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Saúde Mental LGBTQIA+

Saúde Mental LGBTQIA+

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Apesar das muitas conquistas nos últimos anos, ser uma pessoa LGBTQIA+ no Brasil ainda envolve preconceito, rejeição e invisibilização. Entender isso é fundamental quando pensamos na vulnerabilidade em saúde mental que esta população está exposta.

Identidades de gênero

É comum considerar gênero a partir de uma abordagem estática e categórica (feminino X masculino). Entretanto, considera-se que, além de tomar gênero como categoria dinâmica, são importantes suas articulações com sexualidade e sua relação com as transgeneridades.

Nesse sentido, incluem-se questões relativas à experiência de pessoas que não se identificam com o sexo designado ao nascer (travestis, transexuais, pessoas com identidade não binária ou queer) e à diversidade de orientações sexuais (hetero, homo ou bissexual).

Isso implica considerar que identidades como travesti e transexual não remetem a orientações sexuais, uma vez que pessoas trans podem ter seu desejo sexual voltado para pessoas do mesmo sexo, do outro sexo ou mesmo para outras pessoas trans.

Cisgênero é outra palavra subentendida a ser levada em conta. Ela remete a pessoas cuja identidade e expressão de gênero corresponde ao sexo atribuído ao nascimento.

Sexo biológicoIdentidade de gêneroExpressão de gêneroOrientação afetivo-sexual
Endossexo masculino (pênis/ XY / testículo)Homem cis,
Mulher trans, Travesti,
Não-binário, etc.
Masculina, Feminina,
Não binária (andrógina, neutra, outras)
Homossexual, Heterossexual,
Bissexual,
Pansexual, Assexual.
Endossexo feminino (vulva/XX/ ovários)Mulher cis, Homem trans,
Não-binário, etc.
IntersexoHomem cis ou trans,
Mulher cis ou trans,
Não-binário, etc.

Vulnerabilidade em saúde

Conceito: Conjunto de aspectos individuais e coletivos relacionados a maior suscetibilidade de indivíduos e comunidades a um adoecimento ou agravo e, de modo inseparável, menor disponibilidade de recursos para sua proteção.

  • Grupo de risco —> ESTIGMA
  • Comportamento de risco —> CULPABILIZAÇÃO
  • Vulnerabilidade —> RESPOSTA SOCIAL

Modelo do estresse de minorias

Saúde mental LGB

A literatura tem registrado violência interpessoal, discriminação e seus efeitos em disparidades na saúde, com maior incidência de agravos em questões de saúde mental e ligadas ao HIV e Aids.

É notável dificuldades no acesso a serviços e cuidados; vulnerabilidade programática e inadequação de serviços; e, no limite, o frágil reconhecimento desses indivíduos e populações como sujeitos de direitos.

Assim, há maior prevalência de sofrimento psíquico, maior incapacidade causada pelo sofrimento e, consequentemente, piores desfechos em saúde.

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Dentre a população LGB, quem costuma ter piores indicadores e desfechos em saúde mental?

A) Mulheres cis lésbicas

B) Homens cis gays

C) Pessoas cis bissexuais

Resposta: letra C)

Profissionais de saúde e saúde mental LGB

Os profissionais de saúde têm severas deficiências em sua formação no que concerne ao atendimento em sexualidade. Por essa razão, motivações religiosas e valores morais permeiam a avaliação e os cuidados de saúde dessa população.

Vulnerabilidade

  • Não aceitação da própria sexualidade;
  • Rejeição;
  • Preconceito e violência;
  • Fragilidade dos vínculos familiares;
  • Inivisibilização;
  • Evasão escolar;
  • Baixo nível socioeconômico e desemprego.

Principais diagnósticos psiquiátricos na população LGB

  • Depressão
  • Transtornos ansiosos
  • Uso de substâncias
  • Transtornos alimentares
  • Ansiedade generalizada
    • Maior prevalência em mulheres cis lésbicas
  • Transtorno de pânico
    • Homens cis gays e bissexuais tem 4,7x mais chance de preencherem critérios para transtorno de pânico que homens cis heterossexuais

Prevalência de doenças psiquiátricas na população LGB

  • Mulheres cis bissexuais: 35%
  • Homens cis bissexuais: 30%
  • Homens cis gays: 20%;
    • 2,4x mais que homens cis heterossexuais
  • Mulheres cis lésbicas 1,4x mais que mulheres cis heterossexuais

Ansiedade social

  • 2 a 3x mais prevalente em homens cis gays que em homens cis heterossexuais
  • Lidar com a homofobia ao longo da vida imita comportamentos da ansiedade social?
  • Mais relacionada a interação social direta e menos em falar ou comer em público
  • Predispõe à depressão, obesidade e hipercolesterolemia
  • Associada a sexo desprotegido e uso de substâncias nas relações sexuais

Transtorno de Estresse Pós Traumático

A população LGB tem maior exposição à violência física, psicológica e sexual e sofrem com níveis altos de violência doméstica e Transtorno de Estresse Agudo.

