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Resumo acne: o que preciso saber?

Resumo acne: o que preciso saber?

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Confira um resumo sobre acne para você conseguir dominar o assunto – epidemiologia, apresentação clínica, tratamento e mais!

A acne é uma doença genético-hormonal, autolimitada, de localização pilossebácea com formação de comedões, pápulas, pústulas e lesões nodulocísticas que podem surgir durante a evolução.

Dependendo da intensidade, o processo inflamatório leva à abcessos e cistos intercomunicantes, com frequente êxito cicatricial.

Resumo acne: epidemiologia

É uma patologia típica dos adolescentes, com elevada frequência (em alguns estudos acometendo 60% das mulheres e 70% dos homens na puberdade).

Em geral, é mais precoce e mais persistente (o que pode ser explicado pela alta frequência de distúrbios endócrinos, como a Síndrome dos Ovários Policísticos) nas meninas, porém mais intensas nos meninos. Em geral é autolimitada, resolvendo espontaneamente após os 20 anos.

É de distribuição universal e não parece poupar nenhuma raça, porém acomete mais a população caucasiana em comparação aos negros e amarelos. Descrita, por alguns altores, como a principal causa de consultas dermatológicas em consultórios particulares dos grandes centros urbanos.

Etiopatogenia

A fisiopatologia da doença está relacionada a quatro pilares fundamentais, a saber:

  1. Aumento da secreção sebácea, secundária à hiperplasia das glândulas sebáceas. Geralmente é a primeira etapa e ocorre por efeito de hormônios, como os andrógenos e os estrógenos;
  2. Ceratose do canal folicular com consequente obstrução e retenção do sebo (processo conhecido como comedogênese);
  3. Colonização bacteriana pelo Propionibacterium acnes (um difteroide anaeróbico Gram-positivo), propiciada pela obstrução e retenção do sebo;
  4. Inflamação, secundária ao processo infeccioso e a produção de moléculas pro-infamatórias como a Interleucina 1 (IL-1).

Não podemos esquecer também da importância de fatores ambientais e emocionais, que muitas vezes desencadeiam ou pioram a acne, o que pode ser explicado pela liberação do neuropeptídeo substância P.

Resumo acne: formas de apresentação clínica

É caracterizada por uma erupção polimorfa, contendo comedões (cravos), pápulas, pústulas e lesões nodulocísticas, com grau variável de inflamação e cicatrizes.

Dessa forma, temos a classificação da doença em:

Grau I (Acne Comedoniana)

Presença apenas da lesão comedônica (constituída essencialmente de sebo e queratina), não inflamatória. Há 4 tipos de comedões: microcomedões, comedões pretos ou brancos ( 1 a 3 mm de diâmetro) e macrocomedões.

Os primeiros não são percebidos clinicamente (só na patologia), os comedões pretos são abertos, com os poros dilatados e no seu ápice, apresentam a coloração escura devido à oxidação da melanina e lipídios na superfície.

Já os comedões brancos, por sua vez, os poros são pequenos, quase invisíveis e fechados.

Grau II (Acne Papulopustulosa)

Secundária ao processo inflamatório dos comedões.

Grau III (Acne Nodulocística)

Também ocorre pela inflamação dos comedões, só que de forma mais profunda. É a grande responsável pelo aparecimento das cicatrizes (que só ocorrem quando há destruição completa do folículo).

Grau IV (Acne Conglobata)

Forma grave, acometendo principalmente o sexo masculino, com formação de lesões císticas grandes, exuberante processo inflamatório, formando verdadeiros abcessos e fleimões que se intercomunicam por fístulas.

As lesões predominam no tronco e na face, mas também podem acometer outros locais.

Grau V (Acne Fulminans)

É a variação súbita e catastrófica da doença, marcada pela presença de manifestações sistêmicas como fadiga, febre, mal-estar, mialgia, artralgia, leucocitose, elevação da VHS com lesões bastante dolorosas que podem ulcerar.

Atualmente, o uso de isotretinoína oral é o principal fator desencadeante, principalmente quando utilizada em altas doses.

