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Sindesmose do tornozelo – A lesão de LeBron James | Colunistas

Sindesmose do tornozelo – A lesão de LeBron James | Colunistas

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Várias notícias sobre a lesão do astro da NBA LeBron James vieram à tona neste mês de março, e o atleta deve ficar afastado das quadras por pelo menos 3 semanas. A lesão ocorreu durante uma partida do Los Angeles Lakers, time que LeBron James defende, contra o Atlanta Hawks. Durante uma disputa de bola, o jogador adversário Salomon Hill caiu sobre o pé de LeBron James provocando o trauma, que, segundo divulgado pela mídia, trata-se de uma lesão na sindesmose do tornozelo. [1]

Muitas publicações já se encarregaram de explicar os mecanismos gerais e tratamento deste tipo de lesão, e para um maior aprofundamento acerca do tema, sugerimos acessar os artigos referenciados. Neste artigo serão abordados os ligamentos presentes no local onde ocorreu a lesão e o motivo pelo qual este tipo de trauma é mais comum em atletas, em especial em esportes de velocidade.

Existem três grupos de ligamentos que suportam a ligação do tornozelo, são eles: os colaterais mediais, colaterais laterais e o complexo ligamentar sindesmótico (composto pelos ligamentos tibiofibular anterior, interósseo, posterior, membrana interóssea e ligamento transverso inferior) que mantém a integridade e fornece resistência às forças axiais, rotacionais e translacionais existentes entre a tíbia e fíbula, evitando que estes dois ossos sejam separados. Em consequência disso, esse tipo de articulação possui mobilidade parcial.[2],[3],[4]

Adicionalmente a membrana interóssea fornece uma superfície adicional para fixação da musculatura e transposição de vasos, como os tibiais, que atravessam por uma abertura na membrana para entrar no compartimento anterior da perna.[4]

  • Tibiofibular anterior (LTFA): ligamento oblíquo e forte, localizado da região anterior da tíbia à parte distal da fíbula.
  • Tibiofibular posterior (LTFP): ligamento mais fraco, localizado na região posterior da tíbia à parte distal da fíbula.
  • Ligamento interósseo (LIO): trata-se de um espaçamento distal forte da membrana interóssea localizado da parte lateral da tíbia à parte medial da fíbula.
  • Ligamento transverso: responsável pela formação de uma forte conexão entre as extremidades distais da tíbia (maléolo medial) e fíbula (maléolo lateral), está localizado na parte inferior e profunda do ligamento tibiofibular posterior. [4],[5]
Figura 2: Jon C. Thompson, MD, Netter – Atlas de Anatomia Ortopédica Netter, 2ª ed.

As lesões que atingem a sindesmose são mais comuns nos esportes, em especial os de contato (a maioria dessas lesões ocorrem durante o contato com outro jogador, como no caso de LeBron James), esportes onde ocorrem colisões de alta velocidade e que promovem saltos e mudança de direção, características presentes no basquetebol e futebol, por exemplo. [6]

Na imagem 1 percebemos que a lesão ocorreu por eversão, quando o tornozelo rola para dentro e o pé para fora. Esse tipo de estresse pode provocar a fratura do maléolo medial por avulsão, ao invés de uma entorse do ligamento, devido à resistência do ligamento deltoide, além de comprimir o joelho lateralmente, e que pode culminar com a fratura da fíbula distal ou rompimento dos ligamentos sindesmóticos.  [7]

Nas entorses de tornozelo consideradas leves ou de 1º grau, ocorre o alongamento do ligamento sem ruptura macroscópica, a dor e o edema são mínimos, mas o tornozelo fica enfraquecido e propenso a nova lesão, para este tipo de lesão é recomendado tratamento conservador com imobilização.

Nas entorses de tornozelo consideradas moderadas a graves ou de 2º grau, ocorre ruptura ligamentar macroscópica parcial, o tornozelo costuma estar edemaciado e machucado; a marcha fica dolorosa e difícil. A cura leva dias a semanas, e pode impactar a performance do atleta durante as partidas.

E, nas entorses de tornozelo consideradas muito graves ou de 3º grau, ocorre uma ruptura ligamentar completa com edema importante, todo o tornozelo pode apresentar equimoses e hematomas. Há instabilidade no tornozelo e não pode sustentar o peso. Os nervos também podem ser danificados. A cartilagem articular pode estar rompida, resultando em dor a longo prazo, edema, instabilidade articular, artrite precoce e, ocasionalmente, anomalias na marcha. A cicatrização de entorses de tornozelo muito graves geralmente leva de 6 a 8 semanas. [1],[3],[8]

Ainda aguardamos novas informações a respeito da recuperação do atleta, mas todos os fãs do basquetebol, dos Lakers em especial, estão na torcida para que, independentemente do tipo da lesão, LeBron possa voltar às quadras o mais rápido possível, sem que ocorram limitações ou perda de sua performance.

Saiba mais sobre entorse de tornozelos acessando as publicações da Sanar e de seus colunistas: Entorses – Sanar Medicina, Entorse de tornozelo: o que você precisa saber | Colunistas – Sanar Medicina.

Colunista: Diogo Valvano de Medeiros

Instagram: vmedeirosdiogo

O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.


Referências

  1. Lesão de Lebron James o que é e tratamento da sindesmose do tornozelo, Globo Esporte.  Acesso em: 31/03/2021. Disponível em: <https://globoesporte.globo.com/eu-atleta/saude/post/2021/03/28/lesao-de-lebron-james-o-que-e-e-tratamento-da-sindesmose-do-tornozelo.ghtml>.
  2. Sindesmose Tibiofibular distal – correlação entre medição radiográfica e anatômica, Revista Brasileira de Ortopedia. Acesso em: 30/03/2021. Disponível em: <https://rbo.org.br/detalhes/473/pt-BR/sindesmose-tibiofibular-distal–correlacao-entre-medicao-radiografica-e-anatomica->.
  3. Kenneth JH, Phisitkul P, Pirolo J, Amendola A. High Ankle Sprains and Syndesmotic Injuries in Athletes. Journal AAOS, 661-673.
  4. MOORE, Keith L; DALLEY, Arthur F; AGUR, Anne M. Moore Anatomia Orientada para Clínica. 7ª ed. Editora Guanabara Koogan. 2014. Rio de Janeiro – RJ.
  5. THOMPSON, Jon C. Netter Atlas de Anatomia Ortopédica, 2ª ed. Editora Saunders Elsevier. 2012. São Paulo – SP.
  6. Hunt, Kenneth J. MD; Phisitkul, Phinit MD; Pirolo, Joseph MD; Amendola, Annunziato MD. Journal of the AAOS. High Ankle Sprains and syndesmotic injurues. A cesso em: 30/03/2021. Disponível em: <https://journals.lww.com/jaaos/fulltext/2015/11000/high_ankle_sprains_and_syndesmotic_injuries_in.3.aspx>.
  7. CAMPAGNE, Danielle, MD. University of San Francisco – Fresno. Entorses do tornozelo. Acesso em: 31/03/2021. Disponível em: <https://www.msdmanuals.com/pt-pt/profissional/les%C3%B5es-intoxica%C3%A7%C3%A3o/entorses-e-outras-les%C3%B5es-dos-tecidos-moles/entorses-do-tornozelo>.
  8. RENSTROM, Per A.F.H.; LYNCH, Scott A.. Lesões ligamentares do tornozelo. Rev Bras Med Esporte, Niterói, v. 5, n. 1, p. 13-23, Feb.  1999. Disponível em: . Acesso em:  01/04/2021.  https://doi.org/10.1590/S1517-86921999000100004.
  9. Sperctrum Sportnet. Acesso em 31/03/2021. Acesso em :<https://spectrumsportsnet.com/watch/video/7rkbYZBmKPfu>.