Índice
- 1 Nervos cranianos: classificações e informações transmitidas por eles
- 2 Anatomia dos nervos cranianos
- 3 Olfatório
- 4 Óptico
- 5 Oculomotor
- 6 Troclear
- 7 Trigêmeo
- 8 Abducente
- 9 Facial
- 10 Vestíbulo-coclear
- 11 Glossofaríngeo
- 12 Vago
- 13 Acessório
- 14 Hipoglosso
- 15 Como fazer o exame físico dos pares cranianos?
- 16 Estude neurologia com o SanarFlix!
- 17 Sugestão de leitura complementar
Você sabe o que são os nervos cranianos, sua anatomia e principais funções? Nesse texto, concentramos tudo sobre o assunto!
Os nervos cranianos são aqueles que fazem conexão com o encéfalo. Existem 12 pares desses nervos, cada um possui nomenclatura própria e são numerados em algarismos romanos.
São eles: olfatório (I), óptico (II), oculomotor (III), troclear (IV), trigêmeo (V), abducente (VI), facial (VII), vestibular (VIII), glossofaríngeo (IX), vago (X), acessório (XI) e hipoglosso (XII).
Nervos cranianos: classificações e informações transmitidas por eles
Os pares cranianos fazem, de maneira geral, o suprimento sensitivo e motor da cabeça e do pescoço.
Eles podem ser classificados em:
- Eferentes/motores, quando a informação sai do sistema nervoso central
- Aferentes/sensitivos, quando a informação entra no sistema nervoso central
- Mistos
As informações transmitidas pelos nervos cranianos podem ser:
- Especiais: quando responsáveis pela visão, olfato, paladar, tato e audição
- Somáticas: quando vão em direção ou são originadas pela pele e músculos esqueléticos
- Viscerais: quando são originadas ou vão para os órgãos internos
- Gerais: quando originam-se de exteroceptores e proprioceptores
Anatomia dos nervos cranianos
Os nervos cranianos emergem de forames e fissuras cranianas, e são originados de núcleos no cérebro, conectados ao córtex cerebral pelas fibras corticonucleares.
Esses núcleos estão situados em colunas verticais no tronco encefálico, correspondendo à substância cinzenta da medula espinhal.
A origem real desses pares cranianos é onde o seu núcleo está localizado. Já a origem aparente é onde suas fibras aparecem no sistema nervoso, e a origem óssea corresponde aos forames por onde esses nervos passam.
Representação da anatomia dos nervos cranianos

Olfatório
É um nervo exclusivamente sensitivo, contém fibras aferentes viscerais especiais. Sua emergência craniana se localiza na lâmina crivosa do osso etmoide e a encefálica, no bulbo olfatório, na porção inferior do lobo frontal; o seu núcleo é o olfatório anterior, logo, é responsável pela inervação da mucosa olfatória.
Está distribuído no epitélio olfatório da cavidade nasal, formado por neurônios bipolares que são as células receptoras olfatórias. Seus axônios se dividem em: estria medial e lateral. A lateral envia estímulos para o hipocampo e para a amigdala, já a medial, envia para o tálamo e depois para o córtex orbitofrontal, responsável pela percepção do cheiro.
Óptico
É um nervo unicamente sensitivo, suas fibras são somáticas especiais e é responsável pela visão, mais especificamente por transmitir impulsos aferentes especiais de luz para o cérebro. Sua emergência craniana é o canal óptico e a encefálica é o quiasma óptico; o seu núcleo é o geniculado lateral. As fibras ópticas provenientes da parte nasal da retina cruzam no quiasma óptico para o lado oposto, enquanto as da parte lateral permanecem do mesmo lado.
O trato óptico é a continuação intracraniana desse nervo e é uma estrutura par, formada pelas fibras citadas anteriormente. A maior parte dessas fibras vai em direção ao núcleo geniculado lateral, onde a informação será transmitida para o córtex visual primário, localizado na área 17 de Brodmann. Algumas dessas fibras podem terminar no núcleo pré-tectal e no colículo superior.