Legenda: formas clínicas de apresentação da acne vulgar.
        Fonte: AZULAY, Rubem David e AZULAY, David Rubem. Dermatologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.

Diagnóstico, Evolução e Prognóstico:

O diagnóstico é eminentemente clínico, pois a apresentação clínica apresenta características marcantes. Sendo uma doença crônica, apresenta períodos de acalmia e exarcebações. A cura espontânea em geral ocorre poucos anos depois.

O problema torna-se importante em virtude do aspecto psicológico, relevante em algumas pessoas, bem como pelo desenvolvimento de cicatrizes.

Tratamento

O tratamento é variado, levando-se em consideração diferentes aspectos como gênero, extensão e gravidade da doença. Porém, deve-se pautar no princípio de que deve ser múltipla, isto é, devem ser usados, ao mesmo tempo, técnicas e medicamentos que ajam nas várias etapas da patogenia da acne.

Acne grau I

Manejado com medicações tópicas, como sabonetes a base de enxofre ou ácido salicílico ou, preferencialmente, retinoides tópicos como gel de tretinoína ou isotretinoína 0,05% (lembrando de evitar a exposição solar, pois os retinoides deixam a pele altamente fotossensível).

Para os pacientes que não querem ou não podem evitar a exposição solar, pode-se utilizar o ácido azeláico 15% (também utilizado em gestantes, pela teratogenicidade dos retinoides). Em geral a melhora ocorre em 4 semanas.

Acne grau II

Em geral as medicações tópicas também são suficientes, como os retinoides ou também o peróxido de benzoíla 2,5-10% associados a um antibiótico tópico como eritromicina 2-4% ou clindamicina 1%, que podem ser encontrados combinados.

Em casos refratários, pode-se utilizar antibióticos sistêmicos como as tetraciclinas 500 mg 2 à 4 vezes ao dia. As lesões em geral melhoram com alguns meses de tratamento, mas pode ser necessário manter por período indeterminado.

Acne grau III, IV e V

Podem ser manejadas com antibióticos sistêmicos (tetraciclina, doxiciclina, eritromicina) associado a anticoncepcionais hormonais (nas mulheres) com ação antiandrogênica, como o citrato de ciproterona.

Porém, são as formas candidatas clássicas ao uso dos retinoides orais, a famosa Isotretinoína oral.

Nos quadros mais graves (como o grau IV e V), é recomendado associar um corticoide, como a prednisona 20mg/dia, para prevenir o efeito flare-up (exacerbação da doença pelo uso da isotretinoína). 

Um pouco mais de informação sobre a Isotretinoína

É a medicação que revolucionou o tratamento da acne. É o ácido 13-cis-retinoico, um derivado do ácido retinóico. 

Ela atua seletivamente na glândula sebácea, reduzindo a produção do sebo e estabilizando a queratinização folicular.

Pela via oral, deve ser usada na dose de 0,5-1,5 mg/kg/dia, por um período variado de 6-12 meses (ou pelo tempo que o médico dermatologista julgar necessário).

Efeitos colaterais

Apresenta como efeitos colaterais:

  • secura labial,
  • queilite,
  • eritema facial,
  • prurido,
  • mialgias,
  • hepatite,
  • hipercolesterolemia,
  • hipertrigliceridemia,
  • pioderma gangrenoso,
  • granuloma piogênico,
  • pitiríase rósea de Gilbert,
  • dentre outros.

Além disso, é uma medicação sabidamente teratogênica. Motivo pela qual é formalmente contra indicada na gestação ou em mulheres que desejam engravidar no momento.

É recomendado, pois, nas mulheres em idade fértil a utilização de alguma medica contraceptiva. Em geral, também é contraindicado em pacientes nefropatas e hepatopatas.

Autor: Rúther Pacheco, estudante de Medicina.

Instagram: @joseruther_

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Referências

  1. AZULAY, Rubem David e AZULAY, David Rubem. Dermatologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.
  2. SAMPAIO, Sebastião A. P.; CASTRO, Raimundo M.; RIVITTI, Evandro A. Dermatologia básica. 3. ed. São Paulo: Artes Médicas, 2008.