Psiquiatria

Uso problemático da internet: como lidar?

Uso problemático da internet: como lidar?

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Em 2001 surgiu a preocupação com o uso problemático da internet, experimentada como algo irresistível, por períodos de tempo mais longos do que o pretendido e capaz de gerar sofrimento significativo ou prejuízo resultante do seu uso descontrolado.

Uso problemático do smartphone

Na Coreia do Sul e China, o uso problemático do smartphone é uma questão de saúde pública, após observado aumento no número de acidentes de trânsito e adolescentes desenvolvendo problemas de saúde devido ao uso do celular por longos períodos. No entanto, ainda não consta em manuais diagnósticos.

Comorbidades que podem estar associadas ao uso problemático do smartphone

  • TDAH
  • Transtornos ansiosos
  • Transtornos depressivos
  • Transtorno Bipolar
  • Dificuldade de controle de impulso
  • Transtorno de uso de substâncias

Como ajudar o paciente?

  • Ajude a entender o cenário;
  • Ajude a definir padrão de uso;
  • Estabeleça objetivos claros com o paciente;
  • Limite e diminua o tempo de uso, com um plano criado juntamente com o paciente;
  • Faça uma lista com hobbies e atividades que o paciente gostava e sugira aumentar o tempo gasto nessas atividades;
  • Lembrar das comorbidades.

Transtorno do jogo

DSM-5

  • Preocupação excessiva
  • Abstinência
  • Tolerância
  • Perda do autocontrole
  • Perda de outros interesses
  • Uso exagerado contínuo
  • Uso como escape de sentimentos negativos
  • Perda de funcionalidade

CID 11

3 sintomas chaves:

  • Perda do controle sobre o jogar;
  • Aumento da importância dada ao jogar;
  • Aumento do jogar apesar da ocorrência de consequências negativas.

Transtorno dismórfico corporal (TDC)

  • TDC: espectro do TOC (DSM-5);
  • Pelo menos 1 preocupação excessiva com uma alteração pequena ou não existente em aparência física;
  • Pensamentos sobre isso por pelo menos 1h/dia;
  • Impacto no funcionamento ocupacional, social e/ou pessoal;
  • Comportamentos compulsivos e repetitivos relacionados à preocupação: checagem no espelho, reafirmação com as outras pessoas, etc.

Snapchatdismorfia/ Instadismorfia/Selfiedismorfia

  • 2018: relatos de aumento de procura por cirurgiões plásticos;
  • Insatisfação em aparência induzida por mídias sociais;
  • Ideal estético pessoal: utilização de filtro de fotos dos apps;
  • Idealização de resultados estéticos;
  • Atentar para TDC;
  • Geralmente vem associado a alguma comorbidade (como transtorno de ansiedade, transtorno depressivo);
  • Suporte em saúde mental;
  • Uso de internet e mudança no padrão de percepção de beleza;
  • Preocupação com feedback imediato: críticas, elogios;
  • Associação entre manipulação de fotos antes de postar e insatisfação corpórea e transtornos alimentares;
  • Fotos digitais são mais fidedignas que filtros.

Associação entre uso problemático de internet e Transtornos alimentares

2 modos principais:

Sedentarismo + delivery fast food = perda de controle ao comer + “dietismo” + compulsão alimentar

Seguir “influencers” = alteração na auto percepção de imagem corporal = anorexia, bulimia, hiperpreocupação com a comida

Novos sintomas associados à internet

  • Superestimulação;
  • “Fear of missing out”(FOMO): Sensação subjetiva de que os outros estão tendo experiências gratificantes e você não;
  • “Phubbing”: Checagem problemática de redes sociais mesmo quando a pessoa está em uma relação ou encontro real.

Tratamento

Comorbidades psiquiátricas mais comuns:

•Diagnosticar e tratar

Escolha de medicação (em estudo):

  • Antidepressivos serotoninérgicos?
  • Psicoestimulantes?
  • Naltrexona (associado com ISRS)
  • Suporte psicoterápico

Outras ideias de intervenção

  • Quebrar o algoritmo (as mídias sociais tem acesso ao que estamos procurando na internet e facilitam o alcance a esses conteúdos, aumentando o nosso tempo nas redes sociais);
  • Ter novas experiências;
  • Valorizar mais os encontros interpessoais.

Violência na internet

Agressões no ambiente virtual causam repercussões reais na saúde mental das pessoas, como piora da autoestima, depressão e ansiedade.

Como lidar?

  • Identificar as dinâmicas de exclusão na internet e redes de aplicativos, como a marginalização das pessoas que fogem às normas do corpo padrão (obesos);
  • Compreender como a internet interfere na autoestima e na saúde da pessoa;
  • Perceber essas estruturas de exclusão;
  • Apoiar a construção de novos relacionamentos que acolham a diversidade e que valorizam sua humanidade e não apenas as características do seu perfil na internet.

Efeito desinibidor online

  • Anonimato – maior chance de se revelar confidências;
  • Conveniência;
  • Escape do mundo real;
  • Invisibilidade (sem olhar de reprovação, maior exposição pessoal);
  • Perda de limites entre indivíduos (hábito de mover os lábios ou mesmo ler mensagens em voz alta);
  • Falta de hierarquia.

Componentes que podem facilitar as relações no mundo virtual

  • Similaridade: pessoas tendem a gostar mais de pessoas parecidas
  • Reciprocidade: pessoas tendem a gostar mais de quem dá mais atenção
  • Autorrevelação: “revelar leva a gostar e gostar leva revelar”
  • Humor
  • Facilidade em representar um personagem
  • Relações virtuais tendem a ser hiperpessoais
  • Relacionamentos virtuais progridem mais rápido
  • Maiores situações de risco e exposição
  • Muitas pessoas preferem manter o contato online em detrimento ao real, por medo do risco de rejeição

Cyberbullying

  • Assédio virtual recorrente por meios tecnológicos com a finalidade de provocar algum prejuízo na pessoa que é vítima;
  • Comportamento é intencional;
  • Padrão de comportamento repetido;
  • O alvo percebe que algum dano ocorreu a si;
  • Uso de computadores, celulares e outros eletrônicos (vídeo-game);
  • O cyberbullying aumenta as taxas de ideação e tentativas de suicídio.

Como abordar a violência

  • Escutar e comunicar que acredita;
  • Validar a decisão da pessoa em revelar a situação de violência;
  • Explicitar que a pessoa não é culpada pela situação;
  • Enfatizar a não aceitação da violência;
  • Avaliar os riscos imediatos;
  • Pactuar plano de segurança e mapear rede de apoio;
  • Aspectos a serem considerados no seguimento (direitos, apoio psicológico, grupo com pessoas em situação semelhante);
  • Notificar a violência no SINAN.

Orientações educativas e preventivas de violência virtual

  • Dialogo e confiança são os principais fatores de proteção;
  • Ensinar a importância da integridade e do respeito ao corpo;
  • Não devem se despir para ninguém na internet que faça pressão para que tirem a roupa;
  • Não se deixem fotografar ou serem filmados sem roupa;
  • Discutir intimidade e privacidade;
  • Alertar sobre abusos virtuais;
  • Promover a cultura do consentimento;

Orientações sobre gerenciamento da visibilidade virtual

  • Gerenciamento de visibilidade: modos como as pessoas lidam com a exposição de suas identidades, revelando ou ocultando certos aspectos;
  • Atenção a quem se direciona qualquer material na internet;
  • No caso de crianças e adolescentes, os pais e responsáveis devem ser orientados que há modos eletrônicos de bloquear ou, ao menos, dificultar o acesso ao material considerado impróprio para a faixa etária;
  • Orientações sobre gerenciamento da visibilidade online podem prevenir desfechos negativos em saúde, como bullying e violência sexual.

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