Índice
Introdução
Em 1876, o dermatologista alemão Heinrich Koebner relatou a formação de lesões semelhantes a psoríase – em áreas previamente saudáveis – após traumas como: escoriações, mordidas de animais e tatuagens. A partir dessa observação inicial, foi notada a repetição desse fenômeno em outras entidades dermatológicas como o líquen plano e o vitiligo.
Dessa forma, surgiu o termo Fenômeno de Koebner, também chamado de Fenômeno Isomórfico – “forma igual” – que denomina o aparecimento de lesões após trauma de natureza física, química, ou biológica.
Epidemiologia
Alguns artigos demonstram que o fenômeno de Koebner é mais frequente em pacientes do sexo feminino, enquanto que outros não apontam essa predileção. Contudo, foi uma unanimidade entre os estudos que o fenômeno tem uma maior incidência durante o inverno.
Ademais, o fenômeno de Koebner está presente em cerca de 25% dos pacientes com psoríase. Em um estudo com cerca de 2000 pacientes portadores de psoríase, foi notado um aumento de 37% do fenômeno de Koebner durante períodos de stress, demonstrando a correlação positiva entre o fenômeno e o estado emocional dos pacientes.
Classificação
Devido à divergência de autores a respeito do que se enquadraria no fenômeno de Koebner, foi criada uma classificação para melhor entendimento dessa entidade e assim surgiu a classificação de Boyd–Nelder:
- Verdadeiro Koebner – refere-se à reprodução da lesão devido a um trauma físico ou químico, sem a ocorrência de infecção externa ou de processos alérgicos. Como por exemplo: casos de vitiligo, psoríase e líquen plano;
- Pseudo-Koebner – ocorre a partir de uma infecção, como no caso do molusco contagioso, ou da perda de integridade celular com não proliferação, como na piodermite gangrenosa;
- Lesões ocasionais – quando as lesões se apresentam semelhantes ao fenômeno, como no eritema multiforme e sarcoma de Kaposi;
- Lesões trauma-induzidas questionáveis – são aquelas nas quais as lesões não estão completamente relacionadas ao trauma, como no lúpus eritematoso, dermatite herpetiforme e xantaloma eruptivo.
Fisiopatologia e Fatores desencadeantes
Infelizmente, a fisiopatologia do fenômeno de Koebner ainda não foi totalmente elucidada, contudo, o que se tem conhecimento atualmente divide-se em duas etapas:
A primeira, se refere a ocorrência do trauma que gera a produção de citocinas e moléculas de adesão, dentre outras substâncias. A segunda, seria a reação da doença pré-existente a esse trauma que acarretaria um aumento da quantidade de linfócitos T, linfócitos B, auto-anticorpos e do fator de crescimento nervoso (NGF).
O NGF participa ativamente da proliferação de queratinócitos, da angiogênese e da ativação de linfócitos T. Seu aumento pode ser notado a partir de 24 horas após o trauma, atingindo níveis máximos em cerca de 14 dias.
Quanto aos fatores desencadeantes do fenômeno de Koebner, como já citado anteriormente, ele pode ser devido a um trauma físico, químico ou biológico. Diante disso, a tabela abaixo resume os principais fatores relacionados:

Fonte: Criado por autora.
Inibição do fenômeno de Koebner
Diversos estudos foram realizados na tentativa de se descobrir um método para realizar a inibição da fisiopatologia desse fenômeno. A aplicação de pressão local demonstra uma diminuição do processo e a aplicação de adrenalina, após o trauma, também demonstra esse efeito, neste caso provavelmente devido a sua ação vasoconstritora. Contudo, o uso de lidocaína, de colchicine ou de esteroides tópicos não promoveram efeitos na inibição do fenômeno de Koebner.
Para saber mais sobre o assunto
Resumo sobre Psoríase (Completo), escrito pelo Núcleo de Desenvolvimento Médico de Sobral (NUDEMES) – https://www.sanarmed.com/resumo-sobre-psoriase-completo-ligas
Líquen plano: a história de uma cooperação de sucesso, artigo escrito por Sofia Sousa e Silva, Catarina Meireles, Fátima Costa e Susana Carvalho – http://www.scielo.mec.pt/pdf/rpmgf/v32n2/v32n2a08.pdf
Psoríase e sua relação com aspectos psicológicos, stress e eventos da vida, artigo escrito por Kênia de Sousa e Eliana Aparecida Torrezan – https://www.scielo.br/pdf/estpsi/v24n2/v24n2a12.pdf
O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.
Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.
Referência Bibliográfica
Porto C, Semiologia Médica. 7 Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016.
Sagi L, Trau H, The Koebner phenomenon. Clinics in Dermatology: Elsevier, 2011.
Weiss G, Shemer A, Trau H, The Koebner phenomenon: review of the literature. European Academy of Dermatology and Venereology: JEADV, 2002.