Índice
- 1 Definição da blefaroplastia como procedimento cirúrgico
- 2 Indicações para realizar blefaroplastia e avaliação do paciente
- 3 Técnica cirúrgica de blefaroplastia
- 4 Quais são as principais complicações do procedimento?
- 5 Cuidados pós-operatórios e recuperação da blefaroplastia
- 6 Resultados e expectativas realistas
- 7 Quer se preparar para prática clínica?
- 8 Referências
- 9 Sugestão de leitura complementar
Um guia para ajudar médicos e estudantes de medicina a saber mais sobre a blefaroplastia.
A blefaroplastia é um procedimento cirúrgico realizado para corrigir o excesso de pele palpebral, chamado de dermatocálaze.
Esse excesso de tecido ocorre pela diminuição de fibras de colágeno na região palpebral e confere um aspecto mais envelhecido da pálpebra. Quando a dermatocálaze ultrapassa a linha ciliar, também pode provocar a diminuição do campo visual.
Seja realizada com a finalidade de melhoria estética ou pela busca de melhoria funcional na ampliação do campo visual, a blefaroplastia é um procedimento relativamente rápido, de baixo risco associado e que pode ser realizado em concomitância com outros procedimentos.
Essa cirurgia ganhou ainda mais evidência recente na mídia devido a sua realização no Presidente da República em setembro de 2023. Mas várias outras personalidades também se submeteram ao procedimento. Sendo assim, por ser um assunto em evidência, é interessante conhecer um pouco mais sobre ele e, por isso, preparamos esse artigo pra você!
Definição da blefaroplastia como procedimento cirúrgico
É importante destacar que existe diferença entre a blefaroplastia e a cirurgia de correção da ptose palpebral, como explica a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Ocular. No momento da blefaroplastia pode-se corrigir a ptose, mas esse é um procedimento apenas adicional.
Aspectos anatômicos das pálpebras e sua importância na cirurgia
As pálpebras são pregas móveis recobertas externamente por uma camada fina de pele. Já internamente é composta pela túnica conjuntiva da pálpebra.
É preciso conhecer toda a musculatura orbicular, a anatomia periorbital e as estruturas adjacentes relevantes para o procedimento, as quais estão inclusos:
- Suco nasojugal
- Junção pálpebra-bochecha
- Prega palpebral inferior
- Prega palpebral superior
- Dobra palpebral superior
Em relação a pálpebra propriamente dita, é preciso recordar que ela é composta por 6 estruturas principais:
- Pele
- Músculo orbicular
- Glândula lacrimal
- Aponeurose do músculo elevador da pálpebra
- Tarso e suas subdivisões
- Ligamento de Lockwook
Alguns elementos como a altura vertical da abertura ocular expondo pelo menos ¾ da córnea e a extensão máxima da pálpebra superior em 1,5mm abaixo do limbo superior conferem um aspecto estético de olhar mais jovem na maioria das culturas.
Porém, é muito importante que o objetivo desejado do procedimento seja discutido com o paciente. Isso ajuda na elaboração do plano da cirurgia.
Como o envelhecimento é um fator importante que levam os pacientes a buscar esse procedimento, é preciso compreender a etiologia do envelhecimento das estruturas palpebrais e entender como é possível intervir.
Na pálpebra superior, as alterações do tônus da pele e a excessiva herniação de gordura levam ao abaulamento dessa estrutura com o passar do tempo. Já na pálpebra inferior, o relaxamento da margem tarsal e o surgimento de bolsas de gordura herniadas provocam o aspecto de envelhecimento.
Indicações para realizar blefaroplastia e avaliação do paciente
Critérios clínicos e estéticos para a indicação de blefaroplastia
Como em qualquer procedimento, é ideal que o paciente esteja ciente dos riscos envolvidos . Além disso, os benefícios da intervenção devem ser superiores aos possíveis riscos. Principalmente em procedimentos eletivos de finalidade estética.
Ter um paciente saudável e hemodinamicamente estável é o primeiro critério a ser avaliado. Além disso, deve-se considerar a saúde oftalmológica desse indivíduo, já que esse procedimento tem repercussão direta nesse aspecto.
