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A polifarmácia, uso de cinco ou mais medicamentos, é muito prevalente no idoso. Com o envelhecimento da população, a ocorrência de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) tende a aumentar e com ela, a necessidade do uso regular de medicamentos. Além dessas doenças, o consumo de remédio aumenta devido às sequelas que o processo de senescência causa.
O uso amplo de fármacos coloca em risco a vida do idoso. A polifarmácia predispõe à maior risco de reações adversas medicamentosas (RAM), à interações medicamentosa e a não adesão adequada da terapêutica que interfere diretamente no controle da doença. Além disso, deve-se lembrar que as condições fisiológicas da função renal e hepática são reduzidas nesse grupo de paciente. Assim, é preciso que o médico tenha um olhar mais cuidadoso e especial para o idoso.
Pensando nisso, a Sanar preparou o livro Fundamentos Básicos em Geriatria com tudo que o médico e o estudante de medicina precisam saber para aprimorar os conhecimentos básicos em geriatria, tendo como foco as particularidades do paciente idoso.
Epidemiologia
Com o avanço das tecnologias e descobertas científicas, o número de medicamentos desenvolvidos e disponíveis na sociedade aumentaram significativamente. A elevada prescrição medicamentosa dos profissionais das áreas de saúde, juntamente com acesso fácil à fármacos, automedicação e prevalência aumentada das DCNT, tem feito o consumo de medicamento aumentar em todo o mundo. Desse, estima-se que os idosos são responsáveis por 25% das vendas totais de medicamentos no Brasil.
Dentre as complicações da polifarmácia, a principal delas no idoso é a reação adversa à medicamentos. Pesquisas realizadas mostram que a associação de dois fármacos representa 13% de aumento do risco dessas reações. Quando é associado cinco, esse número se eleva para 58%.
Outro hábito comum nesse grupo é a automedicação. Estima-se que a taxa dessa pratica nos idosos seja de 16,5% a 50%.
Complicações da polifarmácia no idoso
A polifarmárcia é responsável por diversos comprometimentos que impactam diretamente na qualidade de vida do idoso, bem como no prognóstico e tratamento da doença. Essas condições de associação medicamentosa provocam:
- Amento do risco de gravidade das RAM;
- Interações medicamentosas;
- Toxicidade;
- Erros de medicações;
- Redução da adesão terapêutica
- Aumento da morbimortalidade.
Além disso, a polifarmácia é responsável pelo aumento da morbimortalidade em idosos, o que aumenta o custo dos serviços de saúde e onera o sistema com uma causa que poderia ser evitada.
Reações adversas medicamentosas (RAM) no idoso
A reação adversa a medicamento (RAM) é caracterizada como uma resposta nociva ao uso de medicamento. Essa RAM ocorre de maneira não intencional e em doses que são normalmente indicadas na bula do fármaco.
A RAM é uma das principais complicações da polifarmárcia no idoso. Ela é responsável por uma grande parte das internações hospitalares em que o paciente geralmente apresenta confusão mental, quedas, hipotensão postural, incontinência urinária, retenção urinária e intestinal, insônias.
Os medicamentos que geralmente causam RAM são:
- Anti-inflamatórios Não Esteroidais (AINEs);
- Betabloqueadores;
- Inibidores da Enzima Conversora de Angiotensinogenio (IECA);
- Diuréticos;
- Digoxina;
- Antilipidêmicos;
- Depressores do sistema nervoso central;
- Os indutores (fenitoina e carbamazepina);
- Inibidores enzimáticos (cimetidina e omeprazol).
Interação medicamentosa
A interação medicamentosa é decorrente do desconhecimento da farmacodinâmica e farmacocinética dos fármacos. Além disso, do desconhecimento das alterações fisiologias que acontecem no envelhecimento.
Assim, o que vemos na prática é a prescrição de remédios de forma inadequada, com tempo de tratamento além do necessário e com uso simultâneo de fármacos que interagem entre si, podendo potencializar ou anular o efeito um do outro.
É preciso lembrar sempre que a associação de fármacos de mesma funcionalidade e ou que possuem processos de absorção e excreção podem levar a uma intoxicação medicamentosa grave. Essa intoxicação em alguns casos, o idoso ou o próprio profissional tende a confundir os efeitos colaterais como normais do envelhecimento. Isso acaba dificultando ainda mais o seu diagnóstico.
Não adesão ao tratamento e uso inadequado das medicações
A prescrição de muitos medicamentos pode fazer com que o paciente não faça a adesão medicamentosa de forma correta por alguns motivos. O primeiro deles está associado ao custo que esses remédios tem no orçamento desses idosos que, geralmente, sobrevivem com aposentadoria e sem ajuda da família.
O segundo motivo é em relação a quantidade de comprimidos que esse paciente precisa tomar ao longo do dia. Muitos idosos costumam a se confundir com os medicamentos e esquecer os horários que deveria fazer a administração do fármaco.

Princípios gerais da prescrição
Uma boa anamnese e um bom exame clínico é responsável por 90% de um diagnóstico. Alguns grupos de pacientes possuem peculiaridades como os psiquiátricos, pediátricos e os geriátricos. Nestes, é preciso estar atentos às condições específicas para que possam gerenciá-las e prevenir ou retardar suas complicações.
Para realizar uma avaliação completa no paciente idoso é preciso considerar os componentes físicos, cognitivos, afetivos, sociais, financeiros, ambientais e religiosos que os acompanham. Todos esses fatores vão influenciar na escolha do plano terapêutico e na resposta ao tratamento do paciente.
Assim, é preciso que os médicos se atentem às receitas e aos medicamentos que os idosos já tomam. Pesquisas apontam que um dos problemas para que se ocorra e se mantenha a polifarmácia é o atendimento de forma desintegrada. A cada especialidade que o idoso frequenta, o profissional prescreve um fármaco sem analisar as outras receitas que o mesmo está seguindo.
Além disso, é preciso atenção às condições fisiológicas do paciente e farmacologia dos medicamentos. O idoso possui um processos fisiológico de redução da funcionalidade do rim e do fígado, tendo uma metabolização e/ou excreção dos medicamentos mais lentas que outros pacientes, interferindo na eficácia do medicamento.
Deve-se ainda lembrar que o processo de senescência provoca baixa acuidade visual, esquecimento, incapacidades e/ou limitações físicas que interferem na administração e adesão terapêutica.
Prescrição
Para evitar a polifarmácia no idoso e prevenir as suas complicações, cabe ao médico:
- Conhecer e revisar os medicamentos a cada consulta;
- Escolher, sempre que possível, a menor quantidade de medicamentos;
- Considerar a capacidade funcional e fisiológica do idoso;
- Promover uso racional evitando automedicação;
- Garantir que o idoso entendeu a prescrição e explicar a forma de uso quantas vezes for necessária;
- Sempre que possível, realizar a desprescrição.
Fundamentos Básicos em Geriatria

No livro Fundamentos Básicos em Geriatria você encontra mais informações sobre Polifarmácia e Princípios da Prescrição Medicamentosa no Idoso. Além desse tema, pode ser encontrado discussões, casos clínicos, tabelas com resumos importantes para guiar e orientar o estudo do leitor sobre os seguintes conteúdos:
- Abordagem do idoso: avaliação geriátrica ampla
- Síndrome de Fragilidade no Idoso
- Iatrogenia
- Doença de Alzheimer e outras síndromes demenciais
- Delirium
- Depressão
- Transtorno do movimento
- Instabilidade postural e quedas
- Síndrome da Imobilização
- Incontinência urinária
- Abordagem social no paciente idoso
- Distúrbios do sono
- Exames de rastreamento
- Abordagem do idoso em cuidados paliativos
- Hipertensão arterial, Diabetes e Osteoporose em idosos
- Manejo da perda de peso e da anemia.
Ou seja, tudo que você precisa saber para uma atendimento de qualidade. Adquira já o seu e não deixe passar nenhum diagnóstico despercebido no idoso!
Sugestão de leitura complementar
- CASO CLÍNICO | Síndrome Demencial no Idoso
- Depressão no idoso: do diagnóstico ao tratamento
- Síndrome de Fragilidade: todo idoso é frágil?
- Incontinência urinária na pessoa idosa | Colunistas
Referências
- CARVALHO, A.T.F. et al. Polifarmárcia e automedicação em idosos. II Congresso Brasileiro de Ciências de Saúde (II CONBRACIS), 2017
- SECOLI, S. R. Polifarmácia: interações e reações adversas no uso de medicamentos por idosos. Reflexão. Rev. Bras. Enferm. 63 (1), Fev 201.
- STEINMAN, M.; REEVE, E. Deprescribing. UpToDate, 2022.
- ROCHON, P. Drug prescribing for older adults. UpToDate, 2022.
- RODRIGUES, A. P.; LOPES, K.F.A.L. Redução de danos em idosos devido a polifarmárcia: uma proposta de intervenção. UNASUS, 2019.
- WARD, K. T.; REUBEN, D. B. Comprehensive geriatric assessment. UpToDate, 2022.