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Tireoidite de De Quervain: das manifestações clínicas ao tratamento

Tireoidite de De Quervain: das manifestações clínicas ao tratamento

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Tudo que você precisa saber sobre a Tireoidite de De Quervain em um único lugar. Conheça mais sobre as suas manifestações clínicas, alterações laboratoriais, tratamento e diagnóstico diferencial.

A Tireoidite de De Quervain é também conhecida como tireoidite granulomatosa subaguda, tireoidite subaguda dolorosa, tireoidite de células gigantes ou tireoidite granulomatosa.  Esta patologia é um dos tipos de tireoidite que conhecemos na medicina.

As tireoidites são patologias que tem como características o processo inflamatório da tireoide. Como consequência, tem-se a perda da funcionalidade da glândula, que pode ser transitória ou permanente.

Elas são classificadas de acordo com sua evolução clínica em:

  • Tireoidite agudas (ou supurativa aguda ou infecciosa) que é rara e tem prevalência em pacientes imunossupresso. Sua etilogia é bacterina.
  • A Subaguda compreende as seguintes doenças:
    • Tireoidite granulomatosa ou de De Quervain que tem etiologia viral;
    • Linfocítica ou indorlor que tem etiologia autoimune;
    • Pós-parto que também tem etiologia autoimune.
  • Crônicas:
    • Tireoidite de Hashimoto que é uma doença autoimune, que tem grande prevalência na nossa população e é uma das principais causas do hipotireoidismo;
    • Tireoidite de Riedel que tem etiologia idiopática.

É importante conhecer sobre as manifestações clínicas de cada tipo de tireoidite para que se possa direcionar a conduta a fim de realizar diagnóstico correto e, consequentemente, o tratamento adequado da doença.

Nesse post vamos falar sobre uma das tireoidites subaguda: A de De Quervain. Entretanto, no Guia Prático de Endocrinologia – Descomplicando a prática ambulatorial para o clínico é possível encontrar tudo que você precisa saber sobre tireoidites e tantas outras doenças endocrinológicas.

Definição epidemiologia

A tireoidite de De Quervain é uma tireoidite subaguda, que constitui um processo infeccioso autolimitado, caracterizada por dor ou desconforto na região da tireide.

Pacientes que possuem essa patologia seguem um padrão de alterações na tireoide. Inicialmente este se apresenta por hipertireoidismo, em que pode existir a presença de bócio macio e difuso, bem como os níveis de tiroxina (T4) e/ou triiodotironina (T3) estão elevados. Posteriormente é seguido de hipotireoidismo e, recuperação.

É uma doença que tem acometimento maior no sexo feminino do que no masculino, em uma proporção de 5:1. É mais comum entre a terceira e a quinta década de vida, não sendo o aparecimento comum em menores de 30 anos e nem em crianças.

Patogênia da Tireoidite de De Quervain

Segundo estudos, a tireoidite granulomatosa subaguda é causada direta ou indiretamente por uma infecção viral. Os sintomas surgem após uma infecção aguda do trato respiratório superior. Alguns estudos mostram ainda relação dessa patologia com algumas doenças:

  • Caxumba;
  • Sarampo;
  • Doença de arranhadura de gato;
  • Encefalite de Saint Louis;
  • Outros vírus como influenza, adenovírus, Epstein-Barr, etc.

Há ainda pesquisas que acreditam que a predisposição genética tenha parte no desenvolvimento da doença, uma vez que frequentemente há associação com o antígenos de histocompatibilidade HLA-Bw35, o antígeno leucocitário humano.

Histologicamente essa tireoidite se apresenta com infiltração de polimorfonucleares, mononucleares e células gigantes, com formação de microabscessos e fibrose. Isso resulta em destruição dos folículos e proteólise da tireoglobulina.

Manifestação clínica

O início da manifestação clínica é marcado por astenia, mal-estar, artralgia, mialgia, faringite e febre baixa. Logo após, a febre começa a se intensificar e, dá-se início a dor na região da tireoide, que pode se irradiar para pescoço, cabeça, mandíbula, ouvidos. O quadro evolui para tosse nos momentos de deglutição e movimentação do pescoço. O paciente ainda pode referir, de forma rara, paralisia das cordas vocais.

Pode haver presença de bócio nodular, de consistência firme, bastante doloroso e, na maioria das vezes, unilateral. A dor e a hipersensibilidade local muitas vezes não tornam possível ao médico delimitar a lesão. Pode ter eritema e calor na pele sobrejacente, nos casos em que o processo inflamatório é mais intenso.

Apesar de esse ser o quadro característico, algumas pessoas não apresentam dor. Esse fato não exclui o diagnóstico.

A tireoidite de De Quervain apresenta quatro fases, mas que não necessariamente ocorre dessa forma em todos os pacientes:

  • 1ª. Fase dolorosa aguda inicial com hipertireoidismo: geralmente são transitórios, durando de 2 a 6 semanas. Ocorrem devido ao dano às células foliculares da tireoide, o que causa liberação de tireoglobulina, T3 e T4;
  • 2ª. Eutireoidismo;
  • 3ª. Hipotireoidismo: em função da destruição do parênquima tireoidiano, algumas pessoas podem desenvolver o hipotireoidismo que costuma a ser transitório;
  • 4ª. Eutireoidismo.

Alterações laboratoriais

Como achados laboratoriais alterados, encontramos:

  • VHS aumentado;
  • PCR aumentando;
  • Leve anemia normocítica, normocrômica;
  • Leucócitos podem estar normais ou discretamente elevados;
  • Pode haver alterações hepáticas na fase inicial da doença;
  • T3 e T4 aumentadas e TSH suprimido, na fase do hipertireoidismo;
  • T4 livre baixo e TSH elevado, na fase do hipotireoidismo.

Em relação aos exames de imagem, temos:

  • RAIU: possui baixa captação;
  • Cintilografia: m padrão irregular de distribuição do radioisótopo ou mesmo a glândula totalmente “apagada”;
  • USG: e áreas hipoecoicas irregulares e mal delimitadas localizadas nas regiões subcapsulares.

Diagnósticos diferenciais

Quando tivermos paciente referindo tumor, bócio ou dor na região tireoidiana podemos pensar em algumas patologias, apesar de que a tireoidite de De Quervain ser a primeira causa de dor na tireoide.

Confira os principais diagnósticos diferenciais:

  • Tireoidite aguda;
  • Celulite;
  • Infecção em cisto do ducto tireoglosso ou cisto branquial;
  • Hemorragia em carcinoma tireoidiano;
  • Tireoidite de Hashimoto dolorosa;
  • Casos de Tireotoxicose.

Tratamento

O tratamento tem como objetivo o controle da dor e dos sintomas de hipotireoidismo ou hipertireoidismo, caso o paciente apresente.

Para o controle da dor, podemos prescrever anti-inflamatórios não hormonais e glicocorticoides. Caso não surtam efeitos, podemos indicar cirurgia.

O controle dos sintomas de hipertireoidismo se da por uso de betabloqueadores e/ou de antitireoidianos de síntese. Já para o hipotireoidismo, fazemos o uso de levotiroxina.

Sugestão de leitura complementar

Veja também:

Referências

  • BURMAN, K. D. Overview of thyroiditis. UpToDate, 2021.
  • BURMAN, K. D. Subcute Thyroiditis. UpToDate, 2022.
  • VILLAR, L. et al. Endocrinologia clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021