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Muitos médicos e estudantes de Medicina se interessam em saber um pouco mais da rotina da residência de otorrinolaringologia, já que é uma das residências mais concorridas atualmente. A especialidade atua no diagnóstico, tratamento e prevenção de afecções relacionadas três dos cinco sentidos do corpo humano: Paladar (laringologia); Olfato (rinologia) e Audição (otologia).
Em 2018, de acordo com a Demografia Médica no Brasil, foi revelado que havia 6.373 mil médicos otorrinolaringologistas no país, o equivalente a 1,7% do total de médicos registrados. Ao mesmo tempo, no mesmo ano, os recém-formados que optaram pela especialização formavam 5% do total.
Diversos serviços oferecem residência em otorrinolaringologia no país. Dentre os que mais se destacam estão UNICAMP, USP e UFPE. Em todas as instituições, a otorrino é uma das especialidades mais concorridas. Na USP, por exemplo, a concorrência em 2020 foi de 22.13 candidato/vaga.
São muitas coisas que você não pode deixar de saber antes de escolher a residência em Otorrinolaringologia. Para conhecer mais da especialidade e da rotina do residente, falamos com Lucas Macedo, otorrinolaringologista pelo Hospital Irmã Dulce e atualmente fellow em Implante Coclear na mesma instituição, e Bruno Tourinho, residente do primeiro ano da residência de otorrino no INOOA.
Acompanhe os detalhes para escolher bem a sua especialidade!
A escolha da residência
A residência é um momento fundamental na carreira do médico. Por isso, é importante considerar uma série de aspectos, tanto pessoais quanto profissionais.
Para Bruno, o que motivou a escolha da especialidade foi a versatilidade e o perfil de pacientes. “Escolhi Otorrino porque queria ser cirurgião e clínico. Também gosto da versatilidade que a área oferece em poder trabalhar com cirurgias rápidas e objetivas ou em atendimento ambulatorial em clínicas. Além disso, prefiro o perfil de paciente em que há maior resolutividade e pouca morbimortalidade”.
Já para Lucas, a escolha foi pela identificação com uma área específica da especialidade durante a graduação. “Ao entrar em contato com Implante Coclear e abordagens cirúrgicas em Otorrino durante a graduação, fiquei encantado e tive certeza do que deveria seguir”, afirma.
“Por exemplo, quando uma criança nasce surda, fazemos a preparação para que, após um ano, seja feita cirurgia que permite à criança desenvolver a fala e escutar por meio de implante. Outro exemplo são adultos com meningite ou surdez de origem genética, que voltam a escutar com Implante Coclear. Por fim, a área permite atuar em cirurgias finas, feitas por microscópio, que exigem muito treinamento e dedicação. Vi aquilo e fiquei encantado”, revela
Lucas explica que a escolha pela instituição Hospital Irmã Dulce deve-se à história de alcançar e ajudar muitas pessoas e pelo fluxo de pacientes. “Vi na instituição a oportunidade de ajudar e, ao mesmo tempo, acessar uma grande diversidade de casos, o que traz um aprendizado muito grande”, conta.
Como a residência é dividida
A residência de otorrinolaringologia tem duração de 3 anos, carga horária de 60 horas semanais e seu acesso é direto.
De acordo com a Matriz de Competências de Otorrinolaringologia estabelecida pela Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) divide os conhecimentos esperados pelos residentes em cada ano de especialização da seguinte forma:
- R1: o residente deve dominar as bases da anatomia e fisiologia; demonstrar habilidades na realização de exame físico armado otorrinolaringológico; planejar e realizar procedimentos otorrinolaringológicos ambulatoriais, como remoção de cerume; dominar a técnica cirúrgica em cirurgias otorrinolaringológicas de pequeno porte ou complexidade, etc.
- R2: dominar anamnese e exame físico otorrinolaringológicos às diversas afecções, da orelha externa, média e interna, nariz, seios paranasais, faringe, laringe, traqueia, face, órbitas, base de crânio e pescoço; dominar as técnicas cirúrgicas em cirurgias otorrinolaringológicas de pequeno e médio porte ou complexidade, etc.
- R3: Dominar o conhecimento teórico-prático de Otorrinolaringologia avançada; dominar com maior grau de complexidade a técnica cirúrgica em cirurgias otorrinolaringológicas de pequeno, médio e grande porte; planejar e realizar estudos científicos e artigos científicos para publicação, etc.
Segundo Bruno, no INOOA o primeiro ano tem, em sua maior parte, aprendizado nos ambulatórios de otorrino pediatria e otorrino geral, além de atendimento na emergência no final. “Ao passar dos anos as responsabilidades vão aumentando. As adenoamigdalectomia são realizadas a partir do final do R1 e no R2, septos são dos R2 e R3, cirurgia endoscópica no R3”, conta.
Lucas explica que no Hospital Irmã Dulce os residentes passam por estágios no ambulatório geral, enfermaria e cirurgias. “No primeiro ano também auxiliamos e aprendemos durante cirurgias maiores, que nos preparam para os próximos anos. No R2, atuamos mais em subespecialidades e evoluímos a quantidade de tempo cirúrgico para treinar, além de fazer cirurgias maiores como timpanoplastia, septoplastia e cirurgias endoscópicas. O R3 mantém a quantidade de cirurgias do R2, mas podemos progredir para cirurgias maiores como rinosseptoplastia. Você também pode começar a atuar em Implante Coclear”, conclui.
O melhor da residência em Otorrinolaringologia
A Otorrinolaringologia é uma área versátil, com possibilidade de atuação clínica e cirúrgica, além da realização de procedimentos e exames específicos. São essas características que Lucas e Bruno consideram a melhor parte.
“Para mim, o melhor da área de Otorrino é abranger clínica, cirurgia e procedimentos. Além disso, são vários subcampos como otologia, otoneurologia e outros. Dessa forma, você pode se dedicar a fazer o que mais gosta”, conta Lucas.
“O melhor da área é a possibilidade de resolver o problema do paciente na maior parte das vezes. De forma geral, são doenças tratáveis e com bons resultados”, explica Bruno.
O mais difícil
Como toda residência médica, a rotina é uma das partes mais difíceis. Isso por causa dos desafios diários e da carga horária extensa. Além disso, Lucas conta que também precisa se dedicar a plantões fora da residência para complementar a renda. Para Bruno, além da carga horária extensa, as exigências peculiares de um serviço privado também torna o processo mais difícil.
Apesar disso, os residentes seguem otimistas e perseverantes mesmo com os desafios impostos pela residência. Lucas ainda contou com a ajuda do coordenador do serviço “Com esses desafios, foi muito legal ver o coordenador ser muito prestativo com os residentes”.
“Ele nos orientava sobre o fato da residência ser puxada e que passaríamos por estresse muitas vezes. Ele falava sobre a importância do apoio da família e mesmo apoio psicológico, e ainda sugeria para nós exercícios e outras atividades relaxantes fora do hospital para que, na volta ao trabalho, o residente estivesse regenerado”, comenta.
Expectativa de trabalho e emprego
A Otorrinolaringologia oferece umas vasta área de atuação. Após fazer a residência, o médico pode realizar subespecialização para aprofundar os conhecimentos em áreas como: Medicina do Sono, Otorrinolaringologia Pediátrica, Otoneurologia e Cirurgias Plásticas Faciais.
A remuneração de um otorrinolaringologista pode variar de acordo com a região e o tipo de trabalho, que pode ser no serviço público ou em clínicas privadas, as quais exigem um investimento inicial alto. De acordo com o site Salario.com.br, um médico otorrino no Brasil ganha em média R$ 4.556,09 para uma jornada de trabalho de 18 horas semanais.
Para Lucas, a Otorrinolaringologia é uma área com grandes oportunidades no mercado de trabalho. “Nos grandes centros, locais com muitas opções de plano de saúde, Otorrino é uma área extremamente interessante, com muito mercado. O paciente conveniado busca assistência de profissionais que precisa e, por pagar o convênio, pode utilizar muitos procedimentos. Pelo lado do Otorrino, ele ganha por consultas e por práticas como cauterização, remoção de cerume e outros, por isso existe rentabilidade”.
Bruno considera também uma ótima área na medicina para empreender. “São diversos procedimentos relacionados a área, que permitem investimento com perspectiva de retorno, como Videonasolaringoscopia (flexível, rígida, com ou sem estroboscópio), Polissonografia, Exames Audiológicos e Otoneurogicos (Audiometria, BERA, Otoemissoes, Eletrococlea, Vectoeletronistagmografia), mas tudo isso exige capital para empreender”, explica.
Conclusão sobre a rotina do residente em Otorrinolaringologia
Quando falamos na residência em Otorrinolaringologia, temos pontos positivos e negativos. É preciso muita dedicação diante do grau de complexidade e da alta concorrência.
Dessa maneira, para quem deseja seguir a carreira da Otorrinolaringologia, Bruno diz para não desistir, apesar da aprovação difícil. “A residência é uma etapa necessária para o profissional. E é possível escolher o estilo de trabalho que mais se identifica. Estude direito e busque compreender o onde quer trabalhar. É uma residência que tem muita versatilidade para escolher alguma área de atuação específica posteriormente.”
A residência também envolve a escolha da área que deseja seguir por toda a vida. Mesmo dentro de cada especialidade, existem diversas possibilidades e a otorrinolaringologia é uma das áreas mais versáteis nesse sentido.
“Olhando retrospectivamente para as dificuldades, é possível ver que valeu a pena todo o esforço e dedicação durante os três anos. Afinal, vou colher os frutos dessa residência durante a minha vida toda, pois trabalharei com isso. Assim, é importante conhecer a sua área, afinal são anos intensos de dedicação para algo que você fará pelo resto da vida. Escolha algo que te deixa feliz e, dessa forma, você vai atender bem seus pacientes. Além disso, fazendo o que gosta você cresce na profissão”, conclui Lucas.
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Referências:
Demografia Médica no Brasil 2018
Residência Médica: concorrência da FMUSP-SP por especialidade
Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial