Índice
- 1 Fisiopatologia da encefalite autoimune
- 2 Fatores de risco da encefalite autoimune
- 3 Quais os principais sintomas?
- 4 Como é feito o diagnóstico da encefalite autoimune?
- 5 Quais os principais erros no diagnóstico da encefalite autoimune?
- 6 Tratamento
- 7 Referência bibliográfica
- 8 Sugestão de leitura complementar
Encefalite autoimune é uma doença em que o sistema imunológico do corpo ataca erroneamente o próprio tecido cerebral, causando inflamação e danos aos neurônios.
De acordo com dados epidemiológicos, as encefalites autoimunes são tão comuns quanto a encefalite infecciosa, com uma prevalência estimada de 13,7/100.000 pessoas ao ano.
Fisiopatologia da encefalite autoimune
A fisiopatologia da encefalite autoimune envolve uma série de eventos complexos que levam à inflamação e dano cerebral. Essa doença pode ser desencadeada por vários fatores, incluindo:
- Infecções virais, bacterianas ou fúngicas
- Tumores
- Vacinas
- Outras doenças autoimunes.
O processo começa com a ativação de células imunes específicas, como linfócitos T e B, que são responsáveis por reconhecer e combater as substâncias estranhas no organismo. Contudo, em indivíduos com encefalite autoimune, essas células imunes começam a reconhecer erroneamente componentes do tecido cerebral como estranhos e iniciam uma resposta imune contra eles.
Com isso, há produção de anticorpos que se ligam a receptores específicos no cérebro, como receptores de N-metil-D-aspartato (NMDA), ácido gamma-aminobutírico (GABA) e receptor de acetilcolina nicotínico (nAChR), entre outros.
Fatores de risco da encefalite autoimune
Os fatores de risco para encefalite autoimune incluem:
- Histórico de outras doenças autoimunes: pessoas com um histórico de outras doenças autoimunes, como esclerose múltipla, lúpus ou artrite reumatoide;
- Infecções: certas infecções virais, bacterianas ou fúngicas podem desencadear uma resposta imunológica;
- Tumores: em alguns casos, a presença de um tumor pode desencadear uma resposta autoimune que afeta o cérebro;
- Trauma craniano: lesões na cabeça podem danificar o tecido cerebral e desencadear uma resposta autoimune;
- Genética: certos genes podem aumentar o risco de desenvolver doenças autoimunes;
- Exposição a substâncias tóxicas: a exposição a substâncias tóxicas, como metais pesados ou solventes.
É importante ressaltar que muitos casos de encefalite autoimune ocorrem sem qualquer fator de risco conhecido, e a condição pode afetar qualquer pessoa, independentemente de idade, sexo ou etnia.
Quais os principais sintomas?
Os sintomas da encefalite autoimune podem variar dependendo da parte do cérebro que está sendo afetada e da gravidade da inflamação. Alguns dos sintomas mais comuns incluem:
- Alterações comportamentais e de personalidade, como agitação, irritabilidade, depressão ou mudanças de humor
- Problemas de memória, como perda de memória recente ou dificuldade em lembrar informações
- Dificuldade em falar, ler ou escrever
- Convulsões ou tremores
- Fraqueza muscular ou paralisia em uma ou mais partes do corpo
- Distúrbios do movimento, como tiques ou movimentos involuntários
- Problemas de visão, como visão dupla ou perda de visão
- Dor de cabeça intensa e persistente
É importante notar que os sintomas da encefalite autoimune podem se desenvolver e piorar rapidamente.
Como é feito o diagnóstico da encefalite autoimune?
O diagnóstico da encefalite autoimune é difícil de ser feito, pois os sintomas podem ser semelhantes aos de outras condições neurológicas e o diagnóstico geralmente envolve uma combinação de avaliação clínica, exames laboratoriais e de imagem.
Para diagnosticar essa doença primeiro é realizada uma avaliação clínica, em que o médico pode realizar uma avaliação detalhada para entender os sintomas e a história médica do paciente. Eles podem verificar sinais de inflamação no cérebro, como:
- Febre
- Rigidez do pescoço
- Dor de cabeça
O médico também pode solicitar um exame de sangue. Nesse método é possível detectar anticorpos que indicam a presença de uma resposta autoimune no corpo. Os exames de imagem como tomografia computadorizada (TC) ou ressonância magnética (RM), também são importantes para verificar se há sinais de inflamação no cérebro.
