Residência Médica

Rotina da residência em Medicina Nuclear

Rotina da residência em Medicina Nuclear

Compartilhar
Imagem de perfil de Residência Médica

Saber como é a rotina da residência em Medicina Nuclear é essencial para quem deseja se especializar. Trata-se de uma especialidade pouco aprofundada nos cursos de graduação do Brasil. Por isso, a Sanar Residência Médica trouxe algumas informações para te auxiliar a entender um pouco mais sobre essa excelente área da medicina.

A Medicina Nuclear é uma área com poucos profissionais. De acordo com a Demografia Médica no Brasil 2018, para todo o país, há apenas 915 médicos especialistas, o que equivale a 0,44 por 100 mil habitantes. No total, foram autorizadas 177 vagas para a especialidades, das quais apenas 97 foram ocupadas.

Por ser uma área pouco conhecida, os concursos de residência oferecem uma concorrência relativamente, baixa, com cerca de 3,2 candidatos por vaga.

Para falar melhor sobre a rotina da especialidade, a Sanar Residência Médica conversou com Rogério Anton Faria, residente do R2 de Medicina Nuclear pelo A.C Camargo Cancer Center.

São muitas coisas que você deve saber antes de escolher a residência em Medicina Nuclear. Então, acompanhe os detalhes para escolher a especialidade!

A escolha da residência

Rogério revela que saiu da faculdade pensando em fazer Radiologia e Diagnóstico por Imagem, pois não conhecia a Medicina Nuclear. Segundo ele, a especialidade não é muito abordada ao longo da graduação e, por isso, só foi conhecê-la após se formar. 

“Fui procurar opções [de especialidade], descobri o que era e como funciona a Medicina Nuclear, e me pareceu muito mais interessante do que aquilo que queria antes. A partir daí, fiz os concursos de residência e estou muito satisfeito”. 

Para Rogério, antes de escolher a instituição onde fará residência, é necessário seguir algumas prioridades.

“Medicina Nuclear é uma especialidade que precisa de um centro de alta densidade tecnológica, com aparelhos que funcionem. E uma equipe multiprofissional com radiofarmácia, biomédicos, tecnólogos, físicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem, para que os exames sejam feitos”.

O residente destaca que a especialidade exige constante atualização para poder acompanhar o surgimento de novos exames e tratamentos. Por isso, é importante saber se a instituição atende a esses requisitos.

“Procure saber quais são os exames disponíveis, quantos são feitos por dia, quantos leitos de terapia radioisotópica tem, quais os tipos de tratamento realizados, se tem SPECT, se tem PET, e quais tipos de PET”, revela.   

Depois de uma vasta pesquisa por instituições, Rogério conheceu a A.C Camargo Cancer Center, referência no tratamento de Oncologia. Segundo relata, a especialidade é “um grande braço da Medicina Nuclear”, o que facilitou sua escolha.

“A especialidade cresceu bastante nos últimos anos com os avanços terapêuticos e diagnósticos oncológicos. São exames muito difíceis de laudar. Então fazer residência em um centro especializado, onde vemos grande fluxo de exames oncológicos de todos os tipos, diariamente, faz diferença”. 

Como a residência é dividida 

A CNRM (Comissão Nacional de Residência Médica) estabelece que, ao longo dos três anos de treinamentos, os residentes devem adquirir as seguintes competências:

  • R1: dominar os conhecimentos sobre radiofarmácia e atividades da sala quente; dominar a anamnese especializada sobre indicações, limitações, contra indicações, preparo e informações dos exames cintilográficos; iniciar elaboração de laudos de exames de Medicina Nuclear convencional (cintilografias), com menor complexidade clínica; Analisar os conceitos da física das radiações, avaliar os princípios de proteção radiológica e as regulamentações e normas vigentes da CNEN, dominar os procedimentos relacionados às cirurgias radioguiadas, entre outras;
  • R2: dominar o conhecimento em Instrumentação Nuclear e Informática Médica;  registrar os dados e a evolução de pacientes no prontuário de forma clara e concisa; elaborar laudos de exames de Medicina Nuclear convencional (cintilografias), com baixa e média complexidade clínica;  Avaliar os métodos de imagem seccionais, tais como tomografia computadorizada e ressonância magnética; dominar as técnicas de aquisição e processamentos de protocolos padrão e adaptados de imagens PET-CT/ ou PET/RM, entre outras.
  • R3: dominar o conhecimento das regulamentações e normas vigentes da CNEN, sobretudo no que tange às condições exigidas ao titular e ao responsável técnico de serviço de Medicina Nuclear; elaborar laudos de exames de Medicina Nuclear convencional (cintilografias), desde baixa à alta complexidade clínica; Contribuir na formação e ensino dos residentes do segundo e primeiro ano; ter domínio das indicações, cuidados de radioproteção e procedimentos clínicos envolvidos em terapias radionuclídeas de condições benignas e malignas etc.

De acordo com Rogério, a divisão pode variar um pouco em cada instituição. No A.C Camargo, o R1 geralmente entrevista os pacientes para exames e faz marcação de linfonodo sentinela, além de realizar consultas de terapia radioisotópica para câncer de tireoide e exames de cintilografias. 

“No R2 e no R3, continuamos com tudo que já fazíamos no R1, só que começa a realizar e laudar as técnicas tomográficas como PET e SPECT, além de atuar na terapia com outros vários radiofármacos”, comenta. 

