Índice
- 1 Tipos de Acidente Vascular Cerebral
- 2 Etiologia e fisiopatologia
- 3 Mecanismos da Hemorragia subaracnóide (HSA)
- 4 Achados clínicos no AVCi
- 5 Achados clínicos no Ataque isquêmico transitório (AIT)
- 6 Achados clínicos no AVCh (HIP e HSA)
- 7 Exame físico do paciente com suspeita de AVC
- 8 Abordagem inicial ao paciente com Acidente Vascular Cerebral
- 9 Exames complementares
- 10 Tratamento
- 11 Prevenção e tratamento de complicações do AVCi
- 12 Profilaxia secundária
- 13 Tratamento para Acidente Vascular Cerebral
- 14 HSA
- 15 Prognóstico em quadros de HIC
- 16 Checklist do AVCh
- 17 Referências
O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é um déficit neurológico focal, de instalação súbita ou com rápida evolução, de causa vascular. É a segunda maior causa de morte no mundo e a principal causa de morte no Brasil.
Os principais fatores de risco para AVC são: idade > 60 anos, hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus tipo 2, hipercolesterolemia, tabagismo, história familiar de doença cerebrovascular.
Tipos de Acidente Vascular Cerebral
O AVC pode ser isquêmico (AVCi), em cerca de 80% dos casos ou hemorrágico (AVCh), em 20% dos casos. Sua distinção é muito importante para guiar a conduta.
Algumas características do quadro clínico podem sugerir mais um AVCh do que um AVCi, porém a confirmação apenas é possível através de um exame de imagem (preferencialmente, tomografia computadorizada).
Etiologia e fisiopatologia
AVCi: Região de infarto propriamente dita. Dano estrutural e funcional são irreversíveis.
Zona de penumbra isquêmica: Região onde há redução do fluxo sanguíneo, mas que é capaz de se manter estruturalmente viável.
Principais causas do AVCh:
- Hipertensão
- Angioma cavernoso
- Angiopatia amiloide
- Neoplasia intracraniana
- Malformação ou fístula arteriovenosa
- Aneurisma roto
Mecanismos do AVCi e AIT
- Mecanismos aterotrombóticos;
- Fatores de risco: hipertensão, DM, dislipidemia e tabagismo.
- Trombose in situ- no local da placa aterosclerótica-;
- Tromboembolismo distal- oclusão vascular distalmente ao local do placa.
- Cardioembolismo (oclusão vascular súbita por êmbolo proveniente do coração):
- Arritmias: Fibrilação atrial (mais comum);
- Miocardiopatias;
- Valvopatias;
- Trombose de pequenas artérias
- Pequenos infartos, causados por oclusão, na profundidade dos hemisférios cerebrais ou do tronco encefálico;
- Fatores de risco: hipertensos e DM
- Outros: arterites, trombofilias, dissecções arteriais cervicais
Mecanismos da Hemorragia intraparenquimatosa (HIP)
- Hipertensão arterial é a sua causa mais comum;
- “Aneurismas” de Charcot-Bouchard: espiralamento das artérias e arteríolas, devido a alteração patológica causada pela HA.
- Outras causas: malformações vasculares, aneurismas saculares, distúrbios da coagulação, sangramento de tumores cerebrais, arterites e drogas.
- Suspeitar quando há hemorragia lobar, sem HA;
- Idosos> 70 anos: angiopatia amiloide.
- Próximos aos ventrículos: pode causar dilatação ventricular.
- Complicações: edema cerebral, inundação ventricular, hidrocefalia, desvios hemisféricos e herniação.
- Locais mais frequentes: núcleos da base, ponte, cerebelo, substância branca dos lobos cerebrais (hemorragia lobar).