O médico pode solicitar um EEG (eletroencefalograma) para avaliar a atividade elétrica do cérebro e verificar se há sinais de convulsões. Em casos raros, pode ser necessário fazer uma biópsia cerebral para confirmar o diagnóstico.
É importante lembrar que o diagnóstico da encefalite autoimune pode ser complexo e pode exigir uma equipe de especialistas em neurologia, imunologia e outras áreas de especialidade para chegar a um diagnóstico preciso.

Quais os principais erros no diagnóstico da encefalite autoimune?
O diagnóstico preciso da encefalite autoimune pode ser desafiador, uma vez que os sintomas da doença podem se sobrepor a outras doenças neurológicas.
Os principais erros diagnósticos comuns incluem:
- Diagnóstico incorreto de distúrbios psiquiátricos
- Diagnóstico incorreto de epilepsia
- Infecções diagnosticadas incorretamente
- Diagnóstico incorreto de doenças neurológicas
Diagnóstico incorreto de distúrbios psiquiátricos
Os sintomas iniciais da encefalite autoimune, como mudanças de comportamento, confusão e alucinações, podem ser confundidos com transtornos psiquiátricos, como depressão ou esquizofrenia. Isso pode levar a um atraso no diagnóstico correto.
Diagnóstico incorreto de epilepsia
A encefalite autoimune pode causar convulsões, que podem ser confundidas com epilepsia. Se os sintomas forem interpretados incorretamente, o tratamento para epilepsia pode ser iniciado, mas isso não será eficaz na resolução dos sintomas.
Infecções diagnosticadas incorretamente
Alguns sintomas da encefalite autoimune, como febre e dor de cabeça, podem ser confundidos com infecções.
Os pacientes podem receber tratamento para infecções sem que o diagnóstico correto da encefalite autoimune seja feito.
Diagnóstico incorreto de doenças neurológicas
Os sintomas da encefalite autoimune podem ser semelhantes aos de outras doenças neurológicas, como a esclerose múltipla. Se o diagnóstico for incorreto, o tratamento pode ser inadequado.
Além disso, por ser uma doença rara, essa patologia muitas vezes é subdiagnosticada. Muitos casos podem ser erroneamente classificados como “distúrbios neurológicos inexplicáveis” ou “demência” sem investigações adicionais, resultando em um atraso no tratamento e a progressão da doença.
É importante que os médicos considerem a encefalite autoimune como uma possibilidade em pacientes com sintomas neurológicos inexplicáveis, especialmente se houver antecedentes de doenças autoimunes na família ou no próprio paciente. A realização de testes de autoanticorpos e a avaliação da ressonância magnética cerebral podem ajudar no diagnóstico precoce da encefalite autoimune.
Tratamento
O tratamento geralmente envolve uma combinação de terapias imunossupressoras e imunomoduladoras, incluindo:
- Corticosteroides: medicamentos como a prednisona são comumente prescritos para reduzir a inflamação no cérebro
- Imunoglobulinas intravenosas (IVIG): são administradas para aumentar a quantidade de anticorpos no corpo e diminuir a atividade imunológica desregulada
- Plasmaférese: é um procedimento em que o plasma é removido do sangue e substituído por um substituto artificial. Esse procedimento é feito para eliminar anticorpos que podem estar causando danos
- Imunossupressores: medicamentos como a azatioprina, metotrexato e ciclofosfamida. Podem ser usados para suprimir a resposta imunológica e reduzir a inflamação no cérebro
- Terapias biológicas: os medicamentos biológicos, como o rituximabe, que se ligam às células do sistema imunológico e as eliminam, também podem ser usados
- Anticonvulsivantes: podem ser prescritos para tratar convulsões que podem ocorrer como resultado da encefalite autoimune
O tratamento da encefalite autoimune é individualizado e pode variar dependendo da gravidade da condição e da resposta do paciente ao tratamento. Todos os procedimentos devem ser supervisionados por um neurologista especializado em doenças autoimunes do sistema nervoso.

Referência bibliográfica
- ASSOCIAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA. Encefalite autoimune. Disponível aqui. Acesso em 27 de Fevereiro de 2023.
- Bai Y, Guan Q, Jiang J, Zhang Z. Treatment principles of ovarian teratoma with anti-N-methylD-aspartate receptor encephalitis. Arch Gynecol Obstet 2016; 294(3):623-9. doi: 10.1007/s00404- 016-4050-9. PMID: 27056053.