Dermatologia

Isotretinoína é segura para tratar acne? Entenda como deve ser feito o uso

Isotretinoína é segura para tratar acne? Entenda como deve ser feito o uso

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Quando pensamos em tratamento de acne, logo lembramos da isotretinoína. Esse medicamento, que já foi vetor de muita polêmica, tem sido cada vez mais desmistificado na dermatologia. Por isso, o uso da isotretinoína é o tema desta coluna. 

O que é a Isotretinoína oral e quando seu uso é indicado? 

A Isotretinoína oral é um retinoide derivado da vitamina A que é utilizada no tratamento da acne grave, recidivante, nodular e não responsiva às demais terapias. 

O uso também deve ser avaliado para pacientes com tendência a cicatrizes de acne. 

Como é a atuação da Isotretinoína no organismo? 

A  Isotretinoína é o único medicamento que atua nos quatro fatores etiopatogênicos da acne: 

  • Reduz a hiperqueratinização acroinfundibular e a comedogênese;
  • Reduz a sebogênese, pela redução em até 90% do tamanho e atividade das glâdulas sebáceas; 
  • Diminui a população do C. acnes e modula a inflamação;
  • É a única droga capaz de proporcionar a cura da acne em até 80% dos pacientes. 

Tratamento para acne com Isotretinoína

A dose orientada em bula é de 0,5 a 1 mg/kg/dia, ingerida principalmente após o almoço, pela sua característica lipofílica. 

Não existe consenso definindo a dose ideal, entretanto estudos recentes acreditam que usar a dose de 20mg/dia teriam o mesmo resultado a longo prazo que doses maiores, porém com efeitos colaterais reduzidos.

Deve-se manter o tratamento por 2 meses após a ausência do surgimento de novas lesões. O tratamento dura entre 6 meses a 1 ano. 

É obrigatória a prescrição de anticoncepcional associado a preservativo para mulheres em idade fértil.

Como orientar o paciente sobre o uso da Isotretinoína?

É importante conversar com o paciente sobre a responsabilidade durante o uso da medicação. 

Antes de introduzir a medicação devem ser realizados os exames de função hepática, perfil lipídico e beta-HCG sérico. Caso os exames estejam dentro da normalidade, pode-se iniciar o tratamento.

Os exames devem ser repetidos após um mês de uso e depois a cada 3 meses. O Beta-hcg deve ser repetido mensalmente. É muito importante saber que em apenas 2% dos casos ocorre qualquer alteração laboratorial secundária ao uso da Isotretinoína. 

Durante o período o paciente não deve fazer uso de bebidas alcoólicas, cigarros ou drogas ilícitas. Bem como deve realizar os exames solicitados e frequentar sempre as consultas médicas. 

Até hoje nenhum ensaio clínico randomizado e controlado conseguiu comprovar qualquer associação entre distúrbios psiquiátricos e o uso de isotretinoína. A maioria dos estudos apresentam muitos vieses. 

Efeito adverso da medicação

O efeito adverso mais frequente é o ressecamento mucocutâneo, principalmente nos lábios. Também pode ocorrer a xerose cutânea, dos olhos, mucosa nasal e anal. 

Para controle dos efeitos, na grande maior parte dos casos, é indicado o uso de emolientes, hidratantes labiais, colírio e soro fisiológico. 

Outros eventos mais raros são: 

  • alopecia,
  • granuloma piogênico,
  • artralgias e
  • irritabilidade. 

O risco mais grave é a teratogenicidade. Não há riscos para gestações futuras, liberadas um mês após o término do tratamento. 

O efeito Flair-up, que consiste na exacerbação da acne nas primeiras oito semanas do tratamento, está relacionado à liberação de antígenos e resposta inflamatória intensa. 

Alguns casos apresentam maior risco para este quadro:  acne grave e extensa (face, tórax e dorso) e macrocomedões. 

Nestes casos, pode-se reduzir a dose da isotretinoína por duas a quatro semanas, até melhora do quadro. Em casos mais intensos pode-se associar prednisona 0,1-0,2mg/kg.

Expectativas futuras sobre a Isotretinoína

Nos últimos anos, muitos estudos estão sendo realizados sobre a Isotretinoína, e estes nos mostram que este fármaco é muito mais seguro do que se acreditava previamente. 

Vamos nos manter atentos aos novos estudos que estão por vir!

Referências 

Bagatin E, Costa CS, Rocha MAD, Picosse FR, Kamamoto CSL, Pirmez R, e tal. Brazilian Society of Dermatology consensus on the use of oral isotretinoin in dermatology. An Bras Dermatol. 2020;95(S1):19—38.

Marson JW, Baldwin HE. New Concepts, Concerns, and Creations in Acne. Dermatol Clin. 2019 Jan;37(1):1-9. 

Zaenglein AL, Pathy AL, Schlosser BJ, Alikhan A, Baldwin HE, Berson DS, Bowe WP, Graber EM, Harper JC, Kang S, Keri JE, Leyden JJ, Reynolds RV, Silverberg NB, Stein Gold LF, Tollefson MM, Weiss JS, Dolan NC, Sagan AA, Stern M, Boyer KM, Bhushan R. Guidelines of care for the management of acne vulgaris. J Am Acad Dermatol. 2016 May;74(5):945-73.e33. 

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