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A quarta dose da vacina contra Covid-19 já começou a ser aplicada no Brasil. O foco inicial deste reforço são as pessoas imunossuprimidas.
Além da quarta dose, outros assuntos importantes do cenário atual da pandemia são:
- liberação do autoteste
- a maioria dos casos da covid sendo causados pela variante Ômicron
- nova alta de casos detectados paralelo a uma diminuição no número de mortes pela doença.
Para entender mais sobre o cenário atual da pandemia, conversamos com o infectologista Álvaro Furtado Costa. Ele trabalha no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Fique por dentro dos principais pontos:
Quarta dose da vacina contra Covid-19
O Ministério da Saúde divulgou uma nota técnica sobre a quarta dose de vacina contra Covid-19. O público alvo são as pessoas imunossuprimidas com mais de 18 anos.
A dose de reforço é deve ser aplicada a partir de quatro meses após a última dose do esquema vacinal (duas doses + dose adicional). Nessa quarta dose será aplicada, preferencialmente, a vacina da Pfizer, de plataforma de RNA mensageiro.
Imunossuprimidos são pessoas com:
- imunodeficiência primária grave
- em quimioterapia para câncer
- transplantados (de órgão sólido ou de células tronco)
- fazem uso de drogas imunossupressoras
- diagnosticadas com HIV/Aids.
Com base no comunicado do Ministério da Saúde, a decisão da quarta dose é fruto de evidências científicas. É sinalizada uma tendência a redução da efetividade das vacinas contra a Covid-19 com o passar do tempo.
A dose de reforço amplifica a resposta imunológica do organismo. Oferecendo maior proteção, especialmente para a população imunossuprimida, que pode não apresentar uma resposta vacinal adequada.
Quarta dose da vacina contra covid e a opinião do infectologista
De acordo com o Dr. Álvaro Furtado, ao falar sobre quarta dose é preciso considerar que as primeiras tecnologias de vacina foram desenvolvidas no cenário de outras variantes.
“O cenário agora é o de circulação da variante Ômicron. Tem-se observado que existe realmente um escape para pessoas que têm esquema incompleto de vacinação e para grupos vulneráveis. O segundo caso inclui os imunossuprimidos e os profissionais de saúde”, explica Álvaro.
O infectologista reforça que as doses adicionais devem ser consideradas para populações mais expostas. “Isso é importante porque a gente está vendo uma transmissibilidade muito elevada. Tem muitos profissionais dos serviços de emergência que estão ficando doentes”, pontua.
“A imunidade pode cair com o tempo. Então essa quarta dose tem que ser considerada especificamente para populações com um risco de aquisição maior de uma variante tão transmissível como é a Ômicron”, acrescenta.
Para além da quarta dose: cen´´ario dos casos de Covid-19
De acordo com uma reportagem da CNN Brasil, até o dia 23 de janeiro, o Brasil já tinha registrado mais de 100 casos de Covid-19 causadas pela variante Ômicron. Os estados com mais casos são São Paulo, Distrito Federal, Rio Grande do Sul e Minas Gerais.
Nomeada com a letra grega Ômicron. A variante não tem apenas dezenas de mutações na proteína de espícula que fica no envelope viral quando comparada ao primeiro Sars-CoV-2, mas também em muitas proteínas menos famosas escritas no seu genoma de quase 30 mil letras.
Há dados indicando que a severidade da infecção pela nova variante é menor. Dessa forma, os infectados não precisam ser internados como antes. Mas também há informações que não mostram diferenças entre pacientes com Ômicron e com outras variantes.
O fato é que não há consenso. Isso se explica possivelmente pelos diferentes níveis de imunidade na população devido à vacinação.
Vale acrescentar que há evidências científicas que indicam que a ômicron tem maior probabilidade de infectar a garganta do que os pulmões. O que pode explicar por que parece ser uma variante mais infecciosa, mas talvez contribuindo para a incidência de mortes ser menor do que outras versões do vírus – hipóteses que ainda estão sendo estudadas com grandes grupos de pessoas.
“A gente vê que as taxas de internação estão predominantemente mais concentradas em pessoas que não foram completamente imunizadas”, afirma o infectologista.
Liberação do autoteste pela Anvisa
A diretoria da Anvisa aprovou hoje por unanimidade, o uso e comercialização no Brasil de autotestes para detecção de covid-19.
Com a aprovação, será permitida a venda de autotestes diretamente ao consumidor por farmácias e estabelecimentos de saúde licenciados para comercializar dispositivos médicos. Mas a comercialização não será imediata, isso porque as empresas ainda precisam registrar o produto na Anvisa.
“O autoteste existe para algumas doenças infecciosas. A gente usou muito e usa muito em pessoas dentro da epidemia do HIV. Com o objetivo de estimular as pessoas a se testarem. O autoteste deve ser uma ferramenta bastante orientada para população. No sentido de tomadas de decisões individuais, fora dos protocolos, mas com relação a confirmação”, explica Álvaro.
Segundo o infectologista, o autoteste é uma boa ferramenta complementar, mas tem que ser muito bem orientada. Tem que explicar para a população:
- como usa
- quando fazer
- qual a janela de oportunidade
- qual é a interpretação do teste
- o que fazer após o resultado
- se é preciso repetir
“A orientação é importante para que a autonomia não leve as pessoas a tomar decisões erradas. O autoteste precisa sempre de aconselhamento”, complementa.
O fim da pandemia da Covid-19 está próximo?
O cenário tem sido mais favorável para isso. E há uma expectativa melhor para isso acontecer, mas ainda é cedo para afirmar.
“Temos um cenário melhor da pandemia, mas também a gente não pode esquecer que a gente tem uma cobertura vacinal global heterogênea. Assim, como o SARS-CoV-2 que tem um grande potencial de mutação. Pode ter o surgimento de outras variantes em outros locais do mundo e essas variantes virem para os países com maior cobertura vacinal e colocarem em xeque o controle da pandemia”, contextualiza o infectologia.
O Dr. Álvaro Furtado ainda relembrou que já vivenciamos outros momentos de projeções sobre o fim da pandemia lá atrás. E fomos surpreendidos por novas variantes.
“A gente fez várias projeções em momentos de ondas de pandemia de covid e erramos em muitas previsões. É claro que agora a gente vê um fenômeno de um vírus diferente, mais transmissível, com a capacidade de causar doença grave um pouco menor, especialmente em vacinados”, conta Álvaro.
Sobre o cenário atual, o médico comenta que estamos tendo uma mistura de “imunidade natural” e um aumento da cobertura vacinal.
“A gente está vendo as pessoas pegarem a doença de uma forma mais rápida. Mais extensiva, com uma quantidade de pessoas muito maior do que em ondas anteriores”, comenta o médico sobre a “imunidade natural”.
Resumo do que se pode esperar deste cenário atual
“Existe uma expectativa melhor, para um cenário deste vírus um pouco mais enfraquecido, menos transmissível e o aumento da cobertura vacinal. Mas em contrapartida há a preocupação de uma taxa de imunização heterogênea nos países do mundo e a possibilidade de surgirem algumas variantes que podem ser desafiadoras. A probabilidade é menor, mas existe sim esse cenário para a gente se preocupar”, conclui o infectologista.
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Fontes: entrevista com o infectologista Álvaro Furtado, que é professor da Sanar Residência Médica. E reportagens da CNN Brasil, revista Exame e Veja Saúde.