Residência Médica

Rotina da residência em Cirurgia Geral

Rotina da residência em Cirurgia Geral

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Quem quer saber mais sobre a rotina da residência em Cirurgia Geral precisa se informar ao máximo sobre esta especialização, uma das mais procuradas entre as especialidades médicas

São 34.065 especialistas no país (8% do total de especialidades). Ou seja, Cirurgia Geral é a terceira especialidade com mais profissionais, atrás apenas de Clínica Médica e Pediatria, segundo a Demografia Médica no Brasil 2018, do Conselho Federal de Medicina (CFM). São 16,4 cirurgiões gerais por 100 mil habitantes. 

Quando falamos na residência médica, o levantamento indica que, dos 3.441 recém-formados em Medicina, 311 escolheram a RM de Cirurgia Geral. Ao mesmo tempo, 2.895 médicos ocupavam parte das 4.057 vagas autorizadas na especialidade. 

A Sanar Residência Médica conversou com dois médicos para que você conheça mais sobre a rotina do residente de Cirurgia Geral. Conheça a vida dos residentes:

  • Moises Rodrigues. R2 no Hospital Santo Antônio, OSID;
  • Jéssica Aguiar, R1 no Hospital Calixto Midlej Filho, Santa Casa de Misericórdia de Itabuna. 

Tem muita coisa que você precisa saber antes de escolher a residência em Cirurgia Geral. Por isso, conheça mais detalhes sobre essa especialidade e faça a escolha certa!

Por que escolher residência em Cirurgia Geral?

A escolha da Cirurgia Geral, para Moisés, foi uma questão profissional e pessoal. Profissional porque foi uma especialidade com a qual se identificou ao longo do curso de Medicina. Pessoal por ter se inspirado no exemplo de vida dos médicos com os quais conviveu. 

“A Cirurgia permite ter vivência de procedimentos e abre um leque muito grande para prática tanto clínica quanto cirúrgica. Além disso, dentro da área médica, eu tive muitos professores especialistas em cirurgias que foram excepcionais como pessoas e profissionais”, conta . 

Ele optou por fazer residência no Hospital Santo Antônio por já conhecer a instituição desde o internato, quando se familiarizou com a estrutura, o ambiente de trabalho e o ensino. Ele também já tinha escutado boas referências sobre os programas de residência médica oferecidos.  

“Já haviam me falado sobre o funcionamento da estrutura, a experiência em cirurgias, o volume de cirurgias eletivas e a confiança que a preceptoria dá aos residentes. A hierarquia do hospital é muito importante, pois é mais organizacional e faz com que o serviço funcione com excelência, mas nossa relação é de família. Temos um lema que é ‘amar e servir, e carregar a residência no amor e na dor’”, enfatiza. 

Jéssica também relata uma afinidade com a área desde cedo. A resolutividade e destreza inerentes à Cirurgia Geral sempre lhe chamaram atenção. 

“No início da faculdade, fiz estágio em cirurgia plástica e vi que seria bom ir para a área cirúrgica. Quando fiz o internato, tive maior contato com a cirurgia em si, me apaixonei e tive certeza de que não haveria de fazer outra coisa, senão cirurgia”, lembra. 

Quando fala sobre a escolha da instituição onde faria residência, Jéssica, que é de Vitória da Conquista (BA), revela que optou pelo Hospital Calixto Midlej Filho por uma questão de afinidade.

“Como me formei pela Uesc, acabei ficando aqui na região e optei por me manter em Itabuna (BA). Eu já conhecia alguns preceptores, pois, durante o internato, tive contato com eles. Aí fiz a prova, fui aprovada e optei por ficar”, explica.

Como a residência é dividida 

A residência em Cirurgia Geral tem duração de três anos e é obtida por acesso direto. Além disso, ela é requisito para uma série de subespecialidades cirúrgicas, como cirurgia cardiovascular, cirurgia plástica, entre outras. O residente em Cirurgia Geral também pode cursar um ano adicional em trauma ou mais dois anos de cirurgia geral avançada, sendo necessário obter aprovação em nova prova de seleção nos dois casos.