Oculomotor
É um nervo exclusivamente motor somático e visceral, que contém fibras pré-ganglionares parassimpáticas. Sua emergência craniana é a fissura orbital superior e a encefálica é o sulco medial do pedúnculo cerebral, seus núcleos são o oculomotor e o Edinger-Westphal.
As fibras primárias são responsáveis pela inervação dos seguintes músculos extraoculares:
- Levantador da pálpebra
- Reto inferior
- Superior
- Medial
- Obliquo inferior
Já as secundárias, inervam o corpo ciliar, íris e músculo esfíncter da pupila. Ele contrai o músculo ciliar, que, por sua vez, relaxa as zônulas ciliares, deixando o cristalino mais arredondado, conferindo acuidade visual. Além disso, por possuir fibras parassimpáticas, realiza a miose da pupila. Ao aplicar um reflexo luminoso em apenas um olho, haverá a contração das duas pupilas, pois será recrutado um núcleo ipsilateral e contralateral.
Troclear
É um nervo exclusivamente motor, formado por fibras somáticas gerais. Sua emergência craniana é a fissura orbital superior e a encefálica é o véu medular superior; é o único par craniano que tem origem posterior no tronco encefálico e seu núcleo pode ser encontrado ao nível do colículo inferior do tronco cerebral.
Ele é responsável pela inervação do músculo obliquo superior. Esse músculo realiza os movimentos de adução, depressão e rotação medial (interna) do olho.
Trigêmeo
É um nervo misto, ou seja, tem função motora e sensitiva, constituído por fibras viscerais especiais e somáticas gerais. É importante salientar que a partir do gânglio trigeminal surgem três ramos: oftálmico, maxilar e mandibular e cada um tem a sua emergência craniana, a fissura orbital superior, forame redondo e oval, respectivamente. Já a encefálica está localizada entre a ponte e o pedúnculo cerebral médio, seus núcleos estão no tronco encefálico e na parte superior da medula espinhal.
A inervação somática é responsável por carregar informações relacionadas a dor, propriocepção, temperatura, tato da face, 2/3 do couro cabeludo e língua, cavidade nasal, seios paranasais e conjuntiva ocular. Já a inervação motora é relacionada aos músculos da mastigação: masseter, temporal, pterigoideo lateral e medial.
Ramos do trigêmeo
O ramo oftálmico é formado por fibras pré-ganglionares do gânglio ciliar e fibras dos ramos periféricos. Ele forma uma sinapse com o gânglio trigeminal e inerva a região anterior do crânio, nariz e regiões oftálmicas da face. Ao chegar à órbita, fornece três ramos terminais, que são os nervos nasociliar, frontal e lacrimal.
O ramo maxilar inerva a região maxilar e abaixo dos olhos. Ao penetrar na cavidade orbital passa a ser chamado de nervo infraorbital, que, por sua vez, fornece outros ramos, como o nervo alveolar superior.
O ramo mandibular possui dois ramos principais, o nervo lingual e alveolar inferior. Ele tem como função a inervação da porção mais inferior da face.
Abducente
É exclusivamente motor, constituído por fibras eferentes somáticas gerais. Sua emergência craniana é a fissura orbital superior, a encefálica o sulco bulbo pontinho e o seu núcleo pode ser encontrado no colículo facial do tronco encefálico.
Assim como o oculomotor e troclear, tem como função a motricidade do globo ocular. É responsável, mais especificamente, pela inervação do músculo reto lateral, que realiza o movimento de abdução do olho.
É evidente a semelhança na função desses três pares cranianos, com isso pode-se explicar a razão de possuírem a mesma emergência craniana.
Facial
É um nervo misto, possui uma raiz motora, nervo facial propriamente dito e uma raiz sensorial, chamada de nervo intermédio, suas fibras são pré-ganglionares parassimpáticas. Sua emergência craniana é o forame estilomastoideo e a encefálica é o sulco bulbo pontino. Possui quatro núcleos, o lacrimal, motor, salivatório superior e o núcleo do trato solitário.
O nervo facial possui cinco ramos principais:
- Auricular, marginal
- Mandibular
- Bucal
- Zigomático
- Temporal
Todos realizam a inervação dos músculos da expressão facial. O intermédio inerva os 2/3 anteriores da língua, gerando o paladar. Logo, de maneira geral, esse par craniano é responsável pela mímica facial, inervação dos 2/3 anteriores da língua, das glândulas salivares e lacrimal.
