Índice
- 1 Quais as duas maneiras principais de antecipar a medicina do futuro?
- 2 Um viajante na medicina do futuro
- 3 Será que somos conservadores no ensino médico?
- 4 Comportamento da nova geração de alunos de medicina
- 5 A nova sociedade
- 6 Descentralização da autoridade institucional
- 7 Como será a faculdade de medicina do futuro?
- 8 Será possível realizar intercâmbios na medicina do futuro?
- 9 Como será a certificação e atuação dos médicos na medicina do futuro?
- 10 Ainda existiria CRM?
- 11 Conclusão sobre a Faculdade de medicina do futuro
Como será a faculdade de medicina do futuro? Quando pensamos em qualquer exercício de prever o futuro a gente incorre numa alta chance de errar.
Ao imaginar como vai ser a faculdade de medicina do futuro, já pensamos em um cenário de tendências. Embora muita gente possa pensar que estaremos imersos em modelos de realidade virtual ou treinamentos em robôs com inteligência artificial.
Quais as duas maneiras principais de antecipar a medicina do futuro?
- As previsões mais confiáveis são baseadas no reconhecimento tendências atuais e projetando uma continuação dessas trajetórias.
- Partes de um futuro alternativo podem ser previstas e poderá acontecer se tivermos vontade e entendimento necessário
É claro que, já gerenciando as expectativas deste artigo, não queremos adivinhar o futuro, mas capturar parte dos sinais atuais e ajudar a construir algo que seja mais coerente com que a sociedade precisa em termos de formação de médicos para o mundo.
Ao ler tente estar com a mente aberta e não se afixar nas soluções que temos hoje, pois no exercício da futurologia tudo é possível e as barreiras não são limitantes.
A limitação nesse caso passa a ser a nossa forma de pensar. Somos imediatamente contaminados com a realidade atual. Novamente queria dizer que não tenho a menor pretensão de acertar… E se soar muito fora da caixa é porque o objetivo de refletir foi cumprido. Conseguimos fazer todos pensar.
Um viajante na medicina do futuro
Vamos fazer um exercício abstrato. Imagine que um viajante do passado saísse de 1920 para 2020. Certamente ele iria se maravilhar com algumas coisas como:
- “O que é esse aparelhinho retangular no qual pessoas ficam falando com fantasmas.”
- “Que incrível essa máquina de escrever com teclado levinho”
- “Como evoluiu o avião e o carro”
Nosso viajante iria ficar maravilhado com muitas coisas, mas certamente não iria achar que a faculdade de medicina e seu ensino tiveram muita evolução.
Além disso, ele iria até gostar de uns bonecos e modelos tridimensionais, mas iria observar que o cadáver continua na mesa. Para contra argumentar com o viajante do tempo a gente poderia falar para ele:
Calma meu amigo, evoluímos no ensino sim! Olha esse projetor, buscamos artigos na internet e não na biblioteca… Olha os equipamentos que temos agora, olhe esses bonecos que falam e simulam diversos cenários…
Até aceitamos que alguns desses argumentos tem relevância, contudo, o processo de ensino e aprendizagem dentro das faculdades de medicina quando comparados com a evolução do mundo exterior andou em passos de tartaruga.
Será que somos conservadores no ensino médico?
Sim, somos extremamente conservadores no ensino médico e elenco algumas razões aqui – não me limito a elas:
- Medicina lida com vidas e naturalmente somos mais conservadores com temas como erro.
- É uma profissão historicamente das elites. Desde tempos remotos os médicos tem uma relevância social e isso torna a natureza do oficio mais conservadora.
- Processo tradicional que é pertencente a um grupo regulado e restrito o que torna a competição difícil e inovação idem.
Todo esse cenário cria um ambiente de resistência a inovação no ensino médico. A resistência à mudança tende a vir daqueles que estão rotineiramente desconfortáveis com qualquer desvio da zona de conforto.
Quando falo de inovação, não necessariamente me refiro a incorporação de tecnologia de software ou hardware. Sobretudo, levo em consideração pensar fora da caixa modelos novos, ser mais permissivo com os objetivos e formas.
Sob essa ótica, que vou listar algumas tendências abaixo e possíveis soluções ou caminhos que podem se desenhar num futuro:
- Padrões de doenças, ideias sobre educação médica e tecnologias relevantes para a prática de educação médica estão evoluindo em um ritmo sem precedentes.
- Agora entendemos maneiras de acelerar as mudanças. E como nós mesmos e nossas instituições podemos ajudar médicos e a educação a se adaptar ao futuro que chega.
Assim, como não podemos agora conhecer todas as mudanças que nossos estudantes atuais enfrentarão no futuro, precisamos ser mais eficazes na sua preparação
Adaptado de Hilliard Jason (2018): Future medical education: Preparing, priorities, Possibilities.
Comportamento da nova geração de alunos de medicina
Em um mundo digital, os alunos são bem diferentes das gerações passadas. Eles são aprendizes digitais hiperconectados através do Internet. A educação hoje compete com as redes sociais e com o entretenimento.
Sem pitadas de diversão e emoção não vamos conseguir a atenção dos alunos. O conteúdo deve estar facilmente acessível e disponível caso o aluno precise.
Devemos ter cuidado com a sobrecarga de conhecimento que pode ser pouco útil para resolução de problemas reais. O desafio é ensinar o aluno a buscar, aprender e ter criticidade.
Reter conhecimento é cada vez menos relevante atualmente e no futuro. As máquinas conseguirão entregar conteúdo assertivo de forma muito rápida. As instituições precisam observar o que é importante para o aluno. Existe um choque de gerações que precisa ser olhado rapidamente.
