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Síndrome do pânico: definição, sintomas, diagnóstico, tratamento e mais | Colunistas

Síndrome do pânico: definição, sintomas, diagnóstico, tratamento e mais | Colunistas

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Imagem de perfil de Felipe Vanderley Nogueira

“De repente, senti uma sensação muito ruim tomando conta de mim, me senti apreensivo, meu coração começou acelerar, senti minhas mãos e pés frios, fiquei ofegante, sentia a respiração aumentar, sentia como se estivesse me faltando fôlego. Parecia que estava tendo um infarto e sentia que a qualquer hora poderia descompensar e morrer.”

Você já se sentiu assim? Só quem já vivenciou um ataque de pânico sabe o quanto a sensação de morte iminente é atordoadora. Atualmente é cada vez mais prevalente o diagnóstico de patologias relacionadas ao psicológico e às emoções humanas. A ansiedade, por exemplo, pode ocasionar uma gama de transtornos, dentre os quais se inclui o transtorno do pânico, fobia social, transtorno de estresse pós-traumático, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e distúrbio de ansiedade generalizada.

O transtorno do pânico, síndrome do pânico ou ansiedade paroxística episódica é uma patologia marcada por crises repentinas e agudas de ansiedade, associada à sensação de medo, desespero e outros sintomas físicos e emocionais, que atingem seu ápice após cerca de 10 minutos do início dos sintomas. O Compêndio de Psiquiatria escrito por Kaplan ainda define transtorno de pânico como “um ataque intenso agudo de ansiedade acompanhado por sentimentos de desgraça iminente”. É o ponto a partir do qual a ansiedade, uma emoção normal de humanos, passa a se tornar patológica.

Etiologia

Existe uma gama de hipóteses quanto aos fatores predisponentes da síndrome do pânico. Pesquisas sobre sua etiologia biológica demonstram que uma provável causa de seu surgimento está ligada à regulação anormal dos sistemas noradrenérgicos. Há a hipótese de que a desregulação nervosa central e periférica ocasionada pelo aumento do tônus simpático possa causar uma resposta excessiva a estímulos moderados. Os principais sistemas neurotransmissores envolvidos nessa hipótese são os de serotonina, norepinefrina e GABA (ácido gama-aminobutírico). Alguns estudos de neuroimagem correlacionam um aumento das estruturas corticais pré-frontais, como a amígdala, ínsula, mesencéfalo e substância cinzenta periaquedutal, ao desenvolvimento aumentado de síndrome do pânico.

Outro fator que estudos demonstram estar ligado aos ataques de pânico são as substâncias indutoras do pânico (psicogênicas). Estas são substâncias capazes de alterar o equilíbrio ácido básico (CO2, lactato de sódio e H2CO3) e causar estimulação respiratória. Alguns exemplos são a ioimbina, mCPP, medicamentos m-Carolines, agonistas inversos de GABA. Flumazemil, colecistocinina e a cafeína.

Outros estudos afirmam a ocorrência de fatores genéticos, predispondo parentes de primeiro grau desses pacientes a um risco de 4 a 8 vezes maior de desenvolver o transtorno.

Os fatores psicossociais também possuem sua contribuição, tendo origem em uma defesa malsucedida contra os impulsos que provocam a ansiedade. O que anteriormente podia se tratar de uma leve ansiedade passa a se tornar um sentimento forte de apreensão, que se acompanha de sintomas somáticos.

Sintomas da síndrome do pânico

Os sintomas mais comumente apresentados por esses pacientes incluem (DSM-V):

  • Dor/desconforto no peito;
  • Palpitações/taquicardia;
  • Sensação de falta de ar ou sufocamento;
  • Medo de morrer;
  • Medo de perder o controle ou enlouquecer;
  • Despersonalização (sentir-se fora de si, como se estivesse num sonho) e desrealização (sentimento de irrealidade, distorção de visão do mundo);
  • Sudorese;
  • Náusea;
  • Desconforto abdominal;
  • Tontura/vertigem;
  • Ondas de calor/calafrios;
  • Adormecimentos/formigamentos;
  • Tremores.

Estes sintomas surgem de forma abrupta, acompanhado do sentimento de medo e desconforto, atingindo seu pico cerca de 10min após início dos sintomas acima. Alguns comportamentos que podem acompanhá-los incluem o desenvolvimento de evitações fóbicas, ligadas muitas vezes às situações em que o paciente estava quando apresentou as crises, e o desenvolvimento de agorafobia (do grego Ágora=praça pública, fobia=medo), que é o receio de estar numa situação difícil ou embaraçosa de sair; no caso de um ataque de pânico, por exemplo, dentro do cinema, de aviões, reuniões, etc. A agorafobia por si só possui um diagnóstico nosológico independente da síndrome do pânico, apesar destes muito frequentemente aparecerem juntos.

Diagnóstico da síndrome do pânico

São critérios diagnósticos:

  1. Ataques de pânico recorrentes e inesperados com os sintomas acima especificados;
  2. Pelo menos um dos ataques foi acompanhado de um ou mais dos sintomas: Preocupações persistentes com ataques adicionais ou suas consequências (medo de perder o controle, ter um ataque cardíaco ou enlouquecer), ou uma alteração mal adaptativa significante no comportamento em relação ao ataque (comportamentos voltados para evitar o ataque de pânico, como exercícios ou ambientes desconhecidos);
  3. Os ataques de pânico não são devidos ao efeito fisiológico de uma substância ou outra condição médica, nem devidos a outro transtorno mental.

Diagnósticos diferenciais

Os critérios diagnósticos acima são de suma importância para realizarmos um correto diagnóstico diferencial de outras condições clínicas que podem ser semelhantes às apresentadas na síndrome do pânico. São exemplos de diagnósticos diferenciais:

  • Abuso de substâncias: anfetaminas, cocaína, maconha, anticolinérgicos, simpatomiméticos ou corticosteroides;
  • Outros transtornos mentais: transtorno obsessivo compulsivo (TOC), transtorno de estresse pós-traumático, fobia social ou fobia específica;
  • Condições médicas gerais: insuficiência coronária, asma brônquica, hipertireoidismo, hiperparatireoidismo, feocromocitoma, hipoglicemia, arritmias cardíacas, vertigem (neurológicas, labirintites, etc.), epilepsia de lobo temporal, abstinência do álcool e outros sedantes.

Tratamento da síndrome do pânico

O tratamento farmacológico da síndrome do pânico inclui os medicamentos da classe dos antidepressivos, podendo ser usados os inibidores seletivos de receptação de serotonina, inibidores seletivos de receptação de serotonina e noradrenalina, ou os tricíclicos. Opta-se mais pelos seletivos devido ao maior número de efeitos colaterais que os tricíclicos apresentam. Estes medicamentos se mostraram amplamente benéficos devido a sua ação direta sobre o controle da ansiedade, porém deve-se lembrar de alertar o paciente quanto a seu efeito bifásico sobre a mesma. Nas primeiras semanas, o antidepressivo pode aumentar agravar a ansiedade, porém aproximadamente a partir da segunda semana este começa a sentir sua atenuação e o consequente controle das crises. A psicoterapia, por sua vez, é uma das abordagens que mais tem demonstrado resultados benéficos. Ela é especialmente indicada quando há agorafobia associada. São realizadas sessões de terapia cognitivo-comportamental que auxilia o paciente a agir para evitar o surgimento de novas crises. E mudança de estilo de vida, com incentivo à prática de exercícios físicos em um contexto agradável, haja vista que estes são acompanhados de taquicardia e sudorese e podem trazer a lembrança de um ataque de pânico ao paciente.

Felipe Vanderley Nogueira – Acadêmico de Medicina

INSTAGRAM: @fel.vand

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