Residência Médica

Rotina da residência de Patologia

Rotina da residência de Patologia

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Muitos médicos e estudantes de Medicina se interessam em saber um pouco mais da rotina da residência de Patologia, já que é uma área que se tem pouco contato durante a graduação e poucos sabem qual a atuação do patologista. A especialidade atua no diagnóstico das doenças, realização de autópsias, necropsias e biópsias.

Em 2018, de acordo com a Demografia Médica no Brasil, foi revelado que havia 3.210  mil médicos patologistas no país, o equivalente a 0,8% do total de médicos registrados. Ao mesmo tempo, no mesmo ano, os recém-formados que optaram pela especialização formavam 0,5% do total.

São muitas coisas que você não pode deixar de saber antes de escolher a residência de Patologia. Para conhecer mais da especialidade e da rotina do residente, falamos com Bianca Azevedo, residente do segundo ano de patologia pela UFBA, Jamile Barboza, R1 na USP de Ribeirão Preto e Marcelo Luis Pereira, R1 em patologia pela UFBA.

Acompanhe os detalhes para escolher bem a sua especialidade!

A escolha da residência de Patologia

A residência é um momento fundamental na carreira do médico. Por isso, é importante considerar uma série de aspectos, tanto pessoais quanto profissionais.

Para Bianca, o que motivou a escolha da especialidade foi a rotina e o campo de trabalho: “sempre gostei de microscopia, lâminas, e durante a faculdade fiz uma liga de fisiopatologia e o orientador era muito bom. Isso me despertou a vontade de fazer patologia.Me formei, trabalhei um tempo mas era desgastante, nem tudo eu conseguia resolver e tinha um peso emocional. Então conversei com uma pessoa que tem laboratório de Patologia, a pessoa me falou da rotina, residência e mercado de trabalho, e isso me deu vontade de entrar. Uni o útil ao agradável.”

Já Jamile, escolheu a área porque aborda outras especialidades e diversas possibilidades diagnósticas: “A Patologia é a área em que tem contato com várias outras especialidades. Pode ser neuropatologia, patologia mamária, então existe uma gama de variedades de diagnóstico com outras áreas. Em 80% dos casos, a análise histopatológica ajuda em diagnósticos. Por isso, a área me atrai por causa dos diagnósticos.”

Marcelo conta que o interesse surgiu durante a graduação através de uma professora. “A Patologia foi uma especialidade que me chamou a atenção ainda na faculdade, por conta de uma professora que eu tive que fazia ótimas aulas e era muito inspiradora pela trajetória dela. Eu tinha uma certa facilidade com histologia, conseguia reconhecer bem as morfologias no microscópio. Foi uma especialidade que me chamou a atenção por poder contribuir com o diagnóstico e tratamento adequado dos pacientes, bem como pelas novidades que temos no dia-a-dia. Nenhum dia é igual ao outro”.

Como a residência é dividida 

A residência de Patologia tem duração de 3 anos, carga horária de 60 horas semanais e seu acesso é direto.

Jamile conta um pouco sobre como é a divisão da residência em Patologia na USP:

“A Patologia é muito diferente do que vemos na faculdade. É um mundo novo para o R1, então ele começa a ter contato com peças cirúrgicas, peças para análise de neoplasia, então o R1 começa a se familiarizar com macroscopia e lâminas também. Além disso, são as autópsias, nos plantões e o Serviço SVO. São plantões de final de semana e durante a semana nesses casos. A pandemia suspendeu esses plantões e, por isso, poderemos compensar ano que vem. Em Ribeirão Preto, foram feitas necrópsias minimamente invasivas porque a convencional está proibida.

No R2, o contato é maior com peças cirúrgicas e habilidades maior em imunohistoquímica. Dessa forma, ele sabe como direcionar o raciocínio diagnóstico. Ou seja, ele tem mais agilidade no laudo e também conhecimento mais avançado do que pedir em cada caso, para atuar de forma mais estruturada. O R2 também tem contato com punção, para citologia, como punção de tireoide. 

O R3, a agilidade na microscopia já é maior, a destreza é maior nas peças cirúrgicas e que também o laudo seja mais detalhado. Além disso, espera-se que o R3 não peça exames sem necessidade, espera-se mais direcionamento no painel histoquímico, laudos mais sucintos e direcionados e destrezas em liberação do laudo.”, explica.