Dessa forma, qualquer condição ocular pode afetar o resultado e o tipo da cirurgia que será realizado, reforçando a importância da anamnese completa do paciente.
Avaliação pré-operatória
A avaliação pré-operatória para a realização da blefaroplastia requer os exames médicos gerais que incluem hemograma, coagulograma e avaliação de comorbidades que o paciente possua e que afete a anestesia geral que ele será submetido.
O histórico de uso de álcool, tabagismo, fármacos anticoagulantes e a existência de doenças endócrinas devem ser frequentemente questionados.
Além disso, é importante que seja realizado um exame oftalmológico, principalmente para descartar qualquer possibilidade de processos inflamatórios oculares ativos. O uso de lente de contato pode apresentar riscos ao procedimento.
É recomendado que durante todo o perioperatório seja interrompido o uso de lentes para propiciar uma melhor cicatrização da cirurgia ao evitar manipular as pálpebras.
Durante a avaliação básica do paciente deve envolver uma inspeção bem detalhada da região orbicular, buscando avaliar a presença ou ausência de:
- Áreas de assimetria ou simetria palpebral;
- Sinais de exposição anormal da esclera;
- Diminuição do tônus muscular palpebral;
- Xeroftalmia;
- Ptose palpebral;
- Posicionamento basal das pálpebras.
Para avaliação desses aspectos, é importante que o cirurgião esteja sentado diretamente na frente do paciente. Preferencialmente no mesmo nível do olhar do paciente.
O teste de Snapback modificado e o teste de distração podem ser aplicados para avaliar o tônus da pálpebra inferior e também verificar se existe a flacidez ligamentar.
No teste de Snapback modificado, deve-se puxar a pálpebra inferior para baixo com o dedo indicador, verificando o tempo de retorno da posição original. É esperado que o retorno palpebral seja imediato e que o paciente não pisque.
Já o teste de distração é realizado com um movimento semelhante ao pinçamento da pálpebra inferior afastando-a do globo ocular. Se a análise do espaço criado pelo movimento for maior que 10mm, é sinal de que o ligamento é flácido.
Técnica cirúrgica de blefaroplastia
Técnicas de incisão e dissecção
A técnica de escolha para cada caso depende exclusivamente do objetivo do procedimento para aquele paciente em específico.
No contexto na blefatoplastia, as técnicas mais utilizadas estão relacionadas a região anatômica que receberá a intervenção. São elas:
- Blefaroplastia da pálpebra superior, onde é realizada a excisão em bloco de pele, músculo e gordura;
- Blefaroplastia da pálpebra inferior, que pode adotar uma abordagem mais agressiva. Pode-se remover pele ou gordura ou preservar a gordura numa abordagem mais conservadora;
- Transconjuntival, que consiste na redução de gordura em pacientes sem excesso de pele e com boa posição do canto lateral do olho;
- Blefaroplastia transcutânea, que utiliza a incisão subciliar para criar um retalho de pele ou musculocutâneo enquanto preserva as fibras orbiculares pré-tarsais;
- Suspensão do músculo orbicular do olho para eliminar herniação de estruturas periorbitais;
- Cantopexia, que objetiva elevar as estruturas orbitais e elevar o ligamento suspenso de Lockwook.
Abordagens para a remoção de depósitos de gordura e excesso de pele
A remoção da gordura e correção da dermatocálaze é realizada conforme a finalidade da técnica adotada.
Na blefaroplastia transconjuntival, por exemplo, a incisão acessa a conjuntiva e os músculos retratores, mas não se deve atingir o septo orbital, orbicular nem a pele na incisão.
Nessa técnica, o excesso de pele só pode ser removido após a remoção ou reposição da gordura.
Na blefaroplastia transcutânea, por sua vez, a gordura é removida por pequenas incisões no septo ou transferida para o sulco nasojulgular.
Dessa forma, cada técnica requer uma abordagem altamente específica para o manejo da gordura e o excesso de pele conforme o que é possível de ser realizado dentro das condições do paciente.
Quais são as principais complicações do procedimento?
A cantopexia pode alterar a curva da córnea, assim como reposicionar o músculo elevador pode afetar características refrativas, provocar irritação mecânica conjuntival e corneana e afetar o retalho da córnea.
Além das repercussões oftalmológicas possíveis, é importante ressaltar ao paciente que o resultado estético final é baseado no que é esperado conforme o plano cirúrgico, mas na prática esse resultado nem sempre é idêntico ao esperado.
A quantidade de gordura palpebral ressecada é sempre um ponto importante nesse procedimento, já que a remoção em excesso pode provocar assimetria, encovamento ou até mesmo a aparência de pálpebra afundada.
Estratégias de prevenção e abordagem de complicações durante a cirurgia
A individualização do caso, observando as limitações do procedimento, o estado atual do paciente e os resultados esperados são aspectos que ajudam a nortear a tomada de decisões e o planejamento adequado para possíveis intercorrências.
Para tanto, a realização adequada de todos os exames que compõe a avaliação pré-operatória é indispensável!
Cuidados pós-operatórios e recuperação da blefaroplastia
Os cuidados pós-operatórios incluem a observação do surgimento de edema, equimose, ptose e a avaliação da tração superior das pálpebras.
A recuperação final e completa pode durar alguns meses, contudo, dentro de 2 a 3 semanas após a cirurgia, os pacientes já costumam a estar com uma aparência agradável muito próximo do resultado final.
Dentre as complicações, a hemorragia retorbulbar é a maior temida, mas as assimetrias são as complicações mais comuns.
É importante destacar que não deve ser indicado, em nenhuma circunstância, a reoperação antes de 8 semanas do procedimento original.
Outras complicações incluem a quemose, xeroftalmia, hematoma peribulbar e alterações visuais logo após o procedimento, sendo necessário o acompanhamento desses sintomas quando surgirem.
Resultados e expectativas realistas
Durante o processo do pré-operatório é indicado que seja realizada toda a documentação fotográfica do rosto do paciente, pois isso ajuda no planejamento cirúrgico, na documentação de resultados e ser necessário a proteção legal do médico.
Esse é o momento ideal para realizar uma comunicação efetiva com o paciente para balizar suas expectativas e deixá-lo ciente sobre os riscos envolvidos na blefaroplastia, assim como deve ser realizado em qualquer procedimento.
Orientações para comunicação eficaz com o paciente sobre os resultados
Ser capaz de desenvolver uma relação médico paciente com qualidade é uma das habilidades que todo médico precisa ser capaz de possuir.
A comunicação na prática médica propicia benefícios para todos os envolvidos na relação de cuidado e assistência, como o aumento da satisfação do paciente, maiores chances de retorno e diminuição das queixas.
Essa comunicação deve ser efetiva e assertiva desde o momento da primeira consulta e não apenas no pré-operatório e/ou no pós-operatório do procedimento.
Possíveis desafios para alcance dos resultados esperados
Cabe destacar ao paciente que existem fatores como a capacidade individual de cicatrização. Além de informar repetidamente sobre os cuidados essenciais durante o pós-operatório, pois essas informações precisam estar disponíveis ao paciente.
As interferências de outros fatores como as complicações conhecidas do pós-cirúrgico devem ser consideradas, assim como é imprescindível deixar claro ao paciente que não existem garantias absolutas do resultado, embora todo o planejamento vise essa finalidade.
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Referências
- BHATTACHARJEE, Kasturi et al. Lower eyelid blepharoplasty: An overview. Indian Journal of Ophthalmology, v. 68, n. 10, p. 2075, 2020.
- GODINHO, Daniela Gonçalves. Blefaroptose: abordagem clínica da ptose palpebral. 2019.
- NELIGAN, Peter C. – Plastic Surgery, Editora Elsevier, – 3ª edição – volume 2, 2015;
- SABINO, Larissa Rocha de Andrade et al. Entrópio palpebral severo pós cirurgia de correção de ptose. Revista Brasileira de Oftalmologia, v. 78, n. 2, p. 141-143, 2019.
- PALERMO, Eliandre Costa. Anatomia da região periorbital. Surgical & Cosmetic Dermatology, v. 5, n. 3, p. 245-256, 2013.