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Você imagina como o cérebro reage durante a morte? O que se passa na nossa mente durante os últimos minutos de vida?
Esse artigo tem como objetivo trazer possíveis respostas para esses questionamentos e debater o tema. O conteúdo tem como base um estudo científico publicado pela revista científica Frontiers in Aging Neuroscience (2022).
A morte de um paciente
Todos os médicos irão lidar com a perda de um paciente no decorrer da sua carreira. No entanto, ainda são poucos os registros de como o nosso cérebro reage ao fim da vida.
No estudo científico publicado na revista científica Frontiers in Aging Neuroscience (2022), uma equipe de cientistas que monitorava as ondas cerebrais de um paciente descobriu que é possível que a vida passe como um filme antes da morte.
Como funcionou o estudo científico?
O paciente de 86 anos, diagnosticado com epilepsia, deu entrada na emergência após um hematoma subdural traumático, resultante de uma queda.
Inicialmente, sua escala de coma de Glasgow (ECG) era 15. No entanto, ele rapidamente deteriorou para uma ECG de 10. Além disso, evoluiu com anisocoria e reação bilateral à luz.
Após o hematoma subdural ser confirmado por uma tomografia computadorizada, foi realizada uma craniotomia descompressiva esquerda para remover o hematoma.
No pós-operatório, o paciente permaneceu estável por dois dias antes de evoluir para o óbito devido a uma parada cardíaca.
Durante o momento do óbito, o paciente em questão estava realizando um eletroencefalografia (EEG), que consiste em um exame de métodos gráficos.
Esse exame registra as correntes elétricas do cérebro no momento da sua morte. Esse foi o primeiro EEG contínuo do cérebro humano na fase de transição para a morte descrito na literatura.
O comportamento do cérebro no fim da vida
Enquanto realizava o exame, foi possível perceber que houve um aumento nas ondas cerebrais, conhecidas como oscilações gamma.
A onda cerebral gamma, definida por frequências entre 30Hz e 70Hz, é a de maior onda de frequência. De acordo com Keil (2001), essa onda é correlacionada ao processamento de estímulos visuais, táteis e auditivos.
Essa onda também é influenciada principalmente pela reação visual. Dessa forma, quanto maior a frequência gamma, mais rápido é possível lembrar-se de algo que foi esquecido.
Assim, devido a oscilações envolvidas na recuperação da memória, o cérebro pode ter reproduzindo uma última recordação de eventos importantes da vida pouco antes da morte do paciente.
Por se tratar de um paciente com quadro de epilepsia e convulsões, não há como garantir que a experiência de todas as pessoas é assim. Além disso, esse é o único caso relado na literatura.
Qual a opinião dos especialistas?
Para o neurocirurgião Ajmal Zemmar, cientista da Frontiers in Aging Neuroscience (2022), essa pesquisa nos mostra que ainda que nossos entes estejam prontos para nos deixar, o cérebro deles pode estar repassando os momentos que eles experimentaram na vida”.
Assim como em todas as áreas da medicina, a neurologia segue avançando e nos inspirando.
Referências
Frontiers in Aging Neuroscience. Enhanced Interplay of Neuronal Coherence and Coupling in the Dying Human Brain. 2022. Disponível em:
KEIL, A. Functional correlates of macropic high frequency brain activity in the human visual system. 2001. Neuroscience Biobehav. Revista 25.