Carreira em Medicina

O que explica mortes por Covid-19 mesmo após as duas doses da vacina?

O que explica mortes por Covid-19 mesmo após as duas doses da vacina?

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Mortes por Covid-19 acontecem, mas são situações isoladas. É o que reforçam os pesquisadores e os estudos sobre a doença. É importante salientar que os pesquisadores estão tendo um papel fundamental na pandemia. Do desenvolvimento de vacinas, orientações preventivas para conter a doença até o enfrentamento da desinformação

Por isso, o Sanarcon 2021 terá uma palestra sobre a ciência no cotidiano. A palestrante será a doutora em microbiologia Natalia Pasternak

Ainda há muitas dúvidas sobre a proteção das vacinas e o cenário atual da pandemia. Por isso, convidamos Natalia Pasternak para um bate-papo. Na ocasião, a doutora falou sobre o registro de casos graves e mortes após a imunização. Ela explicou como realmente é a proteção da vacina, as consequências de não tomar e mais.

Em sua participação no Sanarcon, Natalia pretende discutir todas essas questões atuais com o grupo. “É importante lembrar que a boa ciência é feita de boas perguntas, muito mais do que de respostas. Então, quem sabe a gente consegue sair desse evento com boas perguntas e estratégias para respondê-las”, reforçou. 

Caso de Tarcísio Meira: mortes por Covid-19 mesmo após a imunização

Na última semana, a morte de Tarcísio Meira por complicações da Covid-19 comoveu o país. E trouxe à tona dúvidas sobre como funciona a eficácia das vacinas. Afinal, o ator, de 85 anos, já havia recebido as duas doses do imunizante em março deste ano. 

Tarcísio Meira e a esposa, Glória Menezes, foram diagnosticados com Covid-19 e precisaram ser hospitalizados no início do mês. A atriz, que também está vacinada, teve um quadro mais brando da doença e se recupera bem. Já Tarcísio, antes de morrer, chegou a ser intubado e precisou de hemodiálise. O caso de Tarcísio não é um fato isolado, mas entra no caso de situações raras. 

Tarcísio Meira morreu vítima de complicações da Covid-19 | Foto: reprodução / Instagram

Pessoas completamente vacinadas representaram somente 3,68% de mortes por Covid-19 no Brasil, entre fevereiro e julho. Esse dado é do estudo Info Tracker, plataforma de monitoramento da pandemia da USP e da Unesp. 

Entre os casos registrados pelo estudo, as principais vítimas são idosos com mais de 70 anos, como o ator. Mas isso não significa dizer que as vacinas não funcionam ou que têm alguma relação com a marca do imunizante. 

De acordo com a doutora em microbiologia Natalia Pasternak, todas as vacinas são seguras. “As pessoas têm uma ilusão do funcionamento de uma vacina como se ela fosse mágica. Acreditam que se tomar a vacina estará 100% protegido e se não tomar não. E não é assim que a vacina funciona. Nenhuma vacina, não só as de Covid”, explicou. 

“As vacinas funcionam diminuindo a probabilidade de você adoecer. No caso das vacinas para Covid elas previnem a doença grave, hospitalização e morte”, completou a especialista em microbiologia. 

Natalia Pasternak fala sobre a eficácia das vacinas e o cenário atual do Brasil. Confira a entrevista na íntegra: 

1 Como realmente funciona a proteção das vacinas? 

Natalia: nenhuma vacina é capaz de zerar o risco de contaminação. Quando alguém famoso morre acaba dando a impressão que é um fato comum, mas não é. É a exceção. Em geral, as vacinas protegem muito bem. Elas diminuem a probabilidade de hospitalização, doença grave e falecimentos por Covid-19. Um bom exemplo para ilustrar é o uso do cinto de segurança e a presença dos airbags nos veículos. 

A gente usa o cinto e tem os airbags esperando que no caso de um acidente eles impeçam uma morte. Mas o cinto não é mágico. Ele não vai impedir o acidente de acontecer.

Então, a gente precisa entender que as vacinas diminuem a probabilidade de adoecer. E essa essa probabilidade é calculada de forma populacional e não no indivíduo. Não se deve ter o pensamento de “eu tomei a vacina, então estou de corpo fechado. Não preciso me preocupar e nunca mais vou ficar doente”.

2- A vacinação está avançando e possibilitando que pessoas de variadas faixas etárias se imunizem. E mesmo assim tem aqueles que não vão aos postos de vacinação. Quais os prejuízos desses comportamentos de uma forma geral?

Natalia: o prejuízo é que atrasa a campanha de vacinação, que é uma estratégia de saúde pública coletiva. Ela funciona à medida que mais pessoas são vacinadas. Ter pessoas que atrasam esse processo é muito prejudicial. Atrapalha o desfecho do processo que é diminuir a circulação da doença. 

3- Há também aqueles que querem escolher a marca do imunizante. É possível dizer que existe uma vacina melhor mesmo? 

Natalia: as pessoas estão escolhendo vacinas iludidas de que uma vacina é melhor que a outra. Mas é preciso entender que as vacinas são todas similares.

Elas atuam na prevenção do desfecho grave, hospitalização e mortes por Covid-19. E não há porque nesse momento emergencial ficar escolhendo vacina. 

Agora é vacinar todo mundo, o mais rápido possível. Para isso, precisamos contar com todas as vacinas que estão disponíveis. Até porque não tem como um só fabricante dar conta da demanda global. 

Em um segundo momento, podemos ver qual vacina protege mais e em que população. Isso só quando todo mundo estiver vacinado e a circulação do vírus estiver mais controlada. 

4- Com o avanço da vacinação e a diminuição do número de casos, muitos acreditam viver o “novo normal”. O que tem contribuído para o retorno de grandes festas e outros tipos de aglomeração. Como você avalia esse comportamento? 

Natalia: não é momento de aglomeração, é um momento de cautela. Temos a variante delta circulando, que é extremamente contagiosa. Ela com certeza vai acabar prolongando o tempo de pandemia no mundo, principalmente em países que não avançaram na vacinação. 

Precisamos lembrar que o Brasil só tem pouco mais de 20% da população vacinada com as duas doses. Além disso, não testamos o suficiente para saber a capacidade desta nova variante. O momento agora é de manter as medidas preventivas trabalhando em conjunto. O uso de máscaras, evitar aglomerações e a vacinação. 

5- Como você avalia a divulgação de informações sobre a pandemia? E qual a melhor forma de acompanhar as novidades sobre a doença e as vacinas? 

Natalia: no Brasil, nesse momento, que eu espero que seja atípico, não se pode confiar nas fontes oficiais. O site do Ministério Público por exemplo está cheio de informações equivocadas. As melhores fontes de informação são os sites das sociedades científicas e médicas. E tem também as ONGs de saúde pública, como o Instituto Questão de Ciência .  

E devo dizer que os veículos de imprensa do Brasil também estão fazendo um excelente trabalho. Comunicando a ciência para sociedade com diretrizes claras. Sobre como se comportar, a importância do uso de máscaras e até do por que as vacinas são seguras.

A imprensa tem sido essencial para fazer a informação confiável chegar em um maior número de pessoas. Além disso, tem a possibilidade de acionar o veículo de comunicação. Ao ver uma “grande bobagem”, você pode entrar em contato, isso não é possível nas mídias sociais.