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A maioria das vítimas são mulheres e jovens médicos
A violência no trabalho é um dos muitos desafios da carreira médica. Após concluir a faculdade e começar a atender, o foco dos médicos deveria ser evoluir profissionalmente. Mas, eles precisam também desenvolver uma série de habilidades interpessoais para se blindar de agressões. Afinal, muitos médicos sofrem situações de agressão física e/ou verbal durante os atendimentos nos plantões ou consultórios. E quando não enfrentam o problema diretamente, com certeza tomaram conhecimento da história de algum colega.
As agressões na relação com o paciente e/ou familiares vão de ameaças e xingamentos até violência física. Elas acontecem, na maior parte das vezes, por discordância com as condutas de tratamento ou mesmo pela demora no atendimento.
A situação vem sendo observada por várias pesquisas e os números de casos só aumentam ao longo dos anos.
Em 2015, o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) revelou que 17% dos médicos sofreu algum episódio de violência. E recentemente, a Associação Paulista de Medicina apontou que 45% dos médicos foram agredidos durante atendimento.
Por isso, os médicos precisam ficar preparados para evitar o problema e saber como agir.
Violência no trabalho: qual é o real cenário?
Nos últimos anos, diversas pesquisas têm alertado para violência no trabalho sofrida por médicos. O objetivo é mapear ocorrências, possíveis motivações, quais são os públicos mais atingidos e como combater as situações agressões.
Em 2015, 66,7% dos profissionais de saúde de países latino-americanos afirmaram já terem sofrido algum tipo de agressão no local de trabalho. Segundo dados da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), obtidos em entrevistas com 20 mil profissionais.
A pesquisa apontou que 3/4 das agressões aconteceram em instituições publicas de saúde. As motivações foram demora no atendimento (44,2%), falta de recursos para o cuidado (28,2%) e notificação de morte (8,6%).
Ainda em 2015, o Cremesp divulgou uma pesquisa que mostrou o cenário de violência no trabalho dos médicos no estado. Dos médicos participantes, 64% afirmaram terem tomado conhecimento ou vivenciado episódios de violência por parte de pacientes ou acompanhantes.
As maiores vítimas de agressões são mulheres e jovens médicos. Segundo a pesquisa, 78% dos profissionais tinham entre 24 e 34 anos.
A pesquisa “Percepção da Violência na relação médico-paciente” contou com 1.424 participantes (incluindo médicos e pacientes). As motivações são as mesmas apontadas pela OPAS.
O Sindicato dos Médicos de Minas Gerais (Sinmed-MG) indicou um aumento do pedidos de exoneração da rede pública por causa de violência. De acordo com o Sinmed, um médico é agredido a cada 48 horas em Minas Gerais, em 2020.
O problema permanece crescendo. Na última semana, a Associação Paulista de Medicina (APM) mostrou que o índice de violência contra médicos na região de São José do Rio Preto (SP) é um dos maiores do país.
Seis em cada dez médicos já foram vítimas de violência no trabalho ou presenciaram agressões a colegas no ambiente de trabalho. A pesquisa afirma que os casos de agressão cresceram principalmente durante a pandemia, devido ao aumento no número de atendimentos.
Dos 354 médicos participantes, 63% já presenciaram atos de violência. Além disso, 44% foram vítimas de agressões em casos de ataques físicos, psicológicos e assédios sexuais.
Além das pesquisas, infelizmente, são comuns os casos na mídia de médicos que foram agredidos durante o exercício da profissão.
Consequências das situações de agressão
As situações de agressão podem afetar diretamente a rotina dos médicos e até da própria unidade de saúde. As consequências podem ser sequelas físicas e psicológicas para as vítimas e até estruturais para unidade de atendimento. Afinal, uma situação de agressão vai gerar atraso no atendimento e até dificuldade dos profissionais de saúde continuarem o expediente.
O problema pode impactar diretamente o aumento de burnout ocupacional e fadiga devido ao estresse. Além disso, a violência gera medo, insegurança e frustração. Sentimentos que podem ser um prato cheio para pedidos de demissão ou até mesmo no adiantamento da aposentadoria.
O que fazer em caso de agressão?
Em caso de agressão, seja ela física ou verbal, a primeira coisa que o profissional deve fazer é se proteger. É importante solicitar o auxílio de pessoas próximas (seguranças, outros profissionais ou até mesmo pacientes) e evitar o contato físico.
Se a situação fugir do controle o indicado é evitar o confronto direto. O médico não deve hesitar em acionar a Polícia, se necessário.
Depois, é importante registrar os fatos para se resguardar de acusações futuras e atos posteriores do agressor. Para isso, relate os fatos no prontuário médico, convocando as testemunhas para ratificar o registrado; e realize o Boletim de Ocorrência na Delegacia de Polícia competente.
O ideal é que esse registro seja bem rico de detalhes. Não esqueça de colocar:
- O nome do agressor
- O horário, dia e local do ocorrido
- Fotografias e filmagens do circuito de segurança da unidade
- Trazer o relato de testemunhas – bem como seus nomes e números de contato.
O registro é uma forma do profissional conseguir reparar os danos morais sofridos, retratação e criminalização da conduta do ofensor.