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Confira um artigo completo que falamos sobre Acne e Erupções Acneiformes para esclarecer todas as suas dúvidas. Ao final, confira alguns materiais educativos para complementar ainda mais os seus estudos.
Boa leitura!
Acne e Erupções Acneiformes
A acne (ou acne vulgar) é uma doença multifatorial, inflamatória, imunomediada e crônica que afeta a unidade pilossebácea, composta por uma glândula sebácea bem desenvolvida, com um grande ducto e um pelo rudimentar.
Suas principais lesões são comedões, pápulas, pústulas e lesões nodulocísticas, que podem surgir durante a evolução e que, dependendo da intensidade do processo inflamatório, progridem estágios onde há o aparecimento de abscessos e cistos intercomunicantes, que frequentemente deixam cicatrizes na pele.
Epidemiologia
As lesões surgem geralmente na puberdade, quando se inicia a produção dos hormônios sexuais, com pico de prevalência entre 11 e 24 anos de idade. A doença acomete quase todos os jovens, de ambos os sexos. Em alguns, as lesões são mínimas, quase imperceptíveis, e assim permanecem durante toda a adolescência.
Em outros, as lesões tornam-se mais evidentes e polimorfas, de intensidade variável, comprometendo a qualidade de vida durante a adolescência e desencadeando ou agravando problemas emocionais que podem se tornar extremamente graves. Na ausência de tratamento adequado, a acne persiste, em geral, até o final da adolescência e, eventualmente, com lesões isoladas, pode se manter durante muitos anos.
As formas mais intensas de acne são mais comuns no sexo masculino, porém são mais persistentes no sexo feminino, o que é explicado pela alta frequência de distúrbios endócrinos, sobretudo a síndrome do ovário policístico (SOP). A fase de maior gravidade costuma ocorrer por volta dos 17 ou 18 anos no sexo feminino e dos 19 a 21 anos de idade no sexo masculino.
Em relação ao caráter genético, pode-se evidenciar maior índice de acne em determinadas famílias, além disso, estudos em gêmeos mostram a concomitância de acne nos univitelinos, o que não ocorre nos gêmeos bivitelinos.
Estima-se que, no Brasil, a acne atinja cerca de 11 milhões de pessoas. Apesar de ser uma dermatose típica da adolescência, indivíduos de ambos os sexos e de todas as idades podem apresentar algum grau de acne, inclusive recém-nascidos (acne neonatal), crianças (acne infantil ou pré-puberal) e adultos (principalmente mulheres jovens).
Aspecto relevante que tem sido destacado na literatura é o impacto psicossocial da doença em todas as faixas etárias, e que pode ou não ser diferente entre os gêneros.
Por afetar a aparência, influencia de forma significativa nas relações pessoais e profissionais levando a baixa autoestima, frustação, raiva, vergonha, sentimento de inutilidade, baixa satisfação com o corpo, ansiedade, depressão e até maior taxa de desemprego.
Acne e Erupções Acneiformes: Fisiopatogenia
A instalação de lesões acneicas nos folículos pilossebáceos é marcada por quatro eventos patogênicos fundamentais. O primeiro é caracterizado pelo aumento da secreção sebácea (seborreia) decorrente da hiperplasia das glândulas sebáceas.
O segundo é determinado por ceratose do canal folicular com consequente estreitamento e retenção de sebo (comedogênese). O terceiro evento é identificado por colonização do ducto sebáceo pelo Propionibacterium acnes. Por fim, é instaurado um processo inflamatório.
SE LIGA NO CONCEITO! Ceratose consiste no crescimento anormal dos queratinócitos, promovendo espessamento moderado ou excessivo da camada córnea.
A acne afeta preferencialmente as unidades pilossebáceas constituídas por glândula sebácea grande, multilobulada com pelo rudimentar e fraco que se localiza principalmente na face, no tórax e no dorso.
O processo se inicia com a hipersecreção de sebo (seborreia) por efeito hormonal. Ocorre uma resposta hipersecretória da glândula sebácea ao estímulo de hormônio androgênio circulante, por fatores genéticos e constitucionais. Essas glândulas apresentam várias enzimas, como a 5α-redutase, 3β e 17β-hidroxiesteroide desidrogenases, capazes de metabolizar androgênios.
Nas áreas da pele suscetíveis a acne, as glândulas sebáceas possuem níveis aumentados de α-redutase. Dessa forma, transformam a testosterona em di-hidrotestosterona (OHT), que é o hormônio ativo, em maior intensidade, promovendo, assim, a seborreia. É importante destacar que na maioria das vezes não há um excesso de androgênios circulantes. Em outras palavras, na maioria dos pacientes com acne não existem endocrinopatias subjacentes.
