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As alucinações hipnagógicas são experiências perceptivas, associadas a fenômenos visuais, táteis e auditivos, que acontecem na transição entre a vigília e o sono, ou seja, ao adormecer. Já as alucinações hipnopômpicas são experiências similares, todavia, ocorrem na transição entre sono e vigília, isto é, ao despertar. Decorrem da persistência de experiências oníricas no início do sono ou após acordar. Ambas não são indicativas de nenhuma patologia, porém, podem fazer parte da síndrome narcoléptica ou em casos de paralisia do sono.
Essas alucinações podem causar confusão no indivíduo, pois é raro vivenciar e saber diferenciar o ilusório da realidade, são caracterizadas por imagens e sensações impactantes e/ou aterrorizantes, onde é incapaz distinguir o real. Essas experiências potencializam o medo e frequentemente interrompem o sono da pessoa. Associadas a outros fatores, como ansiedade e estresse, podem acarretar alucinações mais complexas e frequentes.
Na maioria dos casos, as alucinações são inofensivas e afastadas de sinais patológicos, contudo, se as experiências interromperem o sono e causarem ansiedade e medo, é essencial a procura de um profissional, como um psiquiatra ou especialista em sono, em busca de evitar casos mais graves e alcançar uma melhor qualidade de sono. A busca por profissionais também deve ser feita quando as alucinações forem acompanhadas por grande sonolência e cansaço, pois pode haver uma associação com a síndrome narcoléptica.
Causas das alucinações hipnagógicas e hipnopômpicas
As alucinações são consideradas fenômenos frequentes entre adolescentes e adultos, assim, podendo diminuir ao decorrer do envelhecimento. Essas experiências são mais prevalentes em mulheres.
Existem possíveis fatores e hábitos que contribuem para essas alucinações, como:
- Consumo de álcool ou drogas
- Insônia
- Ansiedade
- Estresse
- Narcolepsia
- Depressão
- Transtorno bipolar
- Epilepsia
Sinais e sintomas
A alucinação é a percepção sensorial vívida criada na própria mente em que são indistinguíveis das que têm origem no meio externo (a realidade). Tratando-se de alucinações hipnagógicas e hipnopômpicas, nossa mente se deparada com fenômenos e imagens que não têm significados ou propósitos. Quando o indivíduo se encontra sob grande estresse, pode sentir os seguintes sintomas auditivos:
- Zumbidos
- Ruídos agudos
- Ruídos aleatórios
- Pequenos estalos
- Ruídos pouco claros
Associação com a narcolepsia
Essas experiências oníricas que ocorrem nas transições vigília-sono ou sono-vigília, ocorrem em 20 a 65% dos narcolépticos. São geralmente visuais, somatossensoriais (sensação de estar “fora do corpo”), mas também são descritas formas auditivas, vestibulares ou multissensoriais, como se estivesse sonhando acordado. As alucinações podem acompanhar ou seguir os ataques de cataplexia, quando o indivíduo se encontra consciente porém, incapaz de se comunicar ou se movimentar. Essas alucinações ocorrem quando o indivíduo acredita estar acordado. A pessoa consegue ver, ouvir e sentir, mas não consegue se mexer. Por isso, as alucinações hipnagógicas estão muito relacionadas com a paralisia do sono. Alucinações hipnagógicas aterrorizantes ocorrem em cerca de 4 a 8% dos narcolépticos.
A síndrome narcoléptica é um transtorno neurodegenerativo crônico, cujo os sintomas principais são sonolência diurna excessiva (SE) e sintomatologia relacionada com o sono REM, como cataplexia, paralisia do sono, alucinações hipnagógicas/ hipnopômpicas e sono REM precoce. A narcolepsia afeta 25 e 50/100.000 pessoas, assim tendo um significativo impacto psicossocial. A consequência funcional da narcolepsia faz com que a relevância clínica exceda a magnitude da sua prevalência.
Tratamento das alucinações associadas com a narcolepsia
As alucinações hipnagógicas e hipnopômpicas por não serem indicativos patológicos, não possuem um tratamento direto e próprio, entretanto quando o indivíduo apresenta sofrimento psíquico devido a recorrência das alucinações ou quando existe associação com ansiedade, medo e depressão, a causa adjacente que pode ser responsável por esse fenômeno pode ser tratada, principalmente quando a causa das alucinações é a narcolepsia. Assim, quando associadas com a síndrome narcoléptica, algumas medidas comportamentais podem diminuir as alucinações com o tempo, como:
• manter horários regulares de sono e vigília.
• evitar álcool e sedativos.
• evitar o abuso e/ou abstinência de cafeína e chocolate.
• evitar privação de sono.
• abster-se de tabaco.
• evitar refeições ricas em carboidratos.
Se a causa adjacente constatada tiver associação com ansiedade e depressão, a probabilidade maior é a indicação de tratamento psiquiátrico, com a inclusão de conversas terapêuticas, medidas/tratamentos complementares, medicamentos e métodos colocados em prática para evitar o estresse.
Conclusão
Por fim, as alucinações hipnagógicas e hipnopômpicas são distúrbios com uma grande importância biopsicossocial, por alterar a qualidade de sono e estado emocional de um indivíduo, assim afetando diretamente o bem-estar da pessoa. Mesmo que a magnitude de sua predominância não esteja associada com patologias, a importância das associações com as manifestações clínicas, como narcolepsia, ansiedade e depressão, resultam em maior qualidade de vida! E, com a devida atenção profissional, as alucinações podem ser diminuídas com o tempo e tratamento.
O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.
Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.
Referências:
1.PINTO JUNIOR, Luciano Ribeiro. Os distúrbios do sono em neurologia Comportamentos anormais Parassônias. Grupo Editorial Moreira Jr., São Paulo, v. 5, n. 8, p. 594-567, nov. 2018.
2.ALÓE, Flávio. Diretrizes brasileiras para o diagnóstico da narcolepsia. Revista Brasileira de Psiquiatria, [S.L.], v. 32, n. 3, p. 254-304, set. 2010. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s1516-44462010000300016.
3.ALÓE, Flávio. Diretrizes brasileiras para o tratamento da narcolepsia. Revista Brasileira de Psiquiatria, [S.L.], v. 32, n. 3, p. 305-314, set. 2010. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s1516-44462010000300016.
4.HYPNAGOGIC HALLUCINATIONS. New York: Healthline, 2020.