Pediatria

Resumo de puericultura: consultas, anamnese, exame físico e diagnósticos

Resumo de puericultura: consultas, anamnese, exame físico e diagnósticos

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Puericultura é a consulta periódica de uma criança feita com o propósito de avaliar seu crescimento e desenvolvimento de maneira próxima. Durante essas consultas deve-se realizar orientações educativas, ações de promoção da saúde, ações relacionadas à prevenção de doenças e observação dos riscos e vulnerabilidades sob a qual está submetida a respectiva criança. 

Além disso, é papel da puericultura observar fatores de risco e vulnerabilidades que cercam as diferentes fases do processo de crescimento e desenvolvimento da criança.

Qual deve ser a frequência das consultas? 

Nos primeiros 2 anos de vida as consultas são mais frequentes devido ao processo de crescimento e desenvolvimento ser mais intenso, por isso, no 1° ano de vida é recomendado um mínimo de 7 consultas de rotina, na 1°/2°/4°/6°/9° e 12° mês. 

No 2° ano de vida, deve se ter um mínimo de 2 consultas de rotina: no 18°e 24° mês. A partir dos 2 anos de idade as consultas podem se tornar anuais.

Além da oportunidade de avaliar o desenvolvimento da criança, tal organização da frequência de consultas adotada pelo Ministério da Saúde toma como base o calendário de vacinação, permitindo a verificação do cartão vacinal em meses oportunos : ao nascimento, com 1, 2, 3, 4, 5, 6, 12 e 15 meses.

Anamnese na puericultura 

A anamnese deve ser completa, com todos os itens de uma anamnese comum, mas devendo também abordar: 

  1. Antecedentes pessoais da criança com informações desde a sua concepção, com ênfase nos antecedentes patológicos e alimentares, questionando acerca da gestação, nascimento e período neonatal.
  2. Desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM) onde é preciso colher um relato da família sobre o aparecimento de habilidades motoras, aquisição de linguagem gestual e falada, controle esfincteriano e desenvolvimento socioafetivo da criança com membros da família e amigos.
  3. Antecedentes vacinais devendo além de registrar as vacinas tomadas e períodos em que foram realizadas, registrar eventos adversos (locais ou sistêmicos) caso tenham ocorrido.
  4. História de formação da família, relacionamento dos pais e aceitação da criança neste processo.
  5. Habitação é um ponto importante para a compreensão do profissional acerca das condições de vida e saúde da criança e sua família, de modo a conseguir compreender se existem fatores de risco para doenças respiratórias, infecto-parasitárias e dermatológicas.
  6. Hábitos atuais da criança também devem ser questionados à família, abarcando seus respectivos hábitos: alimentares, intestinais, urinários, sono, higiene corporal e bucal, lazer e atividade física. Neste ponto, é relevante também questionar, quanto tempo a criança fica exposta a telas de telefone, tablets, televisão, etc.

Como é feito o exame físico na puericultura?   

É preciso estabelecer uma relação de confiança com a criança para poder realizar o exame físico completo, uma vez que estar em contato com uma figura desconhecida como a do médico muitas vezes pode causar estresse para a mesma. 

Na Puericultura nem sempre será possível realizar o exame físico na sequência crânio-caudal com costuma-se realizar nas outras áreas da Medicina, assim, é possível iniciar parte do exame físico com a criança ainda no colo de um dos seus familiares.

Lembrando que a 1° consulta de toda criança deve ser ainda na sua 1° semana de vida é importante ressaltar alguns. Dentre todos os sistemas que não devem ser esquecidos nesta consulta com o recém-nascido, conforme tabela do ministério da saúde:

Tópicos da primeira consulta do recém nascido - MS

Segundo o Ministério da Saúde, as consultas seguintes à primeira não devem obrigatoriamente contar com todos os elementos de um exame físico completo, no entanto, até os 10 anos de idade recomenda que procedimentos específicos não deixem de ser realizados: 

Dados antropométricos

Nesta etapa do exame físico deve-se realizar as medidas de:

  • Peso
  • Comprimento/altura
  • Índice de massa corpórea (IMC)
  • Perímetro cefálico
  • Perímetro torácico (até os 3 anos de idade)
  • Circunferência abdominal

As informações do peso, altura, IMC e perímetro cefálico devem ser transpostas para as curvas disponíveis na Caderneta de Saúde da Criança e as informações devem ser compartilhadas com os pais.

Dados antropométricos na puericultura
Exemplo dos percentis para PesoxAltura em meninas. Fonte:Ministério da Saúde 2013

Rastreamento para displasia evolutiva do quadril

Duas manobras devem ser realizadas logo nas primeiras consultas até os 2 meses, testando um membro de cada vez a partir das manobras de Barlow (provocativa do deslocamento) e Ortolani (sua redução).

Puericultura: Rastreamento para displasia evolutiva do quadril
Manobra de Barlow é um teste provocativo realizado com quadris e joelhos do recém-nascido fletidos. Seguram-se as pernas gentilmente, com a coxa em adução (A), e o examinador aplica uma força no sentido posterior. A manobra é positiva (B) se o quadril é deslocável (luxável) (Fonte: PORTO, 2014).
A manobra de Ortolani é o reverso de Barlow. O examinador segura as coxas do recém-nascido e gentilmente realiza a abdução do quadril enquanto move anteriormente o trocanter com os dois dedos (A). A manobra é positiva (B) quando a cabeça do fêmur luxada retorna ao acetábulo com um “clunk” palpável quando o quadril é abduzido (Fonte: PORTO, 2014).

Ausculta cardíaca

Assim como em todo atendimento médico, a ausculta da frequência cardíaca (FC) deve ser realizada na Puericultura. Logo, é importante saber as faixas de FC, bem como a FC média em cada etapa da infância, podendo em caso de discrepâncias pensar em possibilidades diagnósticas:

Frequência cardíaca (FC) por faixa etária na infância (Fonte: PORTO, 2014).

Aferição da pressão arterial

Segundo o Ministério da Saúde, recomenda-se que a pressão arterial (PA) seja aferida em crianças uma primeira medida aos 3 anos de idade e segunda medida aos 6 anos, no entanto, outras referências não fazem menção a idades específicas para a medida.

Recorte de Tabela com valores de pressão arterial para meninas com idade e percentil de estatura (Fonte: TRATADO DE PEDIATRIA, 2010).

Rastreamento para criptorquidia

Se aos 6 meses não houver testículos palpáveis, a criança deve ser encaminhada à cirurgia pediátrica. Se forem retráteis, deve ser monitorado a cada 6-12 meses entre os 4-10 anos de idade, pois pode ocorrer da criança crescer mais rápido do que o cordão espermático e haver saída dos testículos da bolsa escrotal.

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Consulta de puericultura e os diagnósticos 

Ao final de toda consulta de Puericultura devem ser elaborados no mínimo 6 diagnósticos (havendo outros diagnósticos estes devem ser elencados após).

Podemos usar o mnemônico “CEVADA” para memorizar estes diagnósticos:

Fonte: SanarFlix

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Sugestão de leitura complementar

Esses artigos podem ser do seu interesse:

Referências

  1. Tratado de pediatria: Sociedade Brasileira de Pediatria. – 2.ed. – Barueri, SP: Manole, 2010. 
  2. Tratado de medicina de família e comunidade: princípios, formação e prática [recurso eletrônico] / Organizadores: Gustavo Gusso, José Mauro Ceratti Lopes, Lêda Chaves Dias– 2. ed. – Porto Alegre: Artmed, 2019. 2 vol.
  3. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: crescimento e desenvolvimento. Brasília: Ministério da Saúde, 2012. 272 p.: il. – (Cadernos de Atenção Básica, no 33).
  4. PORTO, CC. Semiologia Médica. 7a Ed. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 2014.
  5. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Departamento de Pediatria Ambulatorial. Manual Prático de Atendimento em Consultório e Ambulatório de Pediatria. 2006.
  6. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Departamento Científico de Adolescência. Manual de Orientação. Consulta do adolescente: abordagem clínica, orientações éticas e legais como instrumentos ao pediatra. No 10, Janeiro de 2019.
  7. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Orientações para a coleta e análise de dados antropométricos em serviços de saúde: Norma Técnica do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional – SISVAN Brasília, 2011.
  8. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Protocolo de vigilância e resposta à ocorrência de microcefalia e/ou alterações do sistema nervoso central (SNC). Ministério da Saúde, Secretaria
  9. de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. – Brasília: Ministério da Saúde, 2015.
  10. BLANK, D. A puericultura hoje: um enfoque apoiado em evidências. Jornal de Pediatria – Vol.79, Supl.1, 2003.
  11. TOURINHO, AB; REIS, LBSM. Peso ao nascer: uma abordagem nutricional. Com. CiênciasSaúde, 2013. 22(4): 19-30.
  12. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Caderneta de Saúde da Criança. Brasília- DF, 2013.