Pediatria

Febre Sem Sinais Localizatórios (FSSL): o que é e epidemiologia

Febre Sem Sinais Localizatórios (FSSL): o que é e epidemiologia

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A Febre Sem Sinais Localizatórios corresponde a aproximadamente 20% dos casos onde a identificação do foco após a avaliação inicial não é possível, e também pode ser referenciada por FSSL.

A febre é uma queixa comum e responde por aproximadamente 25% de todas as consultas na emergência de pediatria. Na maioria dos casos, é possível identificar a origem da febre após anamnese detalhada e exame físico completo e, então, definir as orientações terapêuticas adequadas. 

A maioria dessas crianças apresenta uma doença infecciosa aguda autolimitada ou está no pródromo de uma doença infecciosa benigna; poucas têm uma infecção bacteriana grave ou potencialmente grave. Dessa forma, o grande desafio dos pediatras, no atendimento das crianças com FSSL, reside na diferenciação dos processos febris de uma doença benigna autolimitada daqueles poucos que podem ter uma infecção bacteriana grave.

Definições de Febre sem sinais Localizatórios

Não há consenso absoluto, entre os vários autores, sobre o valor específico para definição de febre em crianças, em decorrência das inúmeras variáveis que afetam a temperatura. Entretanto, os valores geralmente utilizados são: temperatura retal > 38,3°C; temperatura oral > 38°C e temperatura axilar > 37,8°C.

A Febre sem sinais Localizatórios (FSSL) é a ocorrência de febre com menos de 7 dias de duração em uma criança em que história clínica e exame físico cuidadosos não revelam sua causa.

Infecção bacteriana grave (IBG)

É toda infecção bacteriana que acarreta risco de morbidade ou mortalidade, caso ocorra atraso em seu diagnóstico. O conceito de doença bacteriana grave inclui: infecção urinária, pneumonia, bacteremia oculta, meningite bacteriana, artrite séptica, osteomielite, celulite e sepse.

O risco de IBG é maior nos menores de 3 meses de idade, principalmente nos recém-nascidos (RN), e decresce progressivamente com a idade.

Bacteremia oculta (BO)

Refere-se a presença de bactéria em hemocultura, em uma criança febril, sem infecção localizada e com pouco ou nenhum achado clínico, sem histórico, exame físico e exames laboratoriais sugestivos de infecção bacteriana. Embora a maioria dos episódios de BO tenha resolução espontânea, às vezes podem ocorrer complicações sérias, como pneumonia, meningite, artrite séptica, osteomielite, sepse e morte.

Enquanto a febre normalmente indica um processo infeccioso, em raras situações pode ser a manifestação de outros processos, como intoxicações exógenas, colagenoses ou doenças malignas.

SE LIGA! Importante ressaltar que FSSL não é sinônimo de criança com febre e exame físico normal, pois a elucidação da causa da febre pode estar na história, como por exemplo, em uma criança com relato de disenteria e febre. 

Epidemiologia da Febre sem sinais Localizatórios

Após avaliação de um paciente pediátrico febril, cerca de 20% dos mesmos podem ser classificados como FSSL (Febre sem sinais Localizatórios). Até 2% dos pacientes com idade entre 3 e 36 meses podem ter BO, mas a maioria apresenta doenças virais autolimitadas.

Entretanto, é importante lembrar que a epidemiologia das infecções bacterianas na criança tem mudado com a introdução de vacinas como a Hib (que protege contra o Haemophilus influenzae tipo b) e as antipneumocócicas (PCV 7, PVC10 ou PVC13, que protegem contra o Streptococcus pneumoniae).

Tendo em vista que as crianças pequenas, especialmente recém-nascidos (RN) e crianças com menos de 3 meses, são mais imaturas imunologicamente e têm menos habilidade para demonstrar evidências clínicas de doenças (exame físico inespecífico), o risco de IBG é maior nessas faixas etárias, e chega a 12%. Os RN (lactentes com menos de 4 semanas de idade) são de risco para infecções por agentes microbianos neonatais (Escherichia coli e estreptococos do grupo B), bem como da comunidade (Streptococcus pneumoniae, Salmonella sp. e Neisseria meningitidis).

Também são de risco para infecções de sistema nervoso central por herpes vírus (0,3%, o mesmo risco de meningite bacteriana). O risco de óbito da meningoencefalite herpética é de 15%.

As infecções pelo H. influenzae tipo b, que chegaram a representar 19% das hemoculturas positivas de crianças febris que procuravam serviço médico na década de 1980, após a vacinação universal, diminuíram de forma a quase eliminar este agente como causa de doenças. Isso torna nula a importância desse agente como etiologia de BO e a investigação é desnecessária atualmente. Essa vacina é amplamente aplicada no Brasil, o que provavelmente faz com que o padrão de queda da incidência dessas infecções se assemelhe ao dos Estados Unidos.

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