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O que o médico deve saber sobre o atendimento à comunidade LGBTQIA+?

O que o médico deve saber sobre o atendimento à comunidade LGBTQIA+?

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Atendimento à comunidade LGBTQIA+: como evitar erros e se preparar para oferecer o melhor atendimento médico.

Precisamos garantir um atendimento de qualidade para comunidade LGBTQIA+! Nesta semana, mais especificamente falando no dia 17 de maio, é comemorado o dia Internacional contra a LGBTfobia. A data é um verdadeiro convite para toda sociedade refletir sobre as questões em torno da violência e preconceito contra a comunidade LGBTQIA+. 

De acordo com uma reportagem do UOL, o Brasil é o país que mais registra mortes violentas de pessoas LGBT no mundo inteiro. Em 2021, foram cerca de 300, incluindo 276 homicídios e 24 suicídios. Estima-se que a média seja de uma morte a cada 29 horas no País. 

Para além da discussão do combate a violência e de como promover a igualdade em todos os âmbitos, é super importante trazermos a discussão para a prática médica. 

Vale refletir sobre esses três questionamentos: 

– Será que os médicos estão preparados para atender bem pessoas LGBTQIA+? 

– Tem como se preparar para evitar erros no atendimento? 

– O que eu, enquanto médico, preciso saber para me portar sempre prezando pela diversidade? 

Essa publicação tem como objetivo te ajudar a encontrar respostas para esses questionamentos. Para te ajudar a ser um(a) médico(a) melhor para qualquer paciente, o Sanarmed.com convidou o Dr. Saulo Ciasca para um bate papo. 

Saulo é médico psiquiatra e coordenador da área da saúde da Aliança Nacional LGBTI+. Membro da Comissão de Diversidade Sexual e Gênero da OAB. Além disso, é membro da WPAT e editor do livro Saúde LGBTQIA+: práticas de cuidado transdisciplinar.

Dia Internacional contra a LGBTfobia: por que é dia 17 de maio e qual a importância desta data? 

Antes de nos aprofundarmos nas reflexões sobre a prática médica, é importante que você tenha um contexto sobre o dia 17 de maio e a importância dele. 

Em 17 de maio de 1990, a Organização Mundial de Saúde (OMS) retirou a homossexualidade  Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID). 

Combase na nova ediçãoda CID 11, a homossexualidade passa a integrar a categoria de “condições relacionadas à saúde sexual”. E é classificada como “incongruência de gênero”. 

A data tem como objetivo aumentar a conscientização sobre a violência, discriminação e repressão que a comunidade LGBTQIA+ sofrem em todo o mundo. 

É uma oportunidade de dialogar e agir em todos os âmbitos sociais para o respeito à diversidade e, até mesmo, a vida. 

Profissionais de medicina estão preparados para atender bem pessoas LGBTQIA+? 

De acordo com o Dr. Saulo Ciasca, a resposta para essa pergunta é: NÃO. “Muitos profissionais de saúde não sabem o básico do atendimento, que é saber orientação sexual e identidade de gênero”, pontuou. 

O médico ainda explicou que ao não saber lidar, esses profissionais cometem erros. O problema é que esses erros “fazem com que as pessoas tenham barreiras de acesso na saúde e fazem a saúde ficar pior”. 

Foi exatamente neste contexto que surgiu a ideia de criar o livro “Saúde LGBTQIA+: Práticas de Cuidado Transdisciplinar”. 

A obra veio para sanar essa ausência de assunto de saúde LGBTQIA+ e contribuir para o combate a LGBTfobia, de discriminação na saúde em relação a essas pessoas. O livro reuniu várias evidências sobre o tema na literatura. 

“Nesse livro a gente trata o ciclo de vida dessa pessoa LGBTQIA+ . Trouxemos narrativas de usuários do SUS. Conceitos fundamentais, o processo de vulnerabilização, entre outras temáticas. E, para cada coisa que abordamos no livro, a gente colocou pessoas que vivem isso. Pessoas que tem lugar de fala”, comentou Saulo sobre a obra. 

Tem como se preparar para evitar erros no atendimento de pessoas LGBTQIA+? 

Sim. O primeiro passo é saber quais são os erros mais comuns e, caso cometa algum, tirá-los completamente da sua vida. 

Além disso, é fundamental estudar. O estudo constante é o que traz embasamento para a prática profissional (e até mesmo para a vida). 

A leitura do livro citado anteriormente deve entrar para sua lista de obrigações da vida. Afinal, são mais de 600 páginas de muita vivência e muito conhecimento da literatura sobre a temática.  

Vale acrescentar que o livro “Saúde LGBTQIA+: Práticas de Cuidado Transdisciplinar”, inclusive, está começando a fazer parte da realidade das faculdades de medicina. Claro, infelizmente, ainda não está dentro do currículo  obrigatório. Tem sido muito pela iniciativa de alguns professores. 

Quais são os três erros mais comuns no atendimento de pessoas LGBTQIA+?

O Dr. Saulo Ciasca garantiu que acontecem vários erros na prática médica, mas listou os três mais comuns: 

  1. O profissional partir do pressuposto de que sabe qual é o sexo biológico da pessoa. A gente não tem como saber sem examinar, a pessoa pode ser intersexo.
  2. Partir do pressuposto que sabe qual é a identidade de gênero da pessoa.
  3. Supor a prática sexual da pessoa baseada na orientação é outro erro. Exemplo: a pessoa fala que é gay e o profissional acha que ela faz sexo anal. Pode ser que não faça.

“Os três erros anteriores podemos juntar em um único: o processo de heterocisnormatividade nas entrevistas. O que acaba com todo o atendimento, porque o profissional vai sempre partir de pressupostos”, acrescentou o médico. 

O psiquiatra ainda chamou atenção para outro erro sério: Não perguntar o nome social do paciente.

“Perguntar o nome que a pessoa se identifica é fundamental para começar qualquer atendimento”, aconselhou. 

Os profissionais de medicina devem aprender sobre as especificidades dessas pessoas, para que assim saibam atendê-los e tratá-los. Isso vale para todos, independente da especialidade médica em que deseje atuar. 

Atendimento de saúde LGBTQIA+ foi assunto no Sanarcon 2021 

Como dizem por aí… recordar é viver! Em 2021, o Dr. Saulo Ciasca foi um dos palestrantes do  Congresso Digital de Medicina da Sanar. 

Na ocasião, o médico ministrou a palestra “Saúde LGBTQIA: o que todo médico deve saber”.

O psiquiatra explicou quais são os primeiros passos para que o médico não cometa erros no atendimento. As perguntas e as atitudes necessárias para fazer uma entrevista que respeite a diversidade. Ele também falou sobre saúde mental desta população”. 

“Quando você atende a diversidade bem, você atende os outros melhor também”, reforçou o Dr. Saulo, durante a divulgação da sua participação no evento. 

Referência: entrevista com o Dr. Saulo Ciasca, UOL e Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

Seu sonho é ser psiquiatra e prestar prova de título? Mas qual a melhor forma de se aprofundar?

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