 2 – 2ª Ed (2016)
- Santos, ECL. et al. Manual de cardiologia Cardiopapers. São Paulo: Editora Atheneu, 2013