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Resumo de síndrome dos ovários policísticos: epidemiologia, diagnóstico e mais

Resumo de síndrome dos ovários policísticos: epidemiologia, diagnóstico e mais

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A síndrome do ovário policístico (SOP) é um distúrbio endócrino mais comum nas mulheres em idade reprodutiva e a causa mais comum de infertilidade em mulheres.

Frequentemente se manifesta durante a adolescência e é caracterizada por disfunção ovulatória e hiperandrogenismo. 

O diagnóstico de SOP tem implicações ao longo da vida com risco aumentado para síndrome metabólica, diabetes mellitus tipo 2 e, possivelmente, doença cardiovascular e carcinoma endometrial. 

Epidemiologia da síndrome dos ovários policísticos  

A SOP é o distúrbio endócrino mais comum nas mulheres em idade reprodutiva, variando de 4 a 16% entre os estudos.

A SOP também é a principal causa de anovulação crônica e hiperandrogenismo em mulheres. Estando presente em cerca de:

  • 90% das mulheres com ciclos anovulatórios e
  • 80% das mulheres com hiperandrogenismo. 

A prevalência de SOP também aumenta na presença de obesidade, resistência à insulina, tipo 1, tipo 2 ou diabetes mellitus gestacional, adrenarca prematura, história familiar positiva para SOP entre parentes de primeiro grau e, possivelmente, em alguns grupos étnicos.

Etiologia e fisiopatologia 

A etiologia da SOP ainda é desconhecida, porém acredita-se que sua origem é multifatorial e envolvem alterações genéticas poligênicas cujo desenvolvimento é influenciado em algum grau por fatores ambientais, como dieta e desenvolvimento da obesidade.

Por mais que a fisiopatologia da SOP não seja muito bem esclarecida,  acredita-se que ocorra uma alteração da pulsatilidade na liberação do hormônio GnRH, acarretando um aumento da liberação do LH e uma diminuição da liberação do FSH. 

O LH estimula a produção de androgênios pelas células da teca. Portanto, se há mais LH, haverá também maior produção de androgênio, principalmente testosterona e androstenediona.

O FSH é responsável indiretamente pela conversão dos androgênios em estrogênios. Como esse hormônio está em baixa na SOP, também influencia para o hiperandrogenismo nessa síndrome.

Quadro clínico da síndrome dos ovários policísticos 

Meninas adolescentes com SOP podem apresentar hirsutismo, acne resistente ao tratamento, irregularidades menstruais, acantose nigricante e/ou obesidade. Qualquer um desses achados pode inicialmente ser a única característica da síndrome, embora uma característica não seja suficiente para estabelecer o diagnóstico.  

A amenorreia e a oligomenorreia são consequências do estado de anovulação que não forma corpo lúteo e por isso não produz progesterona. Amenorreia secundária ocorre quando existem ciclos menstruais prévios, porém ocorre ausência de pelo menos 3 ciclos menstruais em mulheres com ciclos regulares ou ausência de menstruação por, pelo menos, seis meses em mulheres com ciclos irregulares.

As manifestações do hiperandrogenismo na SOP são principalmente a acne, hirsutismo e/ou alopecia androgênica. O  hirsutismo é definido clinicamente como uma quantidade anormal de cabelo sexual que aparece em um padrão masculino. É comumente classificado de acordo com o sistema Ferriman-Gallwey, que quantifica a extensão do crescimento do cabelo nas áreas mais sensíveis aos andrógenos. 

Classificação da gravidade do hirsutismo em mulheres. Cada uma das 9 áreas do corpo mais sensíveis ao andrógeno é atribuída uma pontuação de 0 (sem cabelo) a 4 (francamente viril), e estes são somados para fornecer uma pontuação de hirsutismo hormonal. O hirsutismo “focal” (pontuação de 1 a 7) é uma variante normal comum, enquanto o hirsutismo generalizado (pontuação de 8 ou mais) é anormal na população geral dos Estados Unidos. © 2021 UpToDate , Inc. e / ou suas afiliadas. 

A alopécia é uma manifestação incomum de hiperandrogenemia em adolescentes. Quando ocorre, pode ser tanto o padrão masculino, afetando o couro cabeludo fronto-temporo-occipita, ou o feminino, afetando a coroa, tipicamente se manifestando cedo como uma parte da linha média alargada em um padrão de “árvore de Natal”.

A obesidade e as manifestações clínicas da resistência à insulina estão fortemente associadas à SOP, mas não são critérios diagnósticos. A  obesidade está presente em aproximadamente metade das pacientes com SOP. 

As manifestações clínicas da resistência à insulina incluem acantose nigricans, síndrome metabólica (elevação do perfil lipídico), distúrbios respiratórios do sono (DRS) e doença hepática gordurosa não alcoólica. A acantose nigricans se apresenta como placas aveludadas e hiperpigmentadas na pele em locais intertriginosos, como pescoço e axilas.

Acantose nigricans
Acantose nigricans.

Diagnóstico da síndrome dos ovários policísticos  

O critério diagnóstico mais utilizado é o de Rotterdam, que leva em conta um consenso entre a European Society for Human Reproductive Medicine (ESHRE) e a American Society for Reproductive Medicine (ASRM). Existem outros critérios que podem ser usados, como o National Institutes of Health (NIH) ou Consenso de Rotterdam e Androgen Excess and PCOS Society (AE–PCOS).

Fonte: Febrasgo.

De acordo com os critérios de Rotterdam tem que estar presente pelo menos dois critérios. O diagnóstico de SOP em mulheres com ciclos regulares e ovulatórios, desde que tenha hirsutismo e ovários policísticos a USG, item obrigatório nos outros critérios citados acima. 

Com relação a presença de ovários policísticos à USG, deve ter mais de 20 folículos antrais de tamanho entre 2 e 9 mm, em pelo menos um dos ovários ou volume ovariano de maior ou igual à 10 cm3. 

Para aplicar nos critérios, o hiperandrogenismo pode ser clinico ou laboratorial. O hiperandrogenismo laboratorial ocorre quando há elevação de pelo menos um androgênio, que pode ser testosterona total, androstenediona e/ou sulfato de desidroepiandrosterona sérica (SDHEA).

Como exames complementares adicionais podemos solicitar LH e FSH, que normalmente virá com a relação aumentada, maior que 2. Importante também solicitar BHCG para exclusão de gravidez em pacientes com amenorreia.

Tratamento da síndrome dos ovários policísticos 

Como a obesidade e queixas relacionadas à resistência à insulina são frequentes, a mudança no estilo de vida deve ser estimulada nessas pacientes.

A perda de peso está associada a melhora da obesidade, dislipidemia, hipertensão, doença hepática gordurosa não alcoólica, apneia do sono, regulação endócrina, hiperglicemia e efeitos positivos na normalização dos ciclos menstruais.

Para o hirsutismo, medidas cosméticas como métodos de depilação e epilação (retirada inteira dos pelos) também podem ser empregados.

Qual é a recomendação médica?

Recomenda-se o uso de anticoncepcionais hormonais combinados (AHC)  como tratamento de primeira linha para adolescentes que sofrem de sintomas menstruais e cutâneos de SOP, em vez de outras terapias. Em mulheres com amenorreia, deve-se descartar gestação antes de iniciar o uso dos anticoncepcionais.  

O componente progestágeno inibe a proliferação endometrial, prevenindo a hiperplasia e o risco associado de carcinoma.

O componente estrogênio reduz o excesso de androgênio, o que corrige prontamente as anormalidades menstruais e melhora o hirsutismo e a acne.

Alguns estudos apontam que com o uso da metformina, além da melhora no perfil metabólico, está associada a redução da secreção de androgênios, melhorando assim o ciclo menstrual. O tratamento da acne é o mesmo que em pacientes sem SOP. 

Sugestão de leitura

Referências:

  1. Carvalho BR. Particularidades no manejo da infertilidade. In: Síndrome dos ovários policísticos. Sao Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo); 2018. Cap. 8. p. 88-103. (Série Orientações e Recomendações Febrasgo, no 4, Comissão Nacional de Ginecologia Endócrina).
  2. Hall, John Edward; Guyton, Arthur C. Guyton & Hall tratado de fisiologia médica. 12. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017.
  3. Hoffman, Barbara L. et al. Ginecologia de WILLIAMS. 2 ed. Porto Alegre. Artmed. 2014.
  4. Ministério da Saúde. Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas: Síndrome dos ovários policísticos Brasília: Ministério da Saúde; 2019.
  5. ROSENFIELD, Robert L. Definition, clinical features, and differential diagnosis of polycystic ovary syndrome in adolescents. UpToDate. Waltham, MA: UpToDate Inc.
  6. Yela DA. Particularidades do diagnóstico e da terapêutica da síndrome dos ovários policíticos na adolescência. In: Síndrome dos ovários policísticos. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO); 2018. Cap. 2. p.16-28.