1. Conceito e epidemiologia
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a obesidade é o excesso de gordura corporal, em quantidade que determine prejuízos à saúde. Classicamente, uma pessoa é considerada obesa quando seu Índice de Massa Corporal (IMC) é maior ou igual a 30 kg/m² e a faixa de peso normal varia entre 18,5 e 24,9 kg/m² (BRASIL, 2020).
Segundo dados do Ministério da Saúde (2020), houve um aumento de 72% na incidência da obesidade no período entre 2006 e 2019, que passou de 11,8% para 20,3%. Isso significa que dois a cada dez brasileiros estão obesos. O maior percentual está entre as mulheres (21%) e aumenta conforme a idade: para os jovens de 18 a 24 anos é de 87% e entre adultos com 65 anos e mais, alcança o patamar de 20,9% (BRASIL, 2020).
2. Fisiopatologia
Segundo Kumar, Abbas, Fausto et al., a obesidade é uma doença de desequilíbrio calórico que resulta do excesso de calorias ingeridas acima do consumo corporal. Foram identificados mecanismos humorais e neurais complexos que controlam o apetite e a saciedade. Esses mecanismos neuro-humorais podem ser subdivididos em três componentes:
- Sistema periférico ou aferente: seus componentes principais são leptina e adiponectina, produzidas pelas células gordurosas; grelina no estômago; peptídeo YY (PYY) no íleo e no cólon; e insulina no pâncreas;
- O núcleo arqueado no hipotálamo: tem a função de processar e integrar os sinais neuro-humorais periféricos e produzir sinais eferentes;
- O sistema eferente: tem a função de transportar os sinais produzidos nos neurônios de segunda ordem do hipotálamo para controlar a ingestão alimentar e o gasto energético.
Sabe-se que a obesidade ocorre em famílias, sugerindo um componente hereditário. Embora os fatores genéticos possam explicar algumas das variações individuais em termos de excesso de peso, as influências ambientais também contribuem de modo significativo. Essas influências incluem padrões alimentares familiares, falta de atividade em consequência de aparelhos que facilitam o trabalho, tempo gasto no computador e assistindo televisão, uso do automóvel para transporte, fácil acesso ao alimento, maior densidade energética do alimento, aumento do consumo de bebidas adoçadas com açúcar e tamanho crescente das porções.
Além dos fatores genéticos e dietéticos, pode-se citar também o estresse, devido ao aumento dos níveis de cortisol, que contribuem para o aumento da lipogênese, diminuição da lipólise, aumento da gliconeogênese e aumento da proteólise; uso de medicamentos de forma indiscriminada e a abstinência à utilização de álcool e outras drogas, uma vez que a maioria dos indivíduos buscam como mecanismo de fuga um alimento calórico, que contribuem para o aumento da obesidade.
No que tange os fatores hormonais, quando se tem um grande aumento no nível de glicose na corrente sanguínea, há uma liberação de insulina pelas células do pâncreas, que irá estimular a lipogênese e bloquear a lipólise, ou seja, leva ao aumento do armazenamento de gordura nas vesículas lipídicas (tecido adiposo), aumentando o tecido adiposo, ocasionando o aumento do tamanho das células presentes nesse tecido.
Além disso, a insulina também estimula a lipoproteína-lipase no sangue, que estimula a quebra de triacilgliceróis e a produção de ácidos graxos livres circulantes no sangue, na qual, 75% retorna para o tecido adiposo, onde serão convertidos em triacilglicerol novamente. Em contrapartida, a insulina bloqueia a enzima lipase hormônio sensível (HSL) dentro das células adiposas, bloqueando a degradação dos diacilgliceróis nas vesículas de gordura.
É importante ressaltar também que a resistência à leptina é um dos principais fatores presentes na obesidade, uma vez que o indivíduo acometido não vai usufruir de 100% da ação exercida pela leptina, que é de promover a saciedade.
A partir das células que aumentam de tamanho em decorrência da ação da insulina, têm-se a ampliação da inflamação celular, com redução do controle metabólico e consequente hipóxia tecidual, que leva ao aparecimento de macrófagos do tipo M1, definidos como pró-inflamatórios, para uma consequente formação da chamada Crown-like, caracterizando um estado aumentado de inflamação dos adipócitos, possibilitando, futuramente, a resistência à insulina.
De maneira geral, em um quadro de obesidade, quando há um excesso de gordura no tecido adiposo e em outros órgãos como fígado, músculo e pâncreas, ocorre um fenômeno chamado de lipotoxicidade, que leva a uma produção de espécies reativas ruins, de origem lipídica, causando, por exemplo, a disfunção de células beta pancreáticas.
3. Tipos de obesidade e danos à saúde
Foram descritos dois tipos de obesidade, com base na distribuição de gordura: a obesidade na parte superior do corpo, também designada como obesidade central, abdominal, visceral ou androide; e a obesidade na parte inferior do corpo, também conhecida como obesidade periférica, glúteo femoral ou ginoide.
A presença de excesso de gordura no abdome desproporcionalmente à gordura corporal total é um preditor independente de fatores de risco e mortalidade. O efeito do excesso de gordura abdominal sobre o risco cardiometabólico é de importância particular, uma vez que representa o risco global de desenvolvimento de diabetes e/ou doença cardiovascular.
Além do risco cardiometabólico aumentado, os indivíduos obesos também apresentam maior incidência de doença da vesícula biliar, infertilidade e câncer do endométrio, da próstata, do cólon, do útero, dos ovários, do rim, da vesícula biliar e, em mulheres na pós-menopausa, de mama. Outras implicações são a apneia do sono, disfunção pulmonar, complicações na gravidez, irregularidades menstruais, esteatose hepática não alcoólica e insuficiência venosa.
Autoria: Rhyan Coelho