Uso de substâncias

  • Maconha, álcool e opióides
    • Mulheres cis lésbicas
  • Ecstasy, cocaína, LSD, poppers e opióides
    • Homens cis gays e bissexuais

Comportamento alimentar prejudicial

  • 1/3 dos jovens LGB
  • Jejum por mais de 24h
  • Uso de pílulas dietéticas
  • Uso de laxantes
  • Vômitos
  • Homens cis gays têm maiores riscos para: anorexia, bulimia, vigorexia, ortorexia

Ideação e planejamento suicida

  • Homens cis gays e bissexuais tem uma prevalência 2 a 4x maior de ideação suicida;
  • 40% dos homens cis gays tiveram algum planejamento suicida ao longo da vida
  • Tentativa de suicídio
    • Adolescentes LGB tem um risco 7x maior de realizar uma tentativa de suicídio;
    • 20 a 30% ao longo da vida;
    • Principal preditor: discriminação percebida

Erros a evitar

  • Não assumir a sexualidade e gênero das pessoas;
  • Não é porque o paciente é LGB que o sofrimento dele é por causa disso;
  • Imaginar que as minorias sexuais são uma massa homogênea;
  • Não reconhecer as especificidades da saúde LGB.

O que fazer?

  • Respeitar e reconhecer experiências e identidades diversas das suas;
  • Questionar;
  • Reconhecer as especificidades em saúde dessa população;
  • Investigar fatores de risco para desfechos negativos/vulnerabilidades e de resiliência.

Fatores de resiliência

  • Boa aceitação de sua identidade;
  • Orgulho;
  • Rede de apoio do grupo minoritário;
  • Apoio familiar;
  • Ativismo e advocacy.

Saúde mental – Trans

Forjado no contexto de formalização dos procedimentos de modificação corporal do sexo em pessoas trans e intersex, a separação conceitual entre sexo e gênero, materializada pela noção de identidade de gênero foi essencial para a incorporação das necessidades em saúde de travestis e transexuais.

Gênero

  1. Conjunto de seres ou objetos que possuem a mesma origem ou que se acham ligados pela similitude de uma ou mais particularidades.
  2. Por extensão: Tipo, classe, espécie

Sexo

Conjunto de características que envolvem genitálias, órgãos reprodutores, cromossomos e hormônios sexuais.

Papel de gênero

Papel social (conjunto de normas, direitos, deveres e explicativas que condicionam o comportamento dos indivíduos) do masculino ao feminino.

Estereótipo de gênero

Crenças generalizadas sobre as características e o comportamento das mulheres e dos homens sejam elas compartilhadas ou individuais.

No contexto de saúde, destaca-se a limitação ou impossibilidade de oferta de linhas de cuidado vinculadas ao gênero para pessoas trans, como é o caso da assistência ginecológica e obstétrica. O fato desse tipo de assistência ser exclusivo para usuárias do gênero feminino, inviabiliza a atenção a homens trans em decorrência da não conformidade entre sexo e gênero vivenciada por eles.

Assim, para aqueles que não realizaram requalificação civil, o reconhecimento de sua identidade de gênero paradoxalmente pode invisibilizar a necessidade dessas modalidades de atenção.

Já aqueles que passaram por esse processo encontram um problema burocrático, dado que no Brasil a oferta desses cuidados não está prevista para pessoas designadas com o gênero masculino.

Diagnósticos psiquiátricos na população Trans

  • Transtornos de ansiedade
  • Transtornos depressivos
  • Transtornos por uso de substâncias
  • Tentativas de suicídio e suicídios
  • Estima-se que cerca de 40% das pessoas trans tentam suicídio alguma vez na vida
  • População geral: em torno de 3%

O que fazer?

  • Respeito ao nome social e ao gênero de identificação
  • Promoção de educação em sexualidade e gênero
  • Sensibilização dos profissionais de saúde
  • Promoção de uma prática de saúde não paternalista
  • Respeito a autonomia do indivíduo
  • Lembrar da existência dessas pessoas ao realizar fichas, protocolos, sistemas.

A elaboração de estudos e pesquisas que colaboram nas estratégias de intervenção, a modernização das linguagens de comunicação e informação, a inovação de metodologias, como a de educação entre pares, bem como as campanhas de visibilidade apontadas, são de extrema importância para o acesso da população LGBT aos serviços de saúde.

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Referências

CIASCA, S V. Saúde LGBTQIA+: Práticas de Cuidado Transdisciplinar. 1ª edição, Manole, 2021.

Organização Pan-Americana da Saúde. Ministério da Saúde. Saúde e sexualidade de adolescentes. Construindo equidade no SUS. Brasília, DF: OPAS, MS, 2017.

HATZENBUEHLER, Mark L. How does sexual minority stigma “get under the skin”? A psychological mediation framework. Psychologicalbulletin, v. 135, n. 5, p. 707, 2009.

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