Os residentes são submetidos a carga horária de 60 horas semanais e não têm plantão noturno, mas, a depender do serviço, podem ter agenda no final de semana.

“Durante todo período da residência, também temos aulas teóricas, que, além de envolver assuntos clínicos e relacionados a todos os exames, envolvem temas físicos, de física das radiações, de proteção radiológica e de normas da Comissão Nacional de Energia Nuclear”, complementa.

Alinhando as principais expectativas

Como não conhecia a fundo a Medicina Nuclear, Rogério não sabia muito o que esperar da residência. Por isso, não criou tantas expectativas, mas garante que está se surpreendendo positivamente ao longo do treinamento. 

“O que todo mundo imagina é que seja parecido com Radiologia. Mas, na verdade, você interage bastante com os pacientes, entrevista todos antes dos exames, faz consulta para o tratamento, realiza tratamentos ambulatoriais e em regime de internação, além de laudar os exames. Para mim continua sendo muito interessante e continuo achando que fiz a escolha certa”. 

O melhor da residência em Medicina Nuclear

Entre os principais pontos positivos da residência, Rogério destaca a possibilidade de trabalhar com tecnologia sem perder o contato com o paciente. Além disso, elogia a estrutura do A.C Camargo, que oferece tratamentos novos e ainda não disponíveis em todos os centros de saúde.

“Muitos exames da especialidade ainda não estão no rol de procedimentos da ANS, nem tem código de APAC no SUS. No A.C Camargo, fazemos diariamente exames de PET/CT com 68-Ga-PSMA e 68-Ga-DOTATATE. O tratamento com 177-Lutécio-PSMA, por exemplo, só foi aprovado este ano pela Anvisa e já fizemos lá”, afirma.

O mais difícil 

Para Rogério, a principal dificuldade é chegar na residência sem saber o que realmente é a Medicina Nuclear, o que complica bastante a rotina nos primeiros meses.

“Você tem que aprender sobre vários exames e temas que nunca viu na faculdade. Além de todos os assuntos clínicos e diagnósticos, precisamos estudar bastante física e legislação de proteção radiológica, que são temas importantes e que fazem parte do dia a dia. Porém, não fazem parte da formação médica. Por isso, muita gente tem dificuldade”.

Expectativa de trabalho e emprego

O especialista em Medicina Nuclear trabalha com procedimentos eletivos e, geralmente, não atuam em plantões noturnos ou em horários não programados.

Entretanto, diante da alta demanda, as clínicas especializadas podem ter horários estendidos. Esses profissionais podem trabalhar até 12 horas por dia. 

Há oportunidades de trabalho tanto no setor público, cujo ingresso se dá através de concursos, quanto no setor privado.

Geralmente,  o médico nuclear recebe um salário fixo, acompanhando de benefícios, que variam entre R$9 mil e R$15 mil, de acordo com a carga horária e a experiência do profissional.

Não há subespecialidades para Medicina Nuclear. Porém, existe um ano opcional voltado para quem sai da residência sem experiência com técnicas tomográficas como PET e SPECT.

Rogério afirma que a Medicina Nuclear é uma área pequena, pois existem, relativamente, poucos profissionais no país. 

“Se comparar com Radiologia, são poucas clínicas que fazem exames de Medicina Nuclear. Nas capitais, a concorrência é muito grande, então, o mercado é mais difícil, mas ainda há muitas cidades no interior que têm capacidade de ter uma clínica da especialidade. Então, se tiver perfil empreendedor, existe espaço para você abrir sua própria clínica se quiser”. 

Sobre seu futuro profissional, ele diz que ainda não decidiu o que fará. Entretanto, como em qualquer área médica, tem a possibilidade de trabalhar em clínicas, hospitais e faculdades, com a diferença de não ter plantões de emergência ou noturnos.

Conclusão sobre a rotina da residência em Medicina Nuclear

Apesar das dificuldades como as relatadas por Rogério, a residência em Medicina Nuclear é uma área em expansão que pode abrir várias portas para o especialista que se dedicar e fizer uma boa especialização. 

Como não é muito trabalhada nos cursos de graduação, Rogério faz questão de falar um pouco sobre a especialidade. De acordo com ele, a Medicina Nuclear se diferencia por usar radiofármacos e traçadores radioativos para fins diagnósticos e terapêuticos.

“Na Radiologia, enquanto o aparelho de tomografia tem uma ampola que emite raio x no paciente e gera uma imagem anatômica, nossos aparelhos não emitem radiação. A radiação vem dos radiofármacos injetados no paciente, que vão gerar uma imagem da distribuição dessa substância no organismo, fornecendo informações metabólicas e funcionais”, define.

O residente afirma que se identifica com a Medicina Nuclear por ter afinidade com tecnologia, física e pesquisa, e por gostar de ter contato com os pacientes. Para os que querem fazer residência médica na especialidade, ele tem uma dica.

“Pesquise bem sobre a área e saiba que, em Medicina Nuclear, você vai continuar tendo muito contato com o paciente. Não existem plantões noturnos, mas a carga horária continua sendo 60 horas semanais e, além de estudar física, você vai precisar de um raciocínio clínico e fisiológico elaborado para poder laudar os exames”.  

Posts relacionados

Referências:

Medicina Nuclear: residência, áreas de atuação, rotina e mais!

Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear

Demografia Médica no Brasil 2018

A.C Camargo Cancer Center