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Estudos em Medicina: Técnicas para aprender mais rápido | Especialistas

Estudos em Medicina: Técnicas para aprender mais rápido | Especialistas

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Hoje vou te contar algo mais específico, ok?

Agora que você já leu os artigos anteriores e, portanto, já sabe que existem estratégias eficientes para estudar, vamos começar neste momento a destrinchar como o seu estudo será montado. Para isso, vou te apresentar a partir de hoje alguns conceitos importantíssimos!

Active Recall

Active recall ou “lembrança ativa” é um conceito bem simples e direto: Lembrar de forma ativa sobre determinado assunto durante o estudo é mais proveitoso do que simplesmente ler sobre esse assunto novamente.

Vou explicar. Vamos dizer que você está precisando estudar para uma prova de Clínica Médica que, entre outras matérias, vai cobrar os mecanismos de funcionamento de anti-hipertensivos, como o captopril.

Você, então, escreveu tudo sobre isso no seu caderno (ou, talvez, tirou “xerox” do caderno daquela sua amiga perfeccionista) e tem a seguinte frase:

– “Captopril é um inibidor da Enzima Conversora de Angiotensina”

Muito bem, o próximo e mais natural passo para que você decore essa informação é ler por repetidas vezes até ficar bem sedimentada no seu cérebro. Esta sequência é o que a maioria das pessoas fazem e tem um nome: Passive Review, ou, em português, revisão passiva.1

Diferente disto, você pode começar, a partir de hoje, a fazer o seguinte. Pergunte-se a si mesmo (e sem olhar no caderno):

– “Qual droga funciona por inibir a Enzima Conversora de Angiotensina?”

Você pode escrever a resposta, falar ou até mesmo só pensar. Se não souber a resposta, tudo bem, olhe para seu caderno e lembre-se dela.

Continue, após isso, mudando o foco da sua pergunta:

– “Qual enzima é inibida pelo captopril?”

Esse é, basicamente, o Active Recall.2   Use ativamente sua memória para fixar conteúdos durante seu estudo.

Agora, dito isso, posso admitir que a ideia de fazer essa técnica pode até dar certa preguiça, afinal, é muito mais fácil apenas ler o que está na sua frente, não é?

Acontece que estudos já compararam as duas formas de estudar e chegaram à conclusão de que o Active Recall é bem mais eficiente que o Passive Review, de forma que esse pequeno esforço a mais garante um resultado muito melhor e, dos muito mecanismos neurológicos envolvidos, é bem fácil de compreender.

O Efeito Feedback

O conceito de Feedback já caiu tanto no senso comum e também no linguajar do dia-a-dia que, às vezes, podemos esquecer de sua importância. Estamos acostumados a ver empresas pedindo feedback de funcionários; artistas contando do feedback do público em shows e até aplicativos solicitando nosso feedback no celular (sempre em horas inapropriadas).

Desse jeito, fica fácil relegar este conceito em nossas mentes à seção de “figuras de linguagem” e não pensar muito a seu respeito. No entanto, quero te lembrar do motivo pelo qual este mecanismo, descrito em inúmeros processos fisiológicos de nosso corpo, revolucionou nossa compreensão da medicina. É simples, ele funciona, e muito!

Basicamente, o que o feedback faz é contar pro autor de uma determinada ação à distância, seja ele nosso cérebro, glândula adrenal ou tireoide, se o resultado desta ação, teve o efeito desejado. Afinal, já que eles não têm WhatsApp (com suas duas setas azuis), precisam de um jeito para saber que a outra parte do corpo recebeu as ordens deles. 

E como eles fazem isso?

Recebendo um estímulo em retorno, enviado quimicamente do local para onde sua ordem foi enviada. É este retorno químico que chamamos de feedback. Se o objetivo foi cumprido, então ótimo, pode parar de dar à ordem porque seu objetivo foi cumprido.

Agora, se não recebem nenhum feedback ou se o feedback que chega é negativo (o oposto do que queria), então entendem que devem continuar a ordenar o que querem, pois, seja lá o que queriam que ocorresse, ainda não deu certo.

E o que o seu estudo tem a ver com isso?

Veja, a seguir:

O efeito teste

Acontece que nossa mente também funciona, entre outros métodos, pelo feedback. E isso não se aplica apenas restritamente à nossa memória, mas também às nossas emoções. Quase tudo em nossa mente funciona com secreção de neurotransmissores em alguma parte e estas não fogem à regra.

Você com certeza vai saber me contar sobre a frustração que é não lembrar de algo quando precisa, principalmente em uma situação que for importante, quando está na “ponta da língua”. Essa mesma frustração vai fazer com que da próxima vez que você ler a informação, certamente a fixará. O feedback atuou aí de forma negativa, te dizendo a importância de saber tal informação.

O mesmo vai ocorrer de forma inversa, a positiva: quanto mais você estuda e mais, ao testar-se, percebe que está evoluindo, mais essa sensação prazerosa te estimula a continuar estudando.

Infelizmente, o feedback negativo vem antes do positivo, e disso não gostamos muito, em geral. Mas, não leva muito tempo para um se tornar o outro, basta constância nos seus estudos.

Agora, como o tópico já diz, não existe situação mais vívida desses efeitos que o teste. Se for dado por um examinador em sala, é uma prova. Mas se você resolver testes em casa, tem o mesmo efeito, e sem o prospecto aterrorizador de não saber nada. Se você errar, ótimo, faz parte do método de estudo. Inclusive resolva a mesma questão diversas vezes e alternadas com outras, até começar a acertar e até, depois disso também. Esse é o estudo pelo “efeito teste”4.

Então, vamos sumarizar o que te contei hoje.

  1. Não apenas leia passivamente sua matéria. Faça active recall.
  2. Sentimentos negativos e positivos fazem parte do seu estudo. Eles são feedback naturais do seu organismo. Use-os a seu favor.
  3. Separe parte do seu estudo para resolver testes. Erra-las não são um sinal obrigatório que você deve estudar mais e voltar depois. Aprenda com as respostas.

Por hoje é só, bons estudos e te vejo na próxima!

Autor: Rafael Eliahu Vaidergorn

Instagram @dr.rafavaidergorn

Linkedin: www.linkedin.com/in/rafael-eliahu-vaidergorn-3ab2a417b

Confira o vídeo: