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A prova de primeira fase do processo seletivo para a Residência Médica 2020 da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp) aconteceu no dia 30 de outubro de 2019.
Confira abaixo algumas questões comentadas que caíram na prova de múltipla escolha.
Ginecologia e Obstetrícia
Multípara, 38 anos de idade, hipertensa crônica e tabagista. A gestação, de alto risco, evolui com restrição de crescimento intrauterino. Atualmente, encontra-se na 34ª semana de gestação e é solicitada a realização de perfil biofísico fetal. Este exame é composto por 4 marcadores agudos e 1 crônico. O marcador crônico de sofrimento fetal por este método é representado por:
a) Tônus fetal
b) Volume de líquido amniótico
c) Movimento corpóreo fetal
d) Frequência cardíaca fetal
COMENTÁRIO: O feto adquire as variáveis analisadas em uma ordem de desenvolvimento, e ao entrar em um regime de hipóxia,ele vai perdendo os parâmetros na ordem inversa ( teoria da hipóxia aguda) . Temos 4 parâmetros agudos ( reatividade cardíaca, movimentos respiratórios, movimentos corporais e tônus fetal). O único parâmetro crônico é o Volume de liquido amniótico. Não podemos esquecer que o primeiro parâmetro pelo USG do perfil biofísico fetal a ser alterado é o liquido amniótico.
Clínica Médica
Paciente de 57 anos, sexo feminino é trazida ao pronto atendimento do Hospital de Base por apresentar episódios de rebaixamento de nível de consciência há quatro horas. Tem como antecedentes pessoais: osteoporose com fratura lombar há três e diabetes mellitus tipo 2 em uso de metformina, glibenclamida e insulinas NPH/Regular no esquema basal/bolus. Exame físico: REG, prostrada, confusa e sonolenta, desidratada 4+/4+, frequência respiratória = 8 vpm, frequência cardíaca = 122 bpm, pressão arterial = 110 x 60 mmHg. Demais sem alterações significativas. Exames laboratoriais séricos: Glicemia = 100 mg/dL – sódio = 156 mEq/L – potássio = 5,3 mEq/L – cloreto = 90 mEq/L – creatinina = 2,3 mg/dL – ureia = 102 mg/dL – cálcio total = 13,5 mg/dL – albumina 4,5 mg/dL – hemoglobina 10,1 g/dL – hematócrito 29% – leucócitos 7.800/mm3 (0/58/2/3/27/10) – plaquetas 289.000/mm3. Gasometria arterial: pH 7,19 – pO2 65 (ar ambiente) – pCO2 35 – HCO3 10. O distúrbio gasométrico completo desse paciente é:
a) Acidose metabólica hiperclorêmica e acidose respiratória.
b) Acidose metabólica com ânion GAP aumentado, acidose metabólica hiperclorêmica e acidose respiratória.
c) Acidose metabólica com ânion GAP aumentado, alcalose metabólica e acidose respiratória.
d) Acidose metabólica com ânion GAP aumentado e acidose metabólica hiperclorêmica
COMENTÁRIO:
Primeiro passo é checar os valores de PH, PaCo2 e Hco3 estão normais ou alterados. Os valores normais são PH : 7,35 a 7,45 PaCo2 : 35 a 45 e Hco3 22 a 26.
Segundo passo é Identificar o distúrbio primário:
Acidemia pois o Ph esta < 7,35 e o Hco3 esta a baixo do valor normal, ou seja, esta sendo consumido. Portanto há uma acidose metabólica.
Terceiro passo é verificar a compensação esperada de CO2.
PaCo2= 1,5 x ( HCO3) + 8 +ou- 2.
PaCo2= 1,5 x 10 + 8 +ou- 2. = 21 á 25
O PaCO2 esperado está menor ( pCO2 35 ,dado na questão). Portanto há um distúrbio associado, uma acidose respiratória.
Quarto passo é calcular Anion Gap.
AG = Na – ( HCO3 + Cl).
AG = 156 – 10 – 90
AG = 56.
O valor de referencia do AG é de 10 a 12, ou seja, esta aumentado! AG aumentado. Caso o resultado desse menor que 10 seria Hipercloremica.
O quinto passo é fazer o Delta GAP.
Delta Gap = Gap medido – 12 dividido por 24 – HCO3 medido.
Delta Gap = 56 – 12 dividido por 24 – 10 = 3,14 aproximadamente. O valor de Delta GAP entre 1 e 2 é anions gap aumentado, valor < 1 é hipercloremico e > 2 é alcalose metabólica. Portanto, há uma alcalose metabólica.
Assim, a letra C contempla todos os passos corretamente.
Cirurgia
Paciente de 55 anos foi admitida no setor de emergência com quadro de distensão abdominal e vômitos há 2 dias. Fez Rx de abdome agudo constatando presença de distensão de alças intestinais e níveis hidroaéreos, com ausência de gás no reto e TC de abdome mostrando aerobilia. Qual sua principal hipótese diagnostica:
a) Síndrome de Mirizzi.
b) Síndrome de Bouveret.
c) Síndrome de Boerhaave.
d) Íleo biliar.
COMENTÁRIO:
A síndrome de Mirizzi consiste na obstrução seja do ducto hepático comum ou do colédoco, secundária à compressão extrínseca devido à impactação de cálculos no ducto cístico ou no infundíbulo da vesícula.
A síndrome de Bouveret contempla o conjunto de sinais e sintomas decorrentes da obstrução do estômago distal ou duodeno causada por grandes cálculos biliares impactados. É precedida pela formação de uma fístula que permite a passagem do cálculo para o trato gastrointestinal1. A maior causa deste tipo de fístula é a perpetuação da inflamação crônica da vesícula biliar após a ocorrência de colecistite aguda.
A Síndrome de Boerhaave. É uma perfuração esofágica transmural espontânea, geralmente, associada a múltiplos vômitos.
Íleo biliar: É uma obstrução intestinal que se caracteriza por cursar com distensão abdominal, dor, vômitos, aumento dos ruídos hidroaéreos e parada de eliminação de flatus e fezes. Assim corroborando com o enunciado da questão. A presença de aerobilia ocorre devido a translocação gasosa.
Pediatria
Recém-nascido de 37 semanas e 6 dias, nascido de parto cesáreo, sem intercorrências, com peso de 3100g e 48 cm, Apgar 9/10. A bolsa amniótica foi rompida na cesárea com saída de líquido amniótico claro. Foi realizado aplicação de BCG e Hepatite B e vitamina K. Após 20 minutos RN apresentou taquipneia, gemencia com retrações intercostais e batimento de asa nasal. Exame físico: MV presente e simétricos, bulhas ritmicas sem sopros, abdome globoso e normotenso. Realizado RX de tórax: com aumento da trama vascular pulmonar. História obstétrica: primeira gestação com ganho de 9 quilos sem intercorrências com exames normais. Diante do quadro, o diagnóstico é:
a) Síndrome do desconforto respiratório do recém-nascido
b) Taquipneia transitória do recém-nascido
c) Cardiopatia congênita
d) Hipertensão pulmonar persistente do recém-nascido.
COMENTÁRIO: O principal fator de risco para taquipneia transitória do recém nascido é cesaria eletiva fora de trabalho de parto. O principal fator para Síndrome do desconforto respiratório do recém-nascido é RN prematuro, pois terá deficiência de surfactante.
A Cardiopatia congênita apresenta como clinica cianose, insuficiência cardíaca e os sopros cardíacos, que no enunciado da questão não relata.
Hipertensão pulmonar persistente do recém-nascido: o Texto trás pré natal sem intercorrências com exames normais.
Preventiva
A Equipe de Gestão da Saúde do município X está preocupada com o aumento de casos de sífilis congênita. Foram realizadas capacitações das Equipes de Saúde das Unidades Básicas de Saúde para seguimento do Protocolo Clínico de Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis (PCDT – IST). Dentre as medidas recomendadas para a prevenção e controle das IST identifica-se ações que são importantes para a prevenção e controle da Sífilis Congênita como:
1) orientação em saúde sexual e reprodutiva;
2) diagnóstico precoce de sífilis com testagem da gestante de rotina durante o pré-natal (na 1a consulta e no 3o trimestre de gestação/28a semana de gestação) e no momento do parto;
3) dispensação de preservativo masculino ou feminino;
4) tratamento oportuno da sífilis na gestação com penicilina benzatina;
Qual das alternativas abaixo relaciona os respectivos níveis de prevenção segundo as ações recomendadas?
a) 1-Prevenção primária, 2-prevenção secundária, 3-prevenção terciária e 4-prevenção terciária;
b) 1-Prevenção terciaria, 2-prevenção secundária, 3-prevenção primária e 4-prevenção quaternaria;
c) 1-Prevenção secundária, 2-prevenção primária, 3-prevenção primária e 4-prevenção secundária;
d) 1-Prevenção primária, 2-prevenção secundária, 3-prevenção primária e 4-prevenção secundária;
COMENTÁRIO:
a) Prevenção primária é a ação tomada para remover causas e fatores de risco de um problema de saúde individual ou populacional antes do desenvolvimento de uma condição clínica. Inclui promoção da saúde e proteção específica (ex.: imunização, orientação de atividade física para diminuir chance de desenvolvimento de obesidade).
b) Prevenção secundária é a ação realizada para detectar um problema de saúde em estágio inicial, muitas vezes em estágio subclínico, no indivíduo ou na população, facilitando o diagnóstico definitivo, o tratamento e reduzindo ou prevenindo sua disseminação e os efeitos de longo prazo (ex.: rastreamento, diagnóstico precoce).
c) Prevenção terciária é a ação implementada para reduzir em um indivíduo ou população os prejuízos funcionais consequentes de um problema agudo ou crônico, incluindo reabilitação (ex.: prevenir complicações do diabetes, reabilitar paciente pós-infarto – IAM ou acidente vascular cerebral).
d) Prevenção quaternária é a detecção de indivíduos em risco de intervenções, diagnósticas e/ou terapêuticas, excessivas para protegê-los de novas intervenções médicas inapropriadas e sugerir-lhes alternativas eticamente aceitáveis.