A nova sociedade
As demandas da sociedade também mudaram. O novo médico precisa estar muito aberto as demandas dos novos pacientes. Esses muito mais inteirados das suas condições e munidos de bastante informação. Há um novo protagonismo do paciente em termos de decisão e demanda por informação qualificada.
O papel do médico não necessariamente vai ser de uma autoridade, mas de um facilitador do processo de auto cuidado. Vejam algumas mudanças relevantes deste processo:
- A crescente prevalência de doenças relacionadas ao estilo de vida
- Compreensões crescentes dos fatores genéticos na saúde e doença.
- Necessidade de revisar parte do nosso pensamento de categoria de doença
- Compreensão da aprendizagem e as implicações para a educação
- A crescente quantidade e qualidade do ensino pesquisa
- Estudantes “nativos digitais” (muitos professores são ainda “imigrantes digitais”)
- Paradigma do conteúdo sendo produzido em “Crowdsourcing” (colaborativo)
- Estudantes que preferem organizações horizontais que hierárquicas
Adaptado de: Han et al. BMC Medical Education (2019) 19:460
Descentralização da autoridade institucional
O eixo da autoridade técnica estava em grande parte na mão das instituições (hospitais, faculdades…) e hoje está mais democratizado. O melhor professor não é o mais titulado, mas aquele que faz o aluno aprender de forma crítica. Os micro aprendizados serão medidos e chancelados no futuro.
Como será a faculdade de medicina do futuro?
Considerando tudo acima como ficaria a faculdade de medicina do futuro? O médico do futuro vai começar seus estudos em uma universidade aberta e digital.
De posse do seu login e senha vai ver as disciplinas disponíveis para começar e fazer testes de nivelamento que vão determinar:
- Trilhas ideais para começar de acordo com seu background de ciências
- Raciocínio lógico
- Habilidades de comunicação
Além disso, um sistema irá montará toda sua jornada obrigatória e uma série de estágios. Assim, o aluno poderá fazer diversos cursos sem prazo específico. Ele vai ser certificado em disciplinas ou matérias como um profissional que evolui na medida que aprende.
Poderá fazer o currículo em seu tempo e da sua forma, adaptado a sua realidade. Algumas experiências serão pagas como:
- Observar o melhor cirurgião do mundo de joelho
- Participar de aulas especiais
Porém, o acesso ao conteúdo será muito barato, uma vez que as aulas serão vistas por milhares de estudantes e médicos de todo o mundo. Existirá na plataforma formas de cadastro de entidades:
- Governamentais
- Hospitais
- Centros de saúde
- Comunidades rurais e filantrópicas que oferecem experiências de voluntariado e aprendizado com tutores cadastrados e validados.
Como será a parte prática na medicina do futuro?
Poderá discutir casos em ambientes virtuais com professores do mundo todo. Dessa forma, a jornada será centrada no indivíduo. Além disso, o ambiente digital permitirá prever se ele está apto ou não em determinada habilidade ou competência.
Serão contabilizadas suas “horas de vôo”em cada procedimento, como se fosse um internato descentralizado. Será possível acompanhar um centro de malária na África ou mesmo participar do combate a dengue no Brasil.
Será possível realizar intercâmbios na medicina do futuro?
Poderá ser feito intercâmbios em hospitais de oncologia, trauma, treinamentos em genética em centros avançados, tudo isso através de agendamentos no sistema.
Os lugares mais disputados podem selecionar os estudantes da plataforma de acordo com seus perfis e habilidades prévias, porém as possibilidades serão praticamente infinitas.
Aprender procedimentos ao redor do globo ou em seu próprio local com indivíduos que possam ensinar que irão certificar em “apto” ou “inapto” em determinada habilidade ou competência.
Como será a certificação e atuação dos médicos na medicina do futuro?
Os instrutores serão certificados por uma autoridade mundial, uma espécie de “conselho mundial de medicina e saúde”. Esse conselho irá regular o setor e adequar a formação e seus padrões.
Os países colocaram suas especificidades para o médico atuar em cada região. Por exemplo, para atuar na Amazônia, conhecimentos em medicina tropical nível IV serão exigidos.
As aulas teóricas serão dadas pelas maiores referências no tema e também por aqueles que tem o maior engajamento no meio estudantil. Os tutores poderão vender horas do seu tempo para alunos que queiram praticar ou aprender com eles em determinado ponto.
Ainda existiria CRM?
Os critérios para ser médico ativo serão relativizados. É possível ser um especialista em 5 anos desde que cumpra todos os critérios. Contudo, suas habilidades serão limitadas
A carteira de médico seria universal e para mantê-la deve-se estar em uma processo de educação continuada, revalidando-a anualmente. Ficar 3 anos sem praticar um procedimento pode te descredenciar para fazê-lo.
Os pacientes terão acesso ao currículo digital do médico onde mostra em que exatamente ele é apto ou não. Dessa forma, os próprios pacientes avaliam algumas das habilidades do indivíduo, por exemplo, comunicação e empatia.
Grande parte das tecnologias para suportar um modelo desse temos hoje:
- Blockchain para validar as horas de aprendizados e procedimentos. Garantia do currículo virtual.
- Ambientes 3D de simulações realísticas.
- Conexões de alta velocidade para acompanhar cirurgias ao vivo em todo o mundo.
- Plataformas de mensuração de habilidades e competências em modelos peer-to-peer
- Dados suportando toda jornada de ensino adaptativo para comportamentos diferentes e para chancelar aprendizados em modelos estatísticos.
Conclusão sobre a Faculdade de medicina do futuro
Isso são apenas exemplos tangíveis, fora todo o universo desconhecido que vem pela frente.
Ao final, teremos médicos mais conectados com o que a sociedade precisa, formaremos de uma forma mais barata e inteligente. Além disso, continuaremos resguardando os aspectos de segurança necessários ao exercício da profissão.