A carga horária da residência médica em Cirurgia Geral é de 60 horas semanais, com o máximo de 24 horas de plantões semanais e folga de 6 horas na sequência do plantão.

A Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) estabelece a matriz de competências da residência em Cirurgia Geral da seguinte maneira:

  • R1: coletar história clínica, analisar doenças agudas em urgências e emergências, avaliar as principais complicações clínicas pós-operatórias, realizar preparo de paciente no pré-operatório, prescrição do pré e do pós-operatório e acompanhamento de paciente na internação até alta hospitalar, entre outras;
  • R2: aplicar conhecimentos sobre embriologia, fisiologia e fisiopatologia das doenças da cavidade abdominal e seu conteúdo, avaliar indicações, contraindicações e complicações dos procedimentos recomendado ao paciente, aplicar conhecimentos sobre imunologia do paciente operado, nutrição em cirurgia e preparo nutricional do paciente e sua importância na cicatrização das feridas; os mecanismos de defesa do hospedeiro e infecção nos pacientes imunodeprimidos, entre outros conhecimentos;
  • R3: demonstrar conhecimentos e habilidades das técnicas operatórias empregadas para a correção de doenças dos órgãos e sistemas em sua área de prática, analisar aspectos gerais dos transplantes hepático, pancreático, intestinal, renal e pulmonar, analisar princípios gerais da captação de órgãos e leis a ela relacionadas, avaliar aspectos gerais da obesidade mórbida e transtornos metabólicos, tratamento e complicações e técnicas operatórias utilizadas, entre outras.

No Hospital Santo Antônio, o R1 é responsável pela parte burocrática de admissão, alta, evolução e prescrição. Diariamente, os residentes do primeiro ano avaliam os pacientes cirúrgicos e discutem condutas com o R2.

A partir das 7h, o R1 assume alguma atividade, que varia entre pequenas cirurgias, plantão de enfermaria, centro cirúrgicos, ambulatórios e interconsultas. Além disso, todos os residentes se dividem em plantões noturnos.

No R2, não há mais os plantões noturnos. No primeiro mês, os residentes acompanham e assumem as mesmas funções do R1, como forma de apadrinhamento dos novos residentes. Após esse mês, assumem plantões, ao longo da semana, para auxiliar o R1.

“A cada mês, residentes do R2 ficam, semanalmente, responsáveis por realizar ambulatório e operar junto a preceptores específicos. Nos outros dias, nós acompanhamos os pacientes operados”, acrescenta Moisés. 

No Hospital Calixto Midlej Filho, o R1 tem visita nos leitos com discussão de casos, atividades de enfermaria clínica cirúrgica, cirurgias eletivas, cirurgias de urgência e emergência, além de ambulatórios de pequenas cirurgias e Oncologia. 

“Além disso, rodamos em cirurgia de cabeça e pescoço e emergências no Hospital Regional Costa do Cacau”, acrescenta Jéssica. 

O R2 mantém a parte da visita nos leitos, dos ambulatórios e cirurgias eletivas, e acrescenta o serviço de cirurgia vascular. Além disso, há a optativa, na qual o residente escolhe uma área de sua preferência. 

“Na nossa instituição, temos aulas semanais com preceptoria para discussão de temas de conteúdos das cirurgias, além de treinamento de cirurgia videolaparoscópica”, complementa. 

Alinhando as principais expectativas

“Meu pensamento inicial era que precisaria me dedicar bastante. [Residência] é um período bem difícil da carreira médica, pois, como residente, você precisa enfrentar a carga horária e o ganho financeiro é fora do esperado, comparado com quem atua como médico generalista”.

Assim Moisés detalha o que sentiu antes de entrar na residência. Esperava aprender muito, ter mais contato com pacientes, evoluir profissionalmente e se capacitar como cirurgião, e, após quase dois anos de treinamento, garante que teve as expectativas correspondidas.