Vestíbulo-coclear
É exclusivamente sensitivo e formado por fibras somáticas especiais. Ele penetra no osso temporal pelo meato acústico interno e sua emergência encefálica é o sulco bulbo pontino, possui um núcleo vestibular e outro coclear.
O componente vestibular é responsável pelo equilíbrio e possui quatro núcleos: superior, inferior, medial e lateral. O coclear fica responsabilizado pela audição e possui um núcleo anterior e outro posterior. Esses núcleos se encontram lateralmente ao pedúnculo cerebelar inferior.
Glossofaríngeo
É um nervo misto, suas fibras são motoras e parassimpáticas eferentes. Sua emergência craniana é o forame jugular e a encefálica é o sulco lateral posterior, possui os núcleos ambíguo, salivatório inferior e solitário.
Realiza a inervação da glândula parótida, 1/3 posterior da língua, tuba auditiva, faringe, constritor da faringe, úvula e tonsilas. Além disso, também inerva os músculos estilofaríngeo constritor superior da faringe.
Vago
É um nervo misto e o maior nervo craniano. Sua emergência craniana é o forame jugular, enquanto a encefálica é o sulco lateral posterior e seus núcleos são o ambíguo, vagal motor dorsal e solitário. Suas fibras são eferentes motoras e parassimpáticas e fibras aferentes sensitivas.
Tem como função a inervação dos músculos da faringe, traqueia, laringe, estruturas torácicas e abdominais e conduz a inervação parassimpática para os órgãos viscerais.
Acessório
É um nervo exclusivamente motor e é formado por uma raiz craniana e uma espinhal. Sua emergência craniana é o forame jugular e a encefálica é o sulco lateral posterior, possui o núcleo ambíguo e acessório espinhal.
Possui uma divisão interna e externa, a interna segue junto com o vago e forma o laríngeo recorrente, já a externa vai para o trapézio e esternocleidomastoideo. Realiza a inervação do musculo trapézio e esternocleidomastoideo.
Hipoglosso
É um nervo essencialmente motor, suas fibras nervosas se comunicam com a alça cervical. Sua emergência craniana é o canal do hipoglosso e a encefálica é o sulco lateral anterior do bulbo; o seu núcleo está localizado no tronco encefálico, ao nível do trígono do hipoglosso.
Sua função é a inervação dos músculos intrínsecos e extrínsecos da língua, ou seja, permite que eles se movimentem.
Como fazer o exame físico dos pares cranianos?
Realizar o exame físico dos pares cranianos é uma parte importante da avaliação neurológica de um paciente. Veja como realizar o exame físico de cada um deles.
Olfatório
No exame físico, são utilizadas substâncias aromáticas voláteis não irritantes. Para realizá-lo, é preciso que o paciente feche os olhos e, então, a substância será apresentada em cada narina separadamente, após isso são feitas algumas perguntas para analisar se é possível sentir e reconhecer o cheiro.
As alterações mais encontradas durante o exame físico são:
- Hiposmia
- Redução do olfato
- Anosmia
- Ausência do olfato
- Hiperosmia
- Aumento da olfação
- Disosmia
- Percepção alterada do odor
- Fantosmia
- Percepção de odores sem um estímulo presente
- Parosmia
- Perversão do olfato com apresentação de um estímulo
- Cacosmia, percepção sempre desagradável de determinado cheiro com ou sem estímulo.
Óptico
Seu exame físico é divido em três partes: medida da acuidade visual, avaliação dos campos visuais e exame do fundo do olho.
A acuidade visual é testada com auxílio da tabela de Snellen, com números e letras de tamanhos diferentes, e tabela de Jaeger, composta por blocos de texto em fontes de diversos tamanhos. Caso o paciente use óculos, deve continuar usando durante o exame, já que ele é neurológico e não oftalmológico.

O campo visual é avaliado pelo método da confrontação; paciente e examinador ficam frente a frente, com uma distância de 60cm, aproxima-se um objeto da periferia para o centro do campo visual, solicitando que o paciente avise quando enxergar o objeto, lembrando que cada olho é examinado separadamente.