Pouco frequente, a seborreia está associada a síndromes marcadas por aumento dos androgênios circulantes, como ocorre na síndrome SAHA (acrônimo de seborreia, alopecia, hirsutismo, acne), em síndromes virilizantes, na síndrome de Cushing e como manifestação iatrogênica na terapia com hormônios androgênicos.
Essas endocrinopatias somente devem ser investigadas em situações especiais, como acne de início súbito e grave, acne resistente a terapêutica, recidivas rápidas após tratamentos adequados, sinais clínicos de hiperandrogenismo (irregularidades menstruais, hirsutismo e hipersecreção sebácea) e diante de apresentações clínicas incomuns, quantidade anormalmente elevada de comedões, intensa hipersecreção sebácea e acne de início tardio e localização perioral.
A comedogênese tem início com a retenção do sebo produzido pela glândula, em função da obliteração acroinfundibular por ceratose focal, formando-se assim o comedão. No início ocorre o microcomedão, invisível clinicamente, constituído por corneócitos (células queratinizadas) acumulados no infundíbulo.
O aumento contínuo dos corneócitos determina a formação do comedão fechado ou cravo branco, lesão esférica, similar ao milium, com um orifício central dificilmente visível. O acúmulo de corneócitos e sebo, por hipersecreção, ocasiona a formação do comedão aberto ou cravo preto, com cor escura na extremidade.
SE LIGA NO CONCEITO! Milium são pequeninas protuberâncias (cistos) em forma de cúpulas brancas ou amareladas encontradas sob a pele, geralmente de 1 a 2 mm de tamanho. Aparece com mais frequência no rosto, ao redor das pálpebras e bochechas. Pode ocorrer em pessoas de todas etnias ou idades, porém, são mais comuns em recém-nascidos.
Com a retenção de sebo, há multiplicação de microrganismos da superfície da pele. Sem dúvida, o principal é o difteroide anaeróbio gram-positivo propionibacterium acnes, que compõe metade do microbioma da pele. No entanto, outros microrganismos, como Staphylococcus epidermidis e Malassezia spp., tem sua proliferação aumentada.
O P. acnes produz lipases que atuam sobre os triglicerídeos que constituem o sebo produzido pelas glândulas sebáceas. Esse processo resulta na liberação de ácidos graxos livres, que possuem capacidade irritativa à parede folicular. A pressão do sebo acumulado pode romper o epitélio folicular, enquanto os ácidos graxos e a proliferação dos microrganismos atuam na derme circunjacente.
Assim, se inicia o processo inflamatório, com participação de linfócitos, neutrófilos, macrófagos e linfocinas. O P. acnes, na presença de linfócitos T CD4+, ativa os receptores Toll-like 2 dos monócitos e neutrófilos, provocando a liberação de mediadores pró-inflamatórios, como IL-8, IL-12, TNF, IL-1 β, prostaglandinas e leucotrienos.
Estudos mais recentes têm demonstrado a presença de inflamação previa à hiperceratose folicular. Essa inflamação é composta predominantemente por linfócitos T CD4+ e macrófagos em torno dos folículos pilosos nas áreas da pele suscetíveis à acne. Essas células liberam citocinas que configuram resposta Th1, interferon-ϒ e TNF-β. Admite-se que essa inflamação prévia às alterações do ducto folicular decorrem de estímulo antigênico oriundo do P. acnes quando a concentração no folículo alcança 107 bactérias.
Na parede dessas bactérias, existem carboidratos antigênicos que estimulam a produção de anticorpos e que também podem estimular a resposta imune celular. Portanto, há componentes imunológicos na patogenia da acne ligados a antígenos do P. acnes. Na porção superficial do folículo ainda habitam o Staphylococcus epidermidis e outros micrococos produtores de lipases, que contribuem para o agravamento do quadro.
Fatores emocionais também podem atuar como fatores desencadeantes ou agravantes da acne. Isso poderia ser explicado pela participação do neuropeptídio substância P na fisiopatologia da doença.
SE LIGA! De modo geral, a alimentação não tem influência na evolução da acne, embora exista o conceito entre os leigos, de que alguns alimentos agravariam a acne, como chocolate e alimentos gordurosos. Na verdade, faltam estudos controlados e randomizados para realmente se demonstre se há ou não influência da dieta sobre a acne.