“O ensinamento e a resolutividade em relação a cuidados com o paciente foram experiências muito importantes. Aqui eu também consegui criar vínculos com pessoas da área e melhorar minha relação interpessoal. Foi um ganho, algo fora do esperado, que me permite a possibilidade de me inserir como especialista no mercado de trabalho”, conta.

Sobre o serviço, Moisés diz que sentiu falta de mais aprofundamento em uma especialidade específica. “Acho que tive pouco contato com o serviço de traumas. Além disso, o volume de cirurgias poderia ser maior, pois, com a pandemia, houve suspensão de cirurgias eletivas, o que prejudicou o aprendizado”. 

Jéssica revela que, ao sair da faculdade, tinha o desejo de passar logo na residência e que ficou bastante ansiosa antes de receber o resultado do processo seletivo.

“Depois do resultado, vem a preocupação de como será essa nova fase da vida. Eu cheguei de coração aberto para me dedicar e fazer uma boa residência. Quem faz a residência é o residente. Minhas expectativas eram boas, eu entrei com essa vontade de buscar além do que a residência me oferecia. Hoje eu acho que está valendo a pena”, comenta. 

O melhor da residência em Cirurgia Geral

Moisés descreve como a residência tem sido marcante em sua vida. Ao longo do treinamento, buscou ter empatia, foi solidário, fez novas amizades, acolheu e foi acolhido. Dessa forma, construiu o que ele escreve como ‘ambiente da família’.

“O grupo de residentes virou amigos para a vida, porque a gente se ajudava e nossa relação era muito amistosa. Como o hospital é bastante religioso, a questão do amar e servir prevalece e tudo que fazemos é pela melhoria do paciente”. 

Moisés também diz acreditar que, ao contrário do que muitos pensam, a Cirurgia Geral oferece uma relação médico-paciente muito boa.

“A melhora do paciente é muito constante na nossa prática e isso é muito bom. A sensação de curar e criar vínculos com o paciente é muito gratificante. Acho que a realização pessoal de curar dá uma sensação de fazer diferença na vida das pessoas, e isso é muito importante para validar sua profissão como médico”, afirma

Jéssica elogia a relação entre residentes e preceptores, que torna a rotina e o aprendizado da residência mais leves. Além disso, destaca a qualidade tecnológica do serviço oferecido pelo Hospital Calixto Filho.

“A cirurgia videolaparoscópica é algo que deve ser ofertado durante a residência, porque é o que tem de mais avançado. Nós conseguimos treinar o básico com o preceptor e realizamos alguns procedimentos ainda no R1. Isso é destaque em nossa residência, além do número de cirurgias, que é muito bom. Somos três residentes por ano, então conseguimos operar bastante aqui”, detalha. 

O mais difícil 

A parte mais difícil da residência está em dificuldades estruturais, diz Moisés. Por ser um serviço público, enfrenta problemas como falta de materiais, tecnologias de ponta para cirurgias menos invasivas e falta de vagas na UTI, afirma o residente

“Muitas vezes, há filas, porque os serviços não têm capacidade para comportar o volume de pacientes que precisam de procedimentos cirúrgicos. Nós não temos acesso a exames como ressonância magnéticas, radiologia intervencionistas, entre outros. Isso dificulta um pouco a assistência ao paciente”.

Jéssica afirma que a carga horária é extensa, porque geralmente chega ao serviço e, além das atividades diárias, tem o regime de sobreaviso. “Ficamos à disposição do hospital caso aconteça alguma intercorrência, então acabamos permanecendo muito mais tempo no hospital em atividade”, conta. 

Além disso, a residente revela que existe uma autocobrança muito forte em relação ao treinamento técnico. Afinal, isso pode fazer a diferença na vida do paciente.

“Em todas as residências, existem pacientes críticos, mas na cirurgia vai além. O paciente está vulnerável e você precisa ser rápida, resolutiva. O perfil do cirurgião é assim, precisa ser mais assertivo. Caso não aja no tempo correto, você acaba perdendo uma vida”.