Algumas lesões que podem ser encontradas são:
- Do nervo óptico ou retroquiasmática
- Envolvendo fibras da retina nasal e temporal do mesmo olho levando à amaurose
- Do trato óptico direito, ocasionando à hemianopsia homônima esquerda
- Do trato óptico esquerdo, que levam à hemianopsia homônima direita.
O exame de fundo de olho é feito com um oftalmoscópio e devem ser observados a papila, os vasos e a retina. Deve-se analisar o aspecto, brilho, calibre e cruzamento dos vasos. Uma das alterações mais frequentes observadas nessa análise é o edema de papila.
Oculomotor, Troclear e Abducente
Esses nervos são responsáveis pela motricidade ocular, logo são examinados de forma conjunta.
Geralmente pede-se para que o paciente acompanhe o dedo do examinador, que fará movimentos para cima, para baixo, para os lados e obliquamente, de forma que os músculos dos olhos sejam testados. Ademais, também é testada a capacidade de contração da pupila, pedindo que o paciente fixe o olhar em um ponto distante e, em seguida, seja incidido um feixe de luz.
Trigêmeo
Como o nervo é misto, temos duas etapas nesse exame. A sensitiva inclui testar a sensibilidade tátil, térmica e dolorosa nos três ramos desse par craniano. A motora é testada pedindo que o paciente abra a boca, desvie as mandíbulas para os lados e morda um palito, a fim de observar a força e integridade da musculatura mastigatória.
Facial
Geralmente, apenas a capacidade motora é testada. Essa é feita através da mímica facial, solicitando que o paciente feche os olhos, levante as sobrancelhas, mostre a língua.
As principais alterações encontradas podem ser paralisia periférica, quando acontece abaixo do núcleo do nervo, acometendo a parte superior e inferior do rosto do lado ipsilateral da lesão, e paralisia central, quando ocorre acima do núcleo, comprometendo o andar inferior da face, contralateral à lesão.
Vestíbulo-coclear
O ramo coclear é testado através da prova de Weber e Rinne. Na de Weber, o diapasão é colocado vibrando no vértice do crânio e o paciente deve perceber o som no centro da cabeça ou bilateralmente nos ouvidos; já na de Rinne, o diapasão é colocado no mastoide, onde o som é percebido por cerca de 20 segundos – quando o som deixa de ser percebido, ele é colocado próximo ao ouvido e o paciente deve ouvi-lo por 30 a 40 a segundos.
As alterações encontradas podem ser hipo e hiperacusia. O ramo vestibular é testado durante o exame de equilíbrio e coordenação, por meio das provas de Romberg e teste de Fukuda.
Glossofaríngeo e vago
São analisados conjuntamente. Pede-se para que o paciente diga “ah” de forma prolongada, a fim de observar os arcos palatinos e a úvula e também é testado o reflexo nauseoso através da estimulação da região posterior da cavidade oral e orofaringe.
Com esse exame, pode ser encontrado o sinal da cortina de Vernet, quando há desvio da parede posterior da faringe para o lado são durante a fonação.
Acessório
É realizada a inspeção, palpação e motricidade voluntária dos músculos esternocleidomastoideo e trapézio. Solicita-se que o paciente faça os movimentos de lateralização da cabeça, rotação do pescoço, elevação dos ombros e aproximação das escápulas.
Hipoglosso
Primeiramente inspeciona-se a língua no interior da cavidade oral, observando a presença de atrofias. Após isso, é realizada a inspeção dinâmica com a exteriorização da realização de movimentos com a língua. Por fim, é testada a força, pode-se que o paciente coloque a língua na bochecha e o examinador a empurra tentando retirá-la.
É possível perceber que os nervos cranianos são essenciais para o funcionamento do corpo humano. Muitas vezes, eles estão associados a patologias, por isso faz-se necessário a realização do seu exame físico, a fim de perceber os sinais e sintomas manifestados e associá-los a determinada doença.
Autora: Giovanna Fontes Caetano da Silva
Instagram: @Giovannafontesc
O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.
Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.
Referência: Anatomia papel e caneta
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