A divisão não difere muito de outras instituições como a UFBA:

“A residência é dividida em atividades de macroscopia, microscopia e necrópsia. A macroscopia consiste na análise do material cirúrgico para fazer os cortes corretos e a representação adequada para que as lâminas reflitam o melhor diagnóstico para o processo patológico envolvido. Na microscopia, nós analisamos os cortes que fizemos e, baseado nos aspectos morfológicos, algumas colorações especiais e técnicas de imuno-histoquímica, damos o diagnóstico da doença de base. As necrópsias foram bastante afetadas pela pandemia, mas também seguem o mesmo princípio: analisamos os órgãos, representamos as principais alterações macroscópicas e damos o diagnóstico baseado na microscopia. 

No R1, é esperado que consigamos fazer a macroscopia de peças simples e biópsias, realizar necrópsias sob supervisão, aprender os princípios da biópsia de congelação e reconhecer os diagnósticos inflamatórios e oncológicos mais simples em cada órgão. No R2, precisamos aprender a processar peças complexas, dar diagnósticos mais difíceis, fazer biópsias de congelação, e as necrópsias com uma autonomia um pouco maior. No R3, você tem a opção de rodar em subespecialidades, para aprofundar os conhecimentos em determinadas áreas (dermato, neuro, hemato, hepato, uro…).”, explica Marcelo.

Alinhando as principais expectativas

Muitas vezes as expectativas com a residência e a área de trabalho não são alcançadas, como explica Bianca: “Quando pensei em fazer Patologia foi a questão da qualidade de vida. Imaginei que teria uma qualidade melhor que em outras áreas, sem ser uma rotina tão puxada. Porém, vi que alguns patologistas tem isso e outros não. E a residência não é tão leve, é uma expectativa que não era o que eu tinha imaginado de ter algo um pouco mais tranquilo.”

Essa também foi uma expectativa que Marcelo relatou: “Diferente do que eu imaginava, a residência não é assim tão tranquila. Temos um volume alto de amostras e poucos residentes para contribuir no serviço, o que torna um pouco cansativo. Mas qual especialidade médica não é, não é mesmo?”.

Jamile conta que as expectativas estavam associadas a forma de abordagem da especialidade: “Tinha expectativas em uma área que nos permite mudar totalmente a conduta de um paciente diante de laudos específicos. O laudo do patologista permite condutas aos colegas. A expectativa é cada vez mais atuar em uma medicina de precisão, com painéis mais avançados. A curva de aprendizado em Patologia é exponencial porque entramos sem muita base da área. Não é como outras especialidades em que você já se forma sabendo alguns procedimentos. Então, no R1, você é exposto a vários casos em que, antes, você não tinha conhecimento nenhum. O material foi muito bom para aprendizado. Em 8 meses de residência, você já tem um conhecimento que não tinha no início.”

O melhor da residência de Patologia

A Patologia é uma área muito abrangente, já que aborda todos os sistemas do corpo, diversas doenças e consegue oferecer ao paciente um diagnóstico mais preciso. É o que nos conta os entrevistados:

“A melhor parte da residência é que conseguimos estudar muita coisa no próprio serviço. Primeiro, o que mais me instiga é que, diariamente, aprendo coisas novas. Além disso, posso estudar casos com calma e fazer o melhor para o meu paciente. Sempre estudarei para oferecer o melhor para o meu paciente, pois sem que posso estudar com calma, tenho margem para estudar e ter esse tempo de estudo nos permite fazer o melhor para o paciente. Diferentemente de outras especialidades, você estuda mais e chega melhor ao diagnóstico”, diz Bianca.

Para Jamile, “A melhor parte é a precisão do diagnóstico na conduta do paciente. O patologista é quem diz, por exemplo, quais medicações atuam melhor ou não em doenças. A precisão do laudo faz diferença.”

Além disso, é uma especialidade que envolve uma rotina diferente a cada dia e atua na investigação de doenças raras:

“Acho que principalmente as novidades. Todo caso carrega uma particularidade, e nenhum é igual ao outro. Vemos muitas situações inusitadas e diagnósticos raros, que rendem muitos estudos para quem gosta de pesquisa. A patologia também tem avançado muito em relação à parte molecular, diagnósticos baseadas em alterações genéticas e proteicas. É uma especialidade fascinante e cheia de ciência. Você nunca se cansa de ver novos casos. Se sempre há novidades e casos desafiadores, há muita motivação para continuar buscando mais e mais.”, explica Marcelo

O mais difícil 

Como toda residência médica, a rotina é uma das partes mais difíceis. Em Patologia os residentes também apontaram outras questões que consideram o mais difícil:

“A principal dificuldade é a falta de base de algumas faculdades em Patologia, e a tendência tem diminuído. Porém, é muito importante saber patologia e fisiopatologia das doenças. Além disso, era difícil e estou superando o contato com um corpo, No começo foi mais um impacto e depois você vê sob um aspecto mais técnico, como um processo mesmo. O primeiro contato foi difícil. Por fim, o contato com formol é ruim, mas tudo se acostuma.”, diz Bianca.