Expectativa de trabalho e emprego

Pesquisa do site Salário indica que a remuneração média do Cirurgião Geral é de R$ 5.385,88 na jornada de trabalho de 21 horas por semana. O profissional tem um campo de atuação amplo, que abrange áreas como Cirurgia Abdominal, Cirurgia videolaparoscópica e Cirurgia do trauma. É possível atuar em plantões de emergências de pronto socorros, atendimentos ambulatoriais e cirurgias eletivas.

O Cirurgião Geral pode escolher subespecializações em áreas como cancerologia cirúrgica, cirurgia cardiovascular, cirurgia de cabeça e pescoço, cirurgia pediátrica, mastologia, urologia e outras. Ainda é possível atuar de forma autônoma, como auxiliar de outros cirurgiões, ser parecerista em hospitais de emergência ou mesmo atuar como docente.

O professor de cirurgia da Sanar Residência Médica, Dr. Rodrigo Edelmuth, afirma que a rotina do residente de Cirurgia Geral pode ser extenuante, mas que o esforço compensa. “Ao mesmo tempo em que é muito cansativa, é muito gratificante. Você nunca vai aprender tanto e ver tanta cirurgias em tão pouco tempo”, diz. Assista ao depoimento completo no vídeo abaixo:

Moisés considera que o mercado de trabalho para cirurgia geral não é tão fácil. Além dos serviços serem fechados, a oferta em Salvador é pequena, já que há poucas instituições que absorvem esses profissionais recém-especializados. 

“A necessidade de, cada vez mais, aprimorar o aprendizado para me inserir no mercado é maior. Entrei na área pensando em me formar como cirurgião e no que faria após a residência. A área de Urologia me interessa bastante, pois permite trabalhar tanto em consultório quanto em cirurgia”. 

Jéssica tem expectativas de ter uma boa qualificação técnica para aprender o que, para ela, é o mais difícil da Cirurgia Geral: indicar quando operar e quando não operar um paciente. “Você deve saber que, em determinados momentos, a cirurgia não é o melhor para o paciente”. 

Além disso, revela o desejo de entrar na residência de Mastologia e o que faz para se inserir na área. ”Hoje já consigo participar de algumas cirurgias e me direcionar para a subespecialidade que escolhi”. 

Por fim, ela diz acreditar que sempre haverá espaço no mercado de trabalho para bons profissionais. “Nos formamos conhecendo os serviços. Se você mostra um bom serviço desde a residência, isso te possibilita contatos e indicações. O mais importante é sua capacitação”. 

Conclusão sobre a rotina da residência em Cirurgia Geral 

A rotina da residência em Cirurgia Geral é intensa e exige que os residentes tenham equilíbrio emocional para lidar com a carga horária e os mais desafiantes casos cirúrgicos. Apesar disso, é uma especialidade que vale a pena para qualificar o médico para atuar no mercado de trabalho e abrir caminhos para outras especialidades.

“Para quem gosta de trabalhar em equipe é uma especialidade boa porque você não faz nada sozinho. É meu caso. Se você quiser ter mais contato com o paciente, é uma boa escolha. O paciente de Cirurgia Geral é para a vida e precisa de um acompanhamento maior. Para quem gosta de desafio, é uma área que traz muito isso. Muitas vezes, você se depara com pacientes em estado crítico e tem a responsabilidade de salvar a vida deles”, afirma Moisés.  

Jéssica também ressalta a importância da residência médica para a qualificação profissional e pessoal do médico, pois é uma experiência que exige muita dedicação, compromisso e responsabilidade, principalmente na relação com o paciente. 

“Um profissional completo sempre vai ser aquele que, além da parte técnica, souber lidar com a vida, ser gentil, escutar, olhar nos olhos, ver a angústia dos pacientes e saber lidar com a situação. Foquem nisso, não só na capacitação. A Cirurgia Geral é vista como mais direcionada, mas isso não exclui a boa relação, esse cuidado com o próximo”, conclui.

Confira o vídeo:

Referências: