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Hepatotoxicidade: uma possível causa da morte da cantora Paulinha

Hepatotoxicidade: uma possível causa da morte da cantora Paulinha

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Definição

De maneira simples, hepatotoxicidade é o dano ao fígado causado por alguma substância química, sejam medicamentos, chás, esteroides ou outros suplementos alimentares. Hoje em dia, porém, torna-se cada vez mais comum o uso de suplementos alimentares e chás com objetivo de atingir um padrão estético e o aumento exponencial da automedicação.

Epidemiologia

Os estudos mais atuais e dados do Sistema Nacional de informações Tóxico-Farmacológicas da Fiocruz trazem que 27% das intoxicações são causadas por medicamentos e nos Estados Unidos o paracetamol é responsável por 15% dos transplantes hepáticos. Além disso, também é notório o aumento da prevalência dos danos hepáticos induzidos por chás e suplementos, chegando a 20% em 2014.

Fisiopatologia

A principal droga relacionada à hepatotoxicidade é o acetaminofeno/paracetamol. O mecanismo fisiopatológico desse dano deve-se ao esgotamento da glutation, exaustão de ATP, redução da atividade mitocondrial e consequente inibição da troca respiratória causando a lesão do órgão.

No entanto, o dano tóxico ao fígado por chás e suplementos ainda não tem uma causa específica definida. A hepatotoxicidade pode ocorrer pela alta dose utilizada, por substâncias tóxicas intrínsecas ao medicamento, erva ou ao suplemento, variações fenotípicas do usuário como alterações enzimáticas, por exemplo, ou interações com outros fármacos utilizados. As ervas mais comumente associadas são a camélia sinensis, conhecido comercialmente como chá verde, a cavalinha, kava-kava, chá de sene e outras ervas que muitas vezes são vendidas e consumidas como inofensivas.

A manifestações clínicas da hepatotoxicidade podem variar de uma alteração das enzimas hepáticas, colestase, até uma cirrose hepática. Por isso, a fisiopatologia pode variar de acordo com a forma de agressão. No entanto, é preciso citar as formas mais comuns de dano: hepatite fulminante e colestase.

A colestase ocorre quando a bile não consegue refluir do fígado. O tipo de colestase comumente associada com intoxicações por fármacos, esteroides e algumas ervas é a colestase hepatocanalicular ou colestase intra-hepática. Ela ocorre por um defeito secretor em organelas intracelulares do hepatócito ou lesão ao nível do canalículo biliar. Correlacionando aos esteroides, que são os principais causadores, essa colestase ocorre por inibição ou disfunção de proteínas transportadora de ácidos biliares o que pode gerar interrupção do transporte e secreção de bilirrubina e ácidos biliares.

A hepatite fulminante, também muito comum dentre as reações a fármacos e outras drogas, deve-se à ação citotóxica direta e devido a lesões citopáticas devido ao dano mitocondrial, levando a necrose hepatocelular maciça com arquitetura hepática preservada ou não. Além disso, pode existir o colapso lobular, infiltrado inflamatório e proliferação ductal.

Quadro clínico  

Dentre as manifestações clínicas na colestase intra-hepática estão a icterícia, prurido, astenia e hiperbilirrubinemia. No entanto, muitos pacientes podem apresentar um relativo bem estar.

Em alguns casos, o paciente não apresenta sintomas e as alterações são vistas apenas nos exames laboratoriais. Em outros, pode apresentar sintomas inespecíficos, tais como cansaço, fadiga, perda do apetite, náuseas e vômitos. Nos casos graves, o paciente pode apresentar dor abdominal, icterícia e desorientação, devido à insuficiência hepática, e até exigir transplante de fígado.

Já na hepatite fulminante as manifestações clínicas incluem fadiga, anorexia, náuseas, dor abdominal, febre, elevação acentuada das aminotransferases, icterícia, coagulopatia e encefalopatia. Essas quatro últimas são fundamentais para o diagnóstico do quadro.

Diagnóstico

O diagnóstico a hepatotoxicidade por drogas, chás e suplementos é baseado em achados clínicos juntamente ao relato do paciente e exclusão de outras patologias hepáticas ou sistêmicas que possam ter desencadeado o quadro clínico.

Por isso, vale observar se há icterícia, encefalopatia, alargamento do tempo de protrombina, elevação das aminotransferases e os outros sinais clínicos mais gerais como febre, dor abdominal, náuseas e fadiga.

Tratamento

Primeiramente, é importante que seja cessado o uso da substância que esteja causando o dano hepático.

A seguir, o tratamento feito é basicamente de suporte, com o objetivo de evitar e tratar as complicações, permitindo que haja tempo de regeneração hepática. Além disso, é importante avaliar se há necessidade de um possível transplante de fígado.

Em casos graves, a consulta a um especialista deve ser indicada, em particular se o paciente apresentar icterícia hepatocelular e comprometimento da função de síntese, já que o transplante de fígado poderá ser a opção terapêutica a ser considerada. Antídotos para lesão hepática induzida por fármaco ( LHIF) estão disponíveis apenas para algumas hepatotoxinas; esses antídotos incluem N-acetilcisteína para a toxicidade por paracetamol e a silimarina ou penicilina para toxicidade por Amanita phalloides.

Perguntas frequentes

  1. O que pode causar?

Medicamentos, chás, esteroides ou outros suplementos alimentares

2. Quais os sintomas?

Em alguns casos, o paciente não apresenta sintomas e as alterações são vistas apenas nos exames laboratoriais. Em outros, pode apresentar sintomas inespecíficos, tais como cansaço, fadiga, perda do apetite, náuseas e vômitos. Nos casos graves, o paciente pode apresentar dor abdominal, icterícia e desorientação, devido à insuficiência hepática, e até exigir transplante de fígado.

3. Qual o tratamento?

A seguir, o tratamento feito é basicamente de suporte, com o objetivo de evitar e tratar as complicações, permitindo que haja tempo de regeneração hepática.