Mecanismos da Hemorragia subaracnóide (HSA)
- Principal causa: Hemorragia de aneurismas saculares intracranianos;
- Locais mais frequentes: ACA, ACP, ACM (próximas ao polígono de Willis).
Achados clínicos no AVCi
O quadro clínico do paciente com AVC pode ser muito diverso, visto que os sintomas variam conforme o território arterial acometido. Isso torna o seu diagnóstico, por vezes, desafiador, embora seja um evento de alta prevalência.
A artéria mais acometida, geralmente, é a artéria cerebral média (ACM). Lesões vasculares em seu território geram os sintomas clássicos de AVC:
• Alterações de fala/linguagem (disartria/afasia);
• Paresia (fraqueza) ou plegia/paralisia (perda total da força), que pode ser
tanto de membros quanto facial.

O território vertebro basilar também é conhecido como “circulação posterior” e dá origem às artérias que irrigam tronco encefálico, cerebelo e
parte do lobo occipital (artéria cerebral posterior- ACP). O território carotídeo também é conhecido como “circulação anterior” e dá origem às artérias cerebrais média (ACM) e anterior (ACA). Os AVCs de circulação posterior (território vertebro basilar e seu ramo ACP) são os que possuem quadro clínico mais desafiador, visto que o paciente pode se apresentar na emergência apenas com tontura e alteração na marcha de instalação súbita.
É importante investigar hipertensão arterial, DM, dislipidemias, cardiopatias, tabagismo, uso de anticoncepcionais, drogas – cocaína e anfetaminas, ocorrência recente de outro AVC, trauma craniano ou cirurgias recentes, sangramentos, doenças hepáticas e renais, uso de anticoagulante e neoplasias.
No AVCi é frequente observar aumento da PA, devido a liberação de catecolaminas, cortisol e ACTH. Isso contribui para a manutenção de uma pressão de perfusão cerebral menos nociva à zona de penumbra.
Achados clínicos no Ataque isquêmico transitório (AIT)
- Antiga definição: sinais e sintomas regridem em até 24horas;
- Maioria dos casos: duram de 8 a 14 minutos;
- Deve ser corroborado com neuroimagem, para descartar lesão isquêmica encefálica recente (LIER);
- LIER+ completa regressão dos sintomas neurológicos: AVC “menor” ou “pequeno icto”.
Achados clínicos no AVCh (HIP e HSA)
- HIP: déficit neurológico focal súbito acompanhado, muitas vezes, por náuseas, cefaleia, vômitos, redução do nível de consciência e níveis pressóricos bastante elevados e crise convulsiva.
- HSA: cefaleia súbita, intensa e holocraniana. Náuseas, vômitos, tonturas e sinais de irritação meníngea, déficits motores, sensitivos, distúrbios da linguagem, crises convulsivas e alteração dos nervos cranianos.
Exame físico do paciente com suspeita de AVC
- O tempo de evolução do déficit focal neurológico é informação fundamental para algumas decisões terapêuticas;
- Estado de hidratação, oxigenação, FC, FR, ritmo e ausculta cardíaca;
- Nível de consciência reavaliado periodicamente- pode necessitar de IOT;
- Pressão arterial periodicamente avaliada;
- Exame de fundo de olho;
- Palpação de pulsos carotídeos, temporais e periféricos (diagnóstico de estenoses arteriais).
Abordagem inicial ao paciente com Acidente Vascular Cerebral
Como todo atendimento de emergência, a abordagem do paciente com AVC também perpassa o ABCDE primário, com estabilização hemodinâmica e posterior investigação e tratamento do evento.
A avaliação inicial deve ser rápida e objetiva, visto que o tratamento do AVC
isquêmico, o tipo mais comum de AVC, é altamente dependente do tempo de instalação dos déficits.
No exame neurológico (D, Disability), após checada a responsividade do paciente, prossegue-se com a aplicação do NIHSS (National Institute of Health Stroke Scale). O NIHSS é uma escala com 11 tarefas, cujo escore varia de 0 (melhor pontuação) a 42 (pior pontuação). Esta escala avalia de forma quantitativa a severidade e magnitude do déficit neurológico após o Acidente Vascular Cerebral (AVC). No NIHSS quanto maior a
pontuação, pior o quadro clínico do paciente.
NIHSS |
1a- Nível de consciência |
1b-Orientação |
1c-Comandos |
2.Olhar conjugado |
3Campo visual |
4.Moviemnto facial |
5.Resposta motora MMSS |
6.Resposta motora MMII |
7.Ataxia apendicular |
8.Sensibilidade |
9.Linguagem |
10.Disartria |
11.Extinção/desatenção ou negligência |