Jamile aponta como dificuldade a quantidade de conteúdo para dar conta: “A maior dificuldade é que você precisa se formar como Patologista cirúrgico generalista, ou seja, exige conhecimento de todas as áreas. Você precisa desse conhecimento vasto, chega até a ser assustador a quantidade de conteúdo que você precisa estudar. Para ser um bom profissional, o conhecimento precisa ser amplo. Antes de seguir para a área específica, o caminho é saber de tudo.”, explica Jamile. 

Marcelo também apontou a mesma dificuldade: “A principal dificuldade está no volume de trabalho e de conteúdo para estudar. Nenhum caso pode ser liberado sem que você leia ao menos um pouco sobre a morfologia esperada, os diagnósticos diferenciais e como excluí-los, o que torna o trabalho mais minucioso e demorado. Por vezes, nos vemos com inúmeras pendências e casos que demoram a sair porque necessitam colorações e imuno para serem liberados.”

Expectativa de trabalho e emprego

A Patologia oferece uma vasta área de atuação, como oncologia, hepatologia, hematologia, dermatologa… O profissional pode atuar em laboratórios, clínicas e em hospitais, sempre em conjunto com as outras especialidades.

A remuneração de um patologista pode variar de acordo com a região e o tipo de trabalho, que pode ser no serviço público, em clínicas privadas ou laboratórios. De acordo com o site Salario.com.br, um médico patologista no Brasil ganha em média $ 4.274,23 para uma jornada de trabalho de 18 horas semanais.

Bianca conta sobre o que ouve sobre o mercado em Patologia: “falam que o mercado pode ser fechado, que algumas áreas são mais fáceis ou não. Pessoas que conversaram comigo, como preceptores, informaram que a média salarial é boa, mas que é preciso se destacar e se especializar em áreas com baixa concorrência. O ideal é saber um pouco de tudo e se especializar.”

Jamile considera que a patologia “é uma área em expansão, e tem muito contato com o paciente, não é só assistencialista ao médico. Temos poucas pessoas fazendo Patologia porque é preciso vontade para fazer, ninguém chega desavisado. É um mercado de trabalho que vem crescendo e, ainda assim, temos poucos colegas. É uma área bem promissora, com futuro que dá para trabalhar.”

Conclusão sobre a rotina da residência de Patologia 

Quando falamos na residência em Patologia, temos pontos positivos e negativos. É preciso muita dedicação diante da quantidade de assuntos abordados e diagnósticos possíveis. 

Bianca conta um dos motivos que fazem da rotina dela em Patologia muito feliz: “A residência para mim, o que me faz ficar feliz em Patologia é que existe muita pesquisa, e eu adoro isso, e tem muita novidade, e dá para ter uma boa qualidade de vida, conseguindo fazer mestrado e doutorado, por exemplo. A Patologia, apesar de ser mais escondida, é um mundo fascinante. Aprendemos coisas novas e identificamos coisas que estão no corpo e podem ser boas ou ruins. Vale muito a pena para aprender e, principalmente, dar um diagnóstico mais rápido, correto e bem direcionado ao paciente. Ser patologista é fazer parte do cuidado paciente, fornecer diagnóstico correto e fazer o paciente ser adequadamente tratado. É desafiador porque é preciso estudar e se atualizar constantemente, e é uma área muito importante, sem ela não existe tratamento oncológico, por exemplo”.

Jamile deixa um conselho para quem se interessa pela área: “Procure uma instituição que te dará orgulho e que preencha os requisitos que falei aqui para a Patologia. Que tenha docentes de áreas diversas, que ofereça estrutura com tecnologia que dê subsídios para bons diagnósticos e, como é uma área que requer bastante emocionalmente, que seja uma instituição que dê apoio emocional. Procure bons centros, se puder, visite antes, converse com residentes de lá, veja os prós e contras e escolha uma instituição completa depois disso. Conheça o local antes de assumir a vaga, veja se você será feliz ali, se é o que você espera.”

Para quem quer seguir a carreira como patologista Marcelo também deixa um recado: “No começo você vai achar difícil estar ali, porque temos dificuldade para ver e reconhecer o que estamos vendo. Mas lembre-se que a curva de aprendizado é longa e demorada, porque a patologia não é algo da nossa rotina diária na faculdade ou no internato. Acredite que as coisas mudam com o tempo, tenha foco e paciência, e se permita errar.”

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Referências:

Demografia Médica no Brasil

Sociedade Brasileira de Patologia

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