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A Dra. Natália Garção neste artigo propõe desmistificar a fake news do envelhecimento que envolve o envelhecimento e a alteração cognitiva patológica. Venha saber mais com a coluna da geriatra!
O envelhecimento leva inexoravelmente a redução da vitalidade dos nossos sistemas, resultando na diminuição da nossa reserva funcional. De forma heterogênea e mais ou menos acelerada, isso ocorre com todos os nossos órgãos, inclusive com nosso cérebro. Então, fica fácil deduzirmos que o envelhecimento vai gerar algum tipo de alteração na nossa cognição. Agora a grande questão é sabermos separar o joio do trigo.
O que são alterações cognitivas próprias do envelhecimento e o que é patológico? Essa diferenciação, que nem sempre é fácil na prática, ainda mais em quadros iniciais de síndromes demências, é fundamental quando pensamos no acompanhamento e cuidados do paciente idoso.
Envelhecimento e alteração cognitiva: como distinguir o que é próprio do envelhecimento e o que é patológico?
O primeiro ponto que precisamos ter muito claro, nenhuma alteração cognitiva que leve à perda de funcionalidade deve ser considerada normal ou relacionada ao envelhecimento.
Sempre que estamos diante de queixas cognitivas, precisamos avaliar a funcionalidade (lembrem-se das escalas de atividades de vida diária). Se ela vier alterada, isso é um super ponto de atenção e precisamos sempre fazer uma investigação mais pormenorizada.
Síndrome demencial
O conceito de síndrome demencial é justamente a presença de alteração cognitiva confirmada por testes cognitivos associada à alteração na funcionalidade.
Aquele velho diagnóstico de demência senil já caiu a tempos por terra. Isso porque entendemos que as demências, não importa a etiologia (Alzheimer, demência vascular, demência por corpúsculos de lewy etc), tem uma causa fisiopatológica que não está condicionada ao processo de envelhecimento por si só, apesar de muitas delas serem mais frequentes nos pacientes idosos.
Aqui vale a comparação com várias outras patologias, como hipertensão, infarto, AVC, a idade pode ser um fator de risco, mas ela não é a causa primária para o desenvolvimento dessas doenças.
Ficando claro o primeiro ponto, agora vamos falar de alterações cognitivas que podem acontecer com o envelhecimento e podem ser consideradas benignas, portanto, não vão reduzir a funcionalidade.
Alteração cognitiva própria do envelhecimento
Na prática é muito comum os pacientes e/ou seus familiares reclamarem que a memória com o tempo vai ficando mais fraca e a memória é sim uma das áreas da cognição que mais é comprometida pela idade.
A memória operacional (aquela que usamos para lembrar de coisas mais rápidas no dia-a-dia, por exemplo, guardar um número de telefone) e a memória episódica tendem a ser as mais atingidas. Mas, além disso, a linguagem para nomes e objetos (principalmente se forem mais recentes) também pode ser afetada.
De forma mais moderada, a função executiva que é o que nos permite exercer atividades mais complexas e a capacidade visuoespacial também podem ser impactadas. Já de forma mais branda, podemos perceber alterações na linguagem para vocabulários e sintaxe (criação de frases).

Envelhecimento e alteração cognitiva: como é na prática médica?
Na prática, sempre que o paciente ou acompanhante trazer para a consulta uma queixa cognitiva qualquer que seja, lembrando que cognição é algo muito mais que a memória, o primeiro passo é realizar os testes cognitivos para constatarmos se de fato existe um déficit e acessar a funcionalidade.
Se não identificarmos alteração na funcionalidade e os testes estiverem normais para escolaridade, podemos ficar tranquilos e orientar que de fato se trata de alterações “benignas” da idade.
Indicações para o paciente
Vale indicar manter a mente ativa, ou seja, aprender coisas novas, fazer exercícios para estimular o raciocínio, manter-se ativo mentalmente e também fisicamente, além de uma alimentação adequada.
Orientações sobre estilo de vida que impactam de forma positiva não apenas na saúde cerebral, mas na saúde global de todos nós. Mas, e se o teste vier alterado e a funcionalidade for normal? Esse é assunto para outra coluna.
Referências da coluna
Tratado de Geriatria e Gerontologia. Freitas, E.V.; Py, L.; Neri, A. L.; Cançado, F. A.. X.C.; Gorzoni, M.L.; Doll, J. 4ª. Edição.
Tratado de Medicina de Urgência no Idoso. Papaléo Neto, M.; Brito, F. C.; Giacaglia, L. R.. Editora Atheneu, 2010.
Sugestão de leitura complementar
- Capacidade funcional do idoso: o que é, importância e como avaliar
- O que você precisa saber sobre a fisiologia do envelhecimento
- Envelhecer no Brasil: a construção de um modelo de cuidado
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