Stroke mimics
- Hipo/hiperglicemia
- Crise epiléptica
- Trauma
- Síncope
- Enxaqueca com aura
- Neoplasia
- Hematoma subdural
- Abscesso
- Meningite, encefalite
- Intoxicação aguda
- Insuficiência hepática
- Distúrbio hidroeletrolítico
- AIT
- Distúrbio psiquiátrico
Exames complementares
- Hemograma, glicemia, ureia, creatinina, sódio, cálcio, potássio, coagulograma (TP, TTPA e RNI), ECG e Rx tórax.
- TC de crânio (sem contraste)
- AVCi: área hipoatenuante, leve apagamento dos sulcos cerebrais, tênue hipoatenuação nos núcleos da base e o sinal da artéria cerebral média hiperdensa podem ser vistos. Pode não ter achados na primeiras horas após início dos sintomas.
- AVCi em fase hiperaguda (<12 horas): perda da diferenciação da substância branca e cinzenta na insula, indefinição dos núcleos lentiformes, hiperdensidade da artéria acometida (cerebral, basilar). Pode ocorrer redução dos sulcos corticais.
- HIP: Imagem hiperatenuante dentro do parênquima encefálico.
- HSA: Imagem hiperatenuante, ocupando as cisternas e sulcos cerebrais.
- LCR
- Quando há suspeitas clínicas de HSA, mas sem achados na TC;
- Xantocromia (LCR amarelado, característica de hemorragia do cérebro ou medula espinal);
- Nº elevado de hemácias e leucócitos
- Outros:
- ECO Doppler transtorácico ou transesofágico – causa cardioembólica
- ECG de 24 horas (Holter)- arritmias paroxísticas- fibrilação atrial
- Ecodoppler de artérias carótidas, vertebrais, Doppler transcraniano e angioressonância- estenoses arteriais intra e extracraniana
- Angiografia cerebral digital: exame referência para identificar mecanismo da HSA
Tratamento
AVCi (fase aguda)
Suporte clínico:
- Oxigênio suplementar se sat O2 <95%
- Exames laboratoriais para análises bioquímicas, hematológicas e da coagulação;
- Hidratação adequada, correção de distúrbios metabólicos e hipertermia, jejum oral nas primeiras 24 horas;
- Profilaxia de complicações não neurológicas (infecção urinária, pulmonar, TVP e TEP e úlceras de decúbito)
- Fisioterapia motora e respiratória
Tratamento específico
Recanalização do vaso ocluído com trombolíticos.
- Se tempo de evolução do quadro neurológico não ultrapassar 4,5 horas até o início da infusão do agente:
- Rt-PA (Alteplase): 0,9mg/kg (dose máxima de 90 mg) durante 70 min, sendo 10% da dose administrada em bolus durante 1 min
- Não administrar anticoagulantes ou antiagregantes nas primeiras 24 horas após trombolítico
Critério de inclusão para trombólise intravenosa
- Idade acima de 18 anos;
- Diagnóstico clínico de AVCi
- Deficit neurológico de intensidade significativa
- Evolução menor que 4,5 horas antes do início da infusão do trombolítico
- Tomografia de crânio sem evidências de hemorragia
Critérios de exclusão para trombólise intravenosa

Prevenção e tratamento de complicações do AVCi
- Convulsões: não é indicado anticonvulsivantes, exceto em recorrência de crises;
- Edema cerebral: hiperventilação, diuréticos osmóticos, manitol e barbitúricos, hipotermia induzida têm eficácia discutível. Craniectomia descompressiva pode ser indicada em infarto cerebelares extensos.
- Transformação hemorrágica: A maioria não sintomática e não requer mudança de conduta.
Profilaxia secundária
- Início precoce de reabilitação
- AAS (325mg/dia): alguns estudos demonstram benefício se usada nas primeiras 48horas do evento
- Não há benefício no uso rotineiro de anticoagulantes
- Obs.: A PA não deve ser tratada, exceto em situações de emergência hipertensiva, como Encefalopatia hipertensiva, IAM, IC, doença renal, DAG e AVCI com PAD> 120 mmHg e PAS>220mmHg.
- A PA após o trombolítico deve ser mantida rigorosamente < 185/110 mmHg. Nesse caso, tratar com Beta bloqueadores (metoprolol ou esmolol) e em situações críticas, pode ser usado Nitroprussiato de sódio.

Tratamento para Acidente Vascular Cerebral
AVCh
Manejo da PA para AVCh:
- Pressão arterial sistólica entre 140-180mmHg;
- Beta bloqueadores ou bloqueadores de canais de cálcio (labetalol, metoprolol, nicardipina, clevidipina).
- Pacientes previamente hipertensos, a PAM deve ser mantida <130 mmHg;
- Metas: PPC>70 mmHg e PIC<20 mmHg (Hipertensão intracraniana: PIC> ou =20mmHg por mais de 5 minutos).
Medidas na hipertensão intracraniana
- Manitol a 20%: dose de 0,5 a 1,0g/kg, via intravenosa, em 5 a 30 minutos.
- Hiperventilação: o objetivo é reduzir a PaCo2 para níveis entre 30 e 35mmHg.
- Sedação e/ou bloqueio neuromuscular: benzodiazepínicos, barbitúricos ou propofol, associado ou não a bloqueadores neuromusculares não despolarizantes.
HSA
- Suporte clínico
- Tratamento das complicações neurológicas
- Ressangramento: prevenir com repouso, ansiolíticos, analgesia e laxantes, tratar PA muito elevada;
- Vasoespasmo: importante causa de sequela neurológica. Aparece entre o 4º e 14º dia, geralmente
- Prevenção e tratamento: HA farmacologicamente induzida, hipervolemia e hemodiluição, angioplastia.
- Nimodipina (bloqueador de canal de cálcio), parece melhorar prognóstico.
- Hidrocefalia
- Corticosteroides para reduzir processo inflamatório no espaço subaracnóideo
- Convulsões
- Piora do prognóstico com fenitoína. Preferir outros anticonvulsivantes.
- Tratamento do aneurisma roto propriamente dito

Prognóstico em quadros de HIC

Checklist do AVCh
Avaliação
- Hemograma com TP, TTPA e RNI
- Resultados do exame de imagem de crânio: identificar tamanho e localização do hematoma
- Avaliar nível de consciência
- Calcular o escore ICH
Intervenção
- Manejo de vias aéreas e ventilação
- Controle pressórico
- Reversão de coagulopatias (RNI almejado <1,4)
- Intervenção cirúrgica se indicada
Referências
Medicina de emergências: abordagem prática / Herlon Saraiva Martins, Rodrigo Antonio Brandão Neto, lrineu Tadeu Velasco. 11. ed. rev. e atual. Barueri, SP: Manole, 2017.
Oliveira, CQ, Souza, CMM, Moura, CGG. Yellowbook: Fluxos e condutas da medicina interna. SANAR, 1ª ed, 2017.
Martins H S, Santos R , Arnaud F et al. Medicina de Emergência: Revisão Rápida. 1ª edição. Barueri, SP: Manole, 2016.
2018 Guidelines for the Early Management of Patients With Acute Ischemic Stroke: A Guideline for Healthcare Professionals From the American Heart Association/American Stroke Association;
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