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Confira nesta publicação um caso clínico de mononucleose e saiba mais sobre como é a condução desses casos!
Apresentação do caso clínico de mononucleose
L.S.A, 17 anos, sexo masculino, estudante, residente de Vitória- ES, procurou o serviço de pronto atendimento referindo ter iniciado há 8 dias quadro de odinofagia associada a febre aferida (38,5°C), cefaleia e adinamia. Relata ter iniciado o uso de amoxicilina há 4 dias porém sem melhora do quadro.
Há dois dias notou o surgimento de exantema em região de tronco. Nega possuir comorbidades. Nega uso diário de medicamentos. Afirma fazer uso de bebidas alcoólicas aos fins de semana, não fuma, não pratica atividade física. História familiar de pai hipertenso e diabético.
Exame físico
Regular estado geral, lúcido e orientado em tempo e espaço, acianótico, anictérico, hidratado, febril (38,9°C), normotenso (120X80 mmHg).
Pele: presença de rash cutâneo maculopapular em região de tronco.
Sistema respiratório: tórax atípico. Eupneico (18 irpm), ausência de tiragens e retrações. Expansibilidade torácica completamente preservada e frêmito toracovocal presente em toda parede torácica. À percussão: som claro pulmonar. À ausculta: murmúrio vesicular fisiológico presente sem ruídos.
Sistema cardiovascular: à ausculta: ritmo cardíaco regular, 2T, bulhas cardíacas normofonéticas, sem sopros. FC: 80 bpm.
Abdome: à ausculta: ruídos hidroaéreos presentes, normotenso, doloroso a palpação, fígado palpável a 4cm do RCD e doloroso, baço há 6 cm do RCE.
Oroscopia: orofaringe hiperemiada com placas acinzentadas.
Palpação de linfonodos: presença de gânglios cervicais posteriores com 1 a 2 cm de diâmetro, de consistência fibroelástica, levemente dolorosos, móveis.
Exames complementares
Hemograma: Hb: 13,1 ; Ht: 39,8% ; Leucócitos: 13.600 céls/mm³ com linfócitos atípicos 69,5%, segmentados 29,4%, eosinofilos 0,4%.
Plaquetas: 110.000 /mm³
PCR: 38 mg/L
Transaminases: TGO 100 U/L ; TGP 191 U/L
Anticorpos específicos Anti-EBV: IgG EBV 28,30 U/mL; IgM EBV 190 U/mL
Conclusão e discussão
Após resultado dos exames, associado às manifestações clínicas do paciente e epidemiologia do caso, o diagnóstico estabelecido foi de Mononucleose infecciosa.
O paciente é um adolescente que apresenta a tríade clássica da mononucleose (fadiga + faringite + linfadenopatia) além de outros sintomas característicos como hepatoesplenomegalia e febre. Os exames complementares só confirmaram a já suspeita do diagnóstico.
Foi prescrito como tratamento: repouso, com recomendação de evitar práticas esportivas, paracetamol 500mg 6/6horas em caso de dor ou febre. Além de gargarejos com água e sal para alívio da dor de garganta.
Questões para orientar a discussão sobre mononucleose
- O que é mononucleose infecciosa?
- Qual é o quadro clínico da mononucleose infecciosa?
- Quais são as alterações laboratoriais encontradas na mononucleose infecciosa?
- Como é feito o tratamento da mononucleose infeciosa?
- Quais é a mais importante complicação da mononucleose infecciosa?
Respostas
O que é mononucleose infecciosa?
A mononucleose infecciosa é uma infecção causada pelo vírus Epstein-Barr (EBV). É comum em adolescentes e adultos jovens. O vírus surge na saliva antes do aparecimento dos sintomas e geralmente permanece até meio ano depois.
A contaminação é por via salivar, por isso era conhecida no passado como a “Doença do beijo”. É uma doença aguda, normalmente benigna, autolimitada e extenso polimorfismo clínico. O tempo de incubação varia de um a dois meses.
Qual é o quadro clínico da mononucleose infecciosa?
A Mononucleose Infecciosa é caracterizada por expressivo polimorfismo clínico – desde situações assintomáticas até quadros que podem evoluir para o óbito. O início dos sintomas pode ser súbito ou, mais comumente, gradativo.
Nos pacientes sintomáticos, as principais manifestações são: fadiga, febre aguda ou prolongada, mal-estar, odinofagia, náuseas, dores abdominais, mialgia e cefaleia.
Ao exame físico, podemos encontrar, classicamente, a presença de:
- linfadenopatia generalizada (acometendo habitualmente cadeias na região cervical posterior),
- esplenomegalia,
- hepatomegalia e
- tonsilas hiperemiadas com exsudato membranoso à oroscopia.
O rash cutâneo, que é escalatiforme, morbiliforme, vesicular ou discretamente maculopapular, pode surgir quando o paciente faz uso de ampicilina ou amoxicilina. O período de estado dura cerca de quatro semanas.
Quais são as alterações laboratoriais encontradas na mononucleose infecciosa?
Presença de linfocitose (mais de 50%) com alterações atípicas em grande número (mais de 10%, frequentemente ultrapassando 20%, de linfócitos atípicos no sangue periférico). Trombocitopenia leva (50.000 a 100.000 plaquetas/mm3).
Desenvolvimento de anticorpos heterófilos; desenvolvimento de anticorpos anti-vírus Epstein-Barr (EBV). Elevação das aminotransferases (TGO e TGP).
Como é feito o tratamento da mononucleose infeciosa?
Não há fármaco antiviral específico que atue adequadamente na terapêutica. A enfermidade evolui para a resolução clínica em um a dois meses − recuperação habitual em duas a quatro semanas – e, mais raramente, após 120 dias. Os doentes com doença aguda não complicada exige apenas terapia sintomática.
Quais é a mais importante complicação da mononucleose infecciosa?
Analgésicos (paracetamol ou dipirona) podem ser usados para tratamento da dor ou febre. Evitar o uso do ácido acetilsalicílico pois há relação da mononucleose infecciosa com síndrome de Reye. Gargarejos com água e sal podem ser utilizados para alívio da dor de garganta.
O repouso é recomendado para pacientes com febre, mal estar e mialgias, a despeito do pequeno respaldo na literatura científica para tal conduta.
Aqueles pacientes que apresentarem esplenomegalia devem ser estimulados a evitar práticas esportivas por pelo menos seis semanas e/ou até a resolução da esplenomegalia devido ao risco de ruptura traumática do baço.
O uso de glicocorticoide deve ser considerado nos casos de obstrução de vias aéreas por hipertrofia das amígdalas, anemia hemolítica, trombocitopenia com hemorragia, convulsões e meningite.
Complicações da mononucleose
As múltiplas complicações que podem surgir refletem a variedade de órgãos comprometidos, o polimorfismo da doença. A complicação mais severa é a ruptura esplênica, que pode ser fatal.
Tratamento é sintomático e se recomenda repouso, como forma de evitar a ruptura esplênica.
- Área: Clínica médica/ infectologia
- Autores: Raquel Bonicenha
- Revisor(a): Klysmeynny Rosa Pasolini
- Orientador(a): Paulo Alves Bezerra Morais
- Liga: SIMULI – Liga Acadêmica de Simulação Realística